sexta-feira, 29 de junho de 2012

Discografia Nirvana – Parte final


Leia também:

Nesta última parte da Discografia Nirvana, só discos póstumos. Temos coletâneas, disco ao vivo, coletânea ao vivo e compilações de raridades. Todos os álbuns, incluindo os da primeira parte da matéria (à exceção de Icon e da caixa With the Lights Out) foram lançados no Brasil, e a maioria deles ainda está em catálogo.

 

 From the Muddy Banks of the Wishkah (1996)

Tenho um carinho especial por este disco, uma coletânea de faixas ao vