terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O dia de folga de Matthew Broderick


Começou semana passada, quando caiu na rede um teaser de dez segundos de uma propaganda misteriosa (sinal dos tempos, propagandas agora têm teasers) de um produto não revelado. Matthew Broderick, à moda de seu personagem mais famoso, Ferris Bueller, abria a janela, deparava-se com o solzão lá fora e dizia “como posso trabalhar num dia desses?”. Acabava com o famoso “Bou Bou Tchk Tchk-Tch-Kah” da trilha sonora de Curtindo a Vida Adoidado.

Muitos fãs especularam que seria o possível anúncio de uma sequência. O projeto circula há anos por Hollywood. Uma dúzia de páginas do roteiro vazaram tempos atrás. A premissa era boa, foi bastante elogiado. Trariam o trio de amigos de volta, quarentões e fugindo do trabalho. Se feito corretamente, poderia ser épico. Mas a probabilidade maior, como sempre, é que maculasse um dos maiores clássicos da infância/adolescência de muita gente, como Hollywood tem feito com muitas coisas nos últimos anos. Melhor deixar como está.

Acabou que era só um comercial da Honda que iria homenagear o filme. Estrearia durante os famosos comerciais do SuperBowl – a final do campeonato de futebol americano e o horário publicitário mais caro e de maior audiência do mundo. Não aguentaram esperar. Aquele teaser realmente mexeu com a memória sentimental de meio mundo. Confesso que assisti aquilo umas cinco vezes. Liberaram ontem o vídeo de quase dois minutos e meio.

Sim, estão vendendo o carro. Feio pra caramba, por sinal. Se fosse uma Ferrari 250GT Califórnia 1961, faria mais sentido. Mas tudo bem, o personagem não é Ferris Bueller, é o ator Matthew Broderick matando um dia de filmagem pra curtir a vida adoidado junto de seu Honda feio pra burro.

Parece que será o mais perto que teremos de uma continuação. E é legal pra caralho. Todas as cenas memoráveis do filme estão lá, homenageadas de uma maneira ou de outra. E há inúmeros pequenos detalhes espalhados pelas cenas que só os mais detalhistas e obcecados vão pescar.

Assista abaixo:


Divertidão, não? Uma bela homenagem.

Em tempo, aproveite e leia aqui uma resenha minha do filme, escrita para o Delfos em 2007 como parte de um “especial Sessão da Tarde”. E lembre-se: a vida passa muito rápido, se você não parar pra aproveitar de vez em quando, ela passa e você nem percebe.

Oh yeah, Bou Bou Tchk Tchk-Tch-Kah!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A janela do inferno fica no terceiro andar


Essa porra dessa janela deve estar emperrada. Não fecha nunca, faça chuva ou faça sol. Nem com uma invasão de gafanhotos os desgraçados fecham a janela. Vizinho não se escolhe, você apenas se segura para não assassiná-los.

O apartamento do casal deve ter 2 metros de profundidade, só assim para explicar eles estarem sempre, em qualquer momento, na frente da janela. Já conheci quitinetes mais aconchegantes. Talvez estejam tentando fugir dos berros do filho/filha pequeno (a). Não defino gênero porque ainda não sei que diabos é aquilo. Nunca vi a criatura. Diferente dos pais, ela nunca frequenta a janela. Vai ver é adotada. Vai ver ainda não alcança. Dela só ouço a voz, pulmões de aço, grita o dia inteiro. Quando está feliz, quando está triste, quando está com fome e quando quer ver televisão. Voz andrógina, indecifrável.

O casal tem uma TV de tela plana, 42 polegadas, pelos meus cálculos. Mas eles nunca assistem. Gostam mesmo é de ouvir música. A TV fica sempre ligada no canal de música da TV a cabo. O último refúgio dos preguiçosos e daqueles sem gosto musical, deixar o canal selecionar o que você vai ouvir. O mundo era melhor quando não existia essa opção.

Eles não têm bom gosto musical, largam em qualquer canal de pop adulto, contemporâneo ou saudosista, tanto faz. Gostam de ouvir alto. Eu já mencionei que a TV fica próxima à janela?

O som invade meu ambiente, principalmente à noite, especialmente quando estou tentando dormir. Contando carneirinhos e a porra da TV cantando na minha orelha:

Na madrugada, a vitrola rolando um blues, tocando BB King sem parar.

Isso não é cantiga de ninar, é a declamação da senha para o inferno. O homem ri alto, é uma das risadas mais antipáticas que já ouvi na vida. Ele a repete de quinze em quinze minutos. O cara se diverte a valer. Eu só quero enfiar a mão na goela dele e arrancar suas cordas vocais com meus próprios dedos nus. Vizinhos...

A madrugada avança e a vitrola rolando o tal do blues, trocando de biquíni sem parar.

“Aaaahhhh, vai, filho da puta!”

É a mulher. Eu não mencionei que eles gostam de trepar em frente à janela aberta? Falha minha.

Nossa! Uuuuhhh”. Ela é escandalosa. O cara parece muito bem saber quais botões apertar. Não é erótico. Eles transam ao som de Jorge Vercilo. A meu ver, qualquer um que faça sexo com uma trilha sonora dessas está cometendo um atentado violento contra um dos melhores atos da vida. Esse tipo de gente devia ser proibida de gozar.

“Aaaahhhh, caralho!”

Acho que ela gozou. Quem sabe agora não bate o sono pós-coito e eles vão dormir? Nada. Falta o cigarro de depois da transa. Só ela fuma, ele gosta de dar risada. Tapinha nas próprias costas por mais uma comida bem dada. Vizinhos...

Na madrugada, a vitrola rolando um blues, tocando Jorge Vercilo sem parar.


Comprei um rifle no mercado negro, conheço um cara em lugares baixos. Me fez um desconto bacana quando contei para o que era. Rifle de precisão, mira telescópica. Não sei usar essas merdas, mas o cara falou que é só mirar e atirar, não tem segredo.

Da janela do meu banheiro dá para apontar o negócio escondidinho e ainda pegando toda a janela deles. Deixo minha luz apagada. Estão lá na frente, ela fuma, ele ri. Gargalha. Parece que hoje vai ter. Vai, filho da puta. A TV toca uma música do mestre, o original. Vai, Djavan, nossa!

Quero mandar os dois pro inferno, mas aquele apartamento já parece ser uma versão terrena dele. Será que dá pra piorar? Existe algum Jorge Vercilo cover? Não é problema meu. O meu problema é que na madrugada, a vitrola rolando um blues, tocando BB King sem parar. Sem parar. Sem parar!

Faço uni-duni-tê, o escolhido foi você, homem. Miro na testa. Ele gargalha de alguma coisa. Vai rindo. Puxo o gatilho e o estampido ecoa pela janela. Depois ela. Vai, filha da puta, nooossa. Foi bom pra você? Vizinhos...

Só sobrou a TV. Com aquela vitrola rolando um blues na madrugada. Até que não é uma música tão ruim assim.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Wilco e o Popeye

Novo clipe do Wilco, para a música Dawned on Me, de seu mais recente disco, o bom The Whole Love, do ano passado.

O Wilco encontra o Popeye e sua turma, num clipe entre o saudosista e o fofinho. Um dos mais bacanas dos últimos tempos.

Destaque para a abertura, com a música tema do marinheiro ao estilo Scott Pilgrim. Confira abaixo.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Preenchendo espaços


Começou em 2008. Lá no final, no Natal, especificamente. Casa dos parentes no interior, calor escaldante, abafado. Opressor. Tradição de família. Alguém não estava presente, nunca mais estaria. A pessoa mais importante do clã, a que unia cada um de seus integrantes. Deixou-nos no começo daquele 2008. E parafraseando Forrest Gump: “isso é tudo que tenho a dizer sobre isso”.

Depressão, melancolia, solidão. De repente a casa tinha muitos quartos vazios. De repente eu tinha um diploma recente de jornalismo na mão e nada a fazer com ele. Faltava uma pessoa. Faltavam-me perspectivas. Faltava era vontade.

Engraçado como minha situação naquela virada de ano era muito parecida com a do protagonista d’O Rabo do Cachorro. Estava solteiro, desempregado e sem dinheiro. Eu só não tinha 30 anos. E talvez, no meu caso, valha uma pequena liberdade criativa. Trocar o “sem dinheiro” por “sem objetivo”.

Não me sentia nem um pouco festivo naquele Natal. Queria cavar um buraco e me enterrar. Parecia um adolescente temperamental. No meu tempo de moleque ainda não existiam emos... Briguei com a família. Nem lembro por que, uma besteira qualquer, provavelmente. Chester ao invés de peru.

Discussão num supermercado. Comprando as coisas da ceia. Nunca havia me sentido tão baixo, e eu já havia descido fundo algumas vezes. A frase veio. Instantânea, num estalar de dedos, já lapidada e finalizada. Pronta para abrir um livro. Um romance de estreia. Eu queria morar em uma cidade fantasma. Esse era meu estado de espírito natalino. Era meu estado de espírito durante todo aquele 2008.

Assim que voltamos pra casa dos parentes, anotei a frase num pedaço de papel e guardei na carteira. O Natal chegou a fórceps e foi embora. Voltei pra casa. A grande cidade cinza. Novo ano começando do jeitinho que o velho terminara. Sofá, televisão, existência mínima. O papel ficou na carteira.

O bom das mães é que não importa a idade que os filhos tenham, elas vão puxar suas orelhas até tomar prumo (ou arrancá-las fora). A minha me deu um chute (figurado) no traseiro. Ultimato. Faça. Alguma coisa. Qualquer coisa. Viva. Ou não volte mais. Escolhi fazer, mais por medo que por vontade própria. Não importam os meios, mas sim a finalidade atingida. Essa frase não seria um clichê se não fosse verdade. A bunda ainda doendo da botinada serviu para colocar o resto do corpo em movimento. Tirei o papel da carteira e coloquei do lado do computador.

Dias depois recebo um e-mail. Um velho amigo. Ele tinha 30 anos. Estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. E havia escrito um romance... Queria que eu lesse. Que lhe dissesse depois o que achei. Mandou o arquivo e lá estava. Bem na minha frente. A prova de que era possível. Não apenas um sonho inalcançável. Eis alguém que eu conhecia há oito anos e havia quebrado a barreira. Não era só um nome numa capa. Era alguém que eu conhecia, um cara normal, apenas mais determinado. Que mostrou a possibilidade. O caminho.

Liguei o computador. Passei aquela frase no pedaço de papel para o editor de texto. E depois dela fui tirando outras da cabeça. Colocando uma atrás da outra. Até encher parágrafos. Páginas. Pouco mais de uma centena delas. Até colocar o ponto final. Ainda não tinha 30 anos. Ainda estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. Mas havia encontrado um objetivo. E talvez o mais importante: não queria mais morar em uma cidade fantasma.

Determinados fatos e suas ordens corretas costumam se misturar em minha cabeça. Portanto, a sucessão dos acontecimentos pode não ter se desenrolado exatamente conforme o descrito aqui. Mas o importante, o teor, esse é 100% preciso. E às pessoas que figuraram nesse texto e nesse período difícil, àqueles que contribuíram para me tirar do meio da nuvem da apatia, ainda que não estejam citadas nominalmente ou mesmo de forma clara, elas sabem quem são. Obrigado.

Vocês sabem no que isso deu. Se valeu a pena? Não é a questão. Está feito. Esse era o objetivo. Fazer alguma coisa. Fiz. Continuo fazendo mais algumas coisas como essa, mesmo todos esses anos depois. Acho que isso responde se valeu a pena ou não.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Capangas Contratados – Episódio 8

Estou com uma puta ressaca, então serei ainda mais breve que o costumeiro.

Souza às vezes é uma figura assustadora. Tenha medo de suas histórias. Muito medo!

E o novato começa a botar as manguinhas de fora... Chega, né?

Leia aqui o Episódio 8: Medo e Delírio na Tocaia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sobre bêbados, seus ânus e o direito à propriedade


- Véio, acelera aí que eu preciso dar uma mijada!
- Tô acelerando, porra!
- Acho melhor eu dirigir.
- Tu tá bêbado!
- Cê também.
 
- Mas tu não tem idade pra dirigir. Cadê a carteira de motorista? Mostra aí.
- Véio, a gente tem a mesma idade.
- Mas o carro é meu, caralho!
- Para aí que eu preciso mijar.
- Faz pela janela.
- Tá bom.
...
- Cara, tô muito louco.
- Quantas cê tomou?
- Sei lá, perdi as contas depois da quinta.
- Cerveja?
- Tequila.
- Véio, tem um mendigo ali. Vamo zoar ele!
- Como?
- Vou tacar essa garrafa na cabeça dele.
- Pode crer!
- Como é que abre a janela mesmo?
- Aperta o botão aí na porta.
- Vai mais devagar... Porra, errei. Acelera, acelera!
...
- Cara, que cheiro é esse aqui no carro?
- Sei lá, véio...
...
- Ô, cuidado aí.
- Calaboca que eu sei o que tô fazendo.
- Tá meio perto da guia.
- Aqui a coisa é pró!... Que barulho foi esse?
- Cê subiu em cima da guia.
- Pega nada.
- E ralou o carro no poste.

... 
- Puta que pariu, meu pai vai me matar! 
- Puta ralada, hein? Tirou toda a tinta. 
- Meu pai vai me matar. Quando ele descobrir que peguei o carro e ainda fodi essa merda, ele vai me dar um tiro na cara!
- Quer voltar pra casa?
- Foda-se, agora já era, vamo continuar. Tem mais cerveja aí?
- Tem, mas já tá quente.
- Não tem problema.
...
- Aí, cara, olha aquelas puta ali.
- Quê que tem?
- Vamo catar uma.
- Sério? Vamo aí.
- Qual que tu quer?
- Tira o pé aí pra nós poder ver direito.
- Cara, olha aquela lá.
- Qual?
- Como qual, porra, aquela com os peitão de fora. Puta gostosa!
- Peraí...
- Que foi? Se falar que não gostou, tu deve ser viado!
- Não é isso não. É que eu acho que não é mulher não, véio.
- Que não é mulher o quê?!
- Eu acho que é traveco.
- Tá viajando.
- Tem cara de traveco.
- Mas os peitão!
- Silicone.
- Silicone é o cu da tua mãe. Traveco não tem umas curva dessa não.
- E mulher não tem gogó. Sem falar naquele outro negócio.
- Que outro negócio?
- Cê tá mal mesmo...
- Cara, tu vai querer pegar ou não?
- Tô fora, véio.
- Então desce e volta a pé. Eu vou comer.
- Problema teu. Eu te avisei.
- Vai tomar no teu cu.
- Tantas piadas...
- Quê?
- Nada, amanhã me conta como é que foi...
 
- Pó deixar. Enquanto tu fica na bronha, eu vou mandar brasa naquele rabo.
- Acho que não é o rabo dela que vai arder.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Bruce Campbell é o cara!


Taí uma afirmação categórica. Uma que vinha tomando forma desde que assisti Evil Dead pela primeira vez uns dez anos atrás (é, nem faz tanto tempo assim). E foi ganhando força a cada novo exemplar da trilogia. Pois Bruce Campbell é o Ash, o melhor matador de demônios a dar as caras no cinema. O homem que tem uma serra elétrica no lugar da mão, que manda uma frase de efeito atrás da outra e que é dono de um humor físico/pastelão inacreditável de tão perfeito.

Não deu outra, graças a seu carisma natural e toneladas de sangue falso derramado, virou ícone cult. Virou também um estigmatizado. Ator de filmes B. Produções trash de horror ou ficção científica. Orçamento irrisório, efeitos especiais risíveis, péssimos atores, roteiro sem pé nem cabeça, direção medíocre. Já deu pra ter uma ideia.

De vez em quando aparecia numa produção de respeito. Primeiro escalão, diretor famoso, orçamento inflado e grandes nomes no elenco. Você provavelmente não o viu porque deve ter piscado. Virou uma espécie de regra: Bruce Campbell no mainstream de Hollywood só em papéis minúsculos.

Rei mesmo só nos filmes B. Sem problema. Como protagonista de um filme independente tão ruim que chega a ser difícil de assistir ou numa ponta de cinco minutos da última comédia hollywoodiana, continuou sendo cool. Sua simpatia ultrapassa a qualidade de sua obra.

Eis que Bruce se lança como escritor e aquela afirmação categórica lá do começo é reenfatizada como nunca antes. Ele é o cara.

Acabei de ler recentemente seus dois livros e foi uma grande e agradável surpresa descobrir um escritor talentoso e que não deixa de ser um reflexo de sua persona de ator. Grande senso de humor, sabe rir de si mesmo. E, sobretudo, sabe conquistar sua atenção. Parece ser o tipo de cara com quem adoraria trocar uma ideia. E que sem dúvida contaria as melhores histórias.
                               
     
Li primeiro sua autobiografia, com o mais que apropriado título de If Chins Could Kill: Confessions of a B Movie Actor (Se Queixos Pudessem Matar: Confissões de um Ator de Filmes B). Bruce já subverte o gênero simplesmente pelo fato de não ser famoso fora das rodinhas de fanáticos pelo cinema de terror. Sua vida, já explica logo no texto da contracapa, não possui nenhum acontecimento espetacular. E essa é a graça. É a história real de um cara real que nunca chegou realmente lá, mas está bem longe de estar na pior.

É a história de um operário do cinema, alguém que está às margens, onde o glamour e os grandes cachês não chegam. Sobretudo, é alguém que se diverte fazendo o que faz. O mais surpreendente nesse livro é a honestidade absurda com que Campbell encara os rumos de sua carreira. Sem um pingo de rancor ou ressentimento pelo papel que lhe coube na indústria. É a visão de alguém que possui plena consciência de seu tamanho e lugar no escopo geral das coisas.

Um dos melhores trechos é o capítulo em que conta como quase conseguiu o papel do Fantasma no filme de 1996. Bruce via aquela como sua grande chance de ruptura. De chegar ao estrelato e passar de uma vez por todas para o primeiro escalão, o dos grandes astros. Mesmo antes das adaptações de HQs serem uma moda lucrativa, era um personagem conhecido, uma superprodução hollywoodiana com potencial para virar franquia. Campbell se desdobrou e se esforçou como nunca. Fez testes atrás de testes e até quebrou o protocolo ao ir atrás da atriz com quem ia fazer o teste de câmera só para poder ensaiar direto com ela.

No final, a disputa ficou entre ele e Billy Zane. Perdeu para Zane. O resto você sabe: o filme foi um fracasso, Billy Zane nunca estourou e Bruce continuou relegado às produções de quinta categoria. E não tenho dúvidas, O Fantasma seria bem melhor com ele no papel.

No entanto, ele conta em seu livro, a partir dessa derrota tinha duas escolhas: continuar tentando, tendo de se submeter aos caprichos da indústria (plástica para remover sua famosa cicatriz no queixo, bronzeamentos artificiais, horas e horas em academias) ou aceitar a derrota e seguir em frente com sua vida, estrelando seus filminhos marginais de qualidade pra lá de duvidosa. Optou pela segunda. E em nenhum momento transparece qualquer derrotismo ou inveja em seu texto. Seria muito fácil taxar como papo de perdedor ressabiado. Mas você acredita no que ele escreve, que ele realmente optou pela opção saudável sem qualquer arrependimento.

Por essa e outras histórias, como os deliciosos contos da produção independente e mambembe do primeiro Evil Dead, vale a leitura para qualquer fã de cinema e de cultura pop.
   
Impossível não querer ler um livro com uma capa dessas!
Essa semana terminei de ler seu segundo livro, uma empreitada ainda mais ambiciosa. Trata-se de seu primeiro romance: Make Love! The Bruce Campbell Way (Faça Amor! Ao Modo de Bruce Campbell), o qual mergulha de cabeça na metalinguagem (algo que ele já havia ensaiado em seu filme My Name Is Bruce) e usa e abusa de todos os elementos consagrados de sua autobiografia. Bruce é macaco velho, e claramente acredita na máxima de não mexer em time que está ganhando. Mais uma vez, quem ganha é o leitor.

Na história, Bruce Campbell finalmente recebe sua grande chance de passar para o primeiro escalão hollywoodiano ao ser contratado pelo diretor Mike Nichols (A Primeira Noite de um Homem, Closer – Perto Demais) para um papel coadjuvante na comédia romântica Let’s Make Love!, protagonizada por Richard Gere e Renée Zellweger.

Seu personagem é Foyl, o porteiro do prédio do personagem de Richard Gere, que age como seu guru em assuntos românticos. Fala-se que pode render uma indicação ao Oscar de coadjuvante e Bruce acaba conseguindo o emprego porque Nichols é fã de cinema independente, não importa a qualidade.

Com uma chance de ouro nas mãos, Bruce não pretende desperdiçá-la e se empenha como nunca antes. Faz laboratório (passa um dia como porteiro num hotel de luxo e acaba virando uma ameaça à segurança nacional), procura especialistas em relacionamentos e se mete em confusões das mais variadas espécies.

No entanto, a coisa fica boa quando, à medida que a produção do longa vai se desenrolando, todos à sua volta, do diretor aos astros, parecem pegar o “vírus do filme B”. Lentamente, o que era para ser uma simples comédia romântica hollywoodiana vai ficando cada vez mais parecido com um típico filme de Bruce Campbell.

Há passagens hilárias, como o ensaio com Richard Gere. E há a constatação de que o Campbell escritor não possui nenhum pudor em explorar de maneira comicamente autodepreciativa sua imagem, despindo-a de qualquer vaidade, como qualquer bom ator deveria fazer.

O esquema hollywoodiano é demolido com suas críticas e observações bem humoradas. Mas ninguém é mais detonado no romance do que o próprio Bruce Campbell, mesmo que seja uma versão fictícia. É admirável alguém ter esse nível de conforto com sua vida e carreira para saber rir de si mesmo. E então rir um pouco mais.

São duas leituras pra lá de recomendadas que dificilmente ganharão tradução brasileira, mas que vale mais do que a pena ir atrás. Quem é fã do cara, vai se surpreender com essa nova e insuspeita faceta. Quem não é, aposto que vai ficar depois da leitura.

Em tempo: Bruce finalmente parece ter conseguido um emprego firme e estável, fazendo parte do elenco fixo do seriado Burn Notice, que vai para sua sexta temporada. O ruim é que a rotina puxada de gravações impede que ele escreva um novo livro. Não tem problema, em telas grandes ou pequenas ou nas páginas de seus livros, Bruce confirma mais uma vez aquilo que já se sabia: ele é o cara. Hail to the king, baby!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capangas Contratados – Episódio 7

A continuação do episódio anterior. Esse aqui é ação pura do início ao fim. Nada como um bom e velho tiroteio para dar uma animada nas coisas, não?

Aviso ao leitor: voa tanto chumbo nesse capítulo que é melhor ler abaixado atrás da mesa pra não correr o risco de levar uma bala perdida. Ou isso ou arranje um colete à prova de balas. Depois não diga que não avisei.

Leia aqui o Episódio 7: Falta Chumbo no Seu Sangue.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Até santos se aposentam


Em 1999, o moleque de 16 anos (prestes a fazer 17) ficou colado à TV no jogo das quartas de final da Libertadores. Clássico contra o maior rival, eles ganham o jogo, mas a decisão vai para os pênaltis. O moleque quase tem um ataque cardíaco de tanta tensão. Sua avó até fica preocupada. Mas o moleque era sadio naqueles tempos, se exercitava, não fumava nem bebia. O coração aguentou e o alívio imediato chega quando a cobrança de Vampeta é defendida. O camisa 12 alviverde é instantaneamente canonizado.

O moleque não ficou tão eufórico assim nem com o tetra do Brasil. Nova ameaça de ataque cardíaco, agora de alegria. Dessa vez ninguém se preocupou. E, no ano seguinte, a história se repetiria, que o diga Marcelinho Carioca. Novo milagre de quem já era santo.

Copa do Mundo de 2002. Felipão colocou Marcos debaixo das traves, era seu homem de confiança. Ele não decepcionou. Oliver quem? Kahn como melhor jogador do campeonato é brincadeira, quando não foi sequer o melhor goleiro do torneio. Você sabe quem foi.

Mas nem com reza brava foi possível evitar a queda do Palmeiras para a segundona. E no mesmo ano do penta. O Arsenal queria levar Marcão embora. Boa grana e futebol de ponta. Ele resolveu ficar para trazer o time de volta ao seu devido lugar. Conseguiu já no ano seguinte.

Ficou e nunca saiu. Se quebrou todo e continuou. Quando todos falavam aquele monte manjado de frases ensaiadas chapa branca, ele abria a boca e dizia o que pensava. Sem travas. Queria ganhar sim, e daí? Com aqueles times de pangarés que foram se sucedendo nos anos seguintes não dava! Ele estava mentindo? Claro que não.

Um mísero campeonato paulista. Estadual não conta, é café com leite. E Marcão lutando contra o corpo estropiado porque queria se despedir dando à torcida (e, claro, a si mesmo) algo mais relevante. Não deu. Futebol não depende só de goleiros consagrados.

Resolveu parar, pendurar as luvas. Cansou. O corpo já não aguenta e a paciência deve ter se esgotado. Não dá para culpá-lo. Time que tem Luan como titular acaba com os brios de qualquer um.

Fim de uma era. Figura para entrar na história do clube, um dos últimos representantes de uma raça em extinção, aquele que joga por amor ao clube, cuja identidade se mescla com ele.

Marcos tem cabeça, vai conseguir se dar bem na vida de aposentado. Já o “Parmera”... prevejo tempos difíceis à frente. Qual a novidade, certo?

Uma coisa é certa: sensação como a daquela Libertadores, de que um coração jovem e saudável poderia arrebentar a qualquer momento, isso nunca mais. Porque não há mais Marcão entre os postes para provocá-la. O moleque de 16 anos se compadece pelo camarada de 29.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Hoje é sexta-feira 13

Para homenagear tão singela data, nada melhor que prestar tributo àquele que é o seu maior representante: Jason Voorhees, astro da cinessérie Sexta-Feira 13.

O vídeo abaixo é uma geral na vida e obra deste tão querido assassino cinematográfico, apresentando uma compilação de todas as mortes dos filmes da série (incluindo Freddy vs. Jason, mas deixando de fora o remake de 2009). Claro, 95% delas obra do assassino da máscara de hóquei que aterroriza Crystal Lake desde 1980.
 
Dê um play e desfrute da “trasheira”!
 
 
Após assistir ao vídeo de pouco menos de 10 minutos só com as partes boas, quer dizer então que tive de ver cerca de 24 horas de tosqueira (eu fiz uma rápida estimativa) para poder ter esses grandes momentos eternizados em meu córtex? Sacanagem. Ah, a quem estou enganando, eu gosto!
 
Momento “rememorar é preciso”: assisti o primeiro filme da série, veja só, numa sexta-feira 13. Me lembro até hoje, estava na casa dos meus bisavós, churrascão bombando madrugada adentro, e o negócio passou no Corujão. Bons tempos...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Espião Que Sabia Demais


Baseado em romance de John Le Carré e com um elenco de respeito, com nomes como Gary Oldman, Mark Strong, John Hurt, Toby Jones, Colin Firth, Tom Hardy e Benedict Cumberbatch, o filme de espionagem está sendo indicado a um monte de prêmios na Inglaterra e muita gente já o considera uma das apostas para o Oscar. 

Grande coisa! Quer saber o que eu achei (e já vou adiantando, eu não indicaria isso a prêmio algum)? 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Capangas Contratados – Episódio 6

Não cheguei nem a um quarto da publicação e já estou ficando sem piadinhas infames para fazer aqui e promover a Sitcom.

Vou lá pensar num material novo e quarta que vem volto com alguma coisa engraçada. Ou não...

Enquanto isso, leia aqui o Episódio 6: Ninguém Escapa da Inquisição Espanhola.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Numa sexta-feira (em uma terça)

Apareceram na internet quatro das músicas mais antigas do Radiohead. As canções saíram de uma fita demo de 1986, quando a banda ainda se chamava On a Friday (porque era o dia que eles ensaiavam) e o guitarrista Jonny Greenwood ainda não estava na formação.

Já há ecos do que viria a ser o Radiohead ali, como o clima melancólico e a voz emocional de Thom Yorke. Mas também há algumas esquisitices, como o sax cafona em Girl (In the Purple Dress) e Everybody Knows.

Contudo, são as mais agitadas Fat Girl e Fragile Friend que chamam a atenção e fazem lembrar que um dia a banda já fez músicas mais ensolaradas, mas parece que esse repertório se esgotou logo após o lançamento de Pablo Honey. Depois, só sobraram as deprês. Nenhum problema com isso, apenas uma constatação.





sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Os melhores filmes de 2011: Um adendo



Tive a ideia para esse post após ler os comentários dos delfonautas durante essa semana na minha matéria dos melhores filmes de 2011 (que você pode ler aqui) publicada segunda-feira no Delfos. Muitos dos filmes citados por eles (seja como melhor, pior ou decepção) quase entraram na minha seleção oficial.

Toda vez que faço a seleção anual, escrevo uma pré-lista e depois vou eliminando através de critérios subjetivos até restarem somente os cinco melhores, uma decepção e um pior. Afinal, essas são as regras da matéria.

No entanto, agora posso usar o espaço desse blog para ir um pouco além. Decidi, só por diversão, revelar aqui os filmes que fizeram parte da tal pré-lista, os que quase chegaram lá, mas acabaram cortados no meio do caminho. E veja só: não é que deu mais uma lista inteira? Incluindo decepção e pior do ano.

Como na matéria delfiana, vou comentando cada um deles. E vou tentar explicar por que não chegaram à seleção final. Contudo, diferente da lista oficial, nessa os candidatos a melhores não estão em nenhuma ordem definida. Vamos lá:

Esses quase foram parar na lista dos melhores:

 
- O Preço do Amanhã (In Time – EUA – 2011)

Esse filme eu admito que nem ia assistir no cinema. Mas acabei mudando de ideia por dois fatores: a resenha do Carlos Eduardo Corrales enchendo a bola da película me convenceu a dar uma chance a ela. E, quando, na mesma resenha, li que o diretor era Andrew Niccol, do fodão Gattaca – Experiência Genética. Talvez tenha ido com a expectativa muito alta graças à crítica e à possibilidade de ver um novo Gattaca (a história é bastante similar), mas não me empolguei tanto como meu xará. É um bom filme e valeu a pena ter assistido, mas, só para ficar na comparação com Gattaca, este aqui perde feio.


 
- Contra o Tempo (Source Code – EUA/França – 2011)

Dirigido pelo filho do David Bowie, este filme tem uma história bacana, prende a atenção, é bem arquitetado e possui excelentes momentos. É uma boa ficção científica. Tinha todos os elementos para entrar na minha lista, mas faltou alguma coisa. Sabe aquele “tchan” quase indefinível que diferencia um bom filme (o que ele é) de um ótimo filme (um que fica na sua cabeça por bastante tempo, e este não fica)? Pois é, foi isso que faltou aqui.

 
 
- Super 8 (idem – EUA – 2011)

De todos os eliminados, este foi o que esteve mais perto de entrar para a minha lista. Filme com jeito de Sessão da Tarde (uma espécie em extinção) com um bom grupo de atores mirins e estilão “Spielberg das antigas”. O fato de ter um E.T. na história também ajuda nessa sensação, fora o próprio Spielberg ser o produtor. Foi uma das surpresas positivas do ano, ainda que esteja longe de ser perfeito. Se fosse um Top 6, tinha entrado.


 
- Pânico 4 (Scream 4 – EUA – 2011)

Outra surpresa positiva. Essa sequência temporã da cinessérie tinha tudo pra ser uma bobagem, e, surpreendentemente, provou-se o melhor filme de Wes Craven em muito tempo. Divertido como seus antecessores (achei até melhor que o 3), é um filme digno. Mas sejamos francos, isso não é filme de entrar em lista de melhores do ano. Preteri-o por Sobrenatural, que também é de terror, também me surpreendeu agradavelmente e eu gostei mais.


 
- 127 Horas (127 Hours – EUA/Reino Unido – 2010)

Dirigido por Danny Boyle (de quem eu gosto muito) e baseado numa história real que eu já conhecia, é um filme tenso (pela trama) e difícil de realizar. Praticamente uma única locação e um ator durante quase toda a projeção, é fácil se perder com tão pouco. Mas o diretor segurou com pulso firme (James Franco também ajuda com ótima atuação) e o resultado é mais que competente. Contudo, esse é o tipo de filme que nunca me vem à cabeça na hora da retrospectiva. Simplesmente não é o meu gênero favorito. Eu não falei que os critérios eram subjetivos?

Esse aqui concorreu como decepção:

 
- Lanterna Verde (Green Lantern – EUA – 2011)

Como fã do personagem, este era um dos filmes pelos quais estava mais ansioso para assistir em 2011. Acreditava piamente que, se feito corretamente, tinha tudo para virar uma franquia do naipe de um Star Wars. Vejamos: uma galeria de personagens marcantes, uma arma tão bacana quanto um sabre-de-luz (e que inclusive pode criar sabres-de-luz), mundos exóticos. Tudo isso com a possibilidade de aventuras espaciais ou na própria Terra, o que é uma vantagem a mais. Dá pra imaginar como ficaria um arco como A Guerra dos Anéis (Sinestro Corps War) no cinema? Pois é, mas aí resolveram fazer só o feijão com arroz sem qualquer pingo de inspiração...

Graças aos dois meses de atraso da distribuidora no lançamento (porque não havia salas 3D suficientes), acabei lendo muitas resenhas e, quando finalmente pude ver o filme, já sabia que “meia-boca” era o máximo de elogio que tinha conseguido. Por isso a decepção não foi tão grande quanto a que tive com Sucker Punch.

Pra terminar, esse aqui quase entrou como o pior:

 
- O Turista (The Tourist – EUA/França – 2010)

Isso aqui não é filme, é insulto ao expectador. Colocar dois dos astros do momento em belas paisagens italianas com um fiapo de história batida pra caramba não o torna instantaneamente um bom produto. Agora vá convencer os produtores disso! Praticamente filmaram as férias de Johnny Depp e Angelina Jolie e tentaram vender como produto de entretenimento. Fala sério!

No fim, acabei optando por Não Tenha Medo do Escuro porque era mais débil mental e mais recente, estaria mais fresco na cabeça para escrever a respeito.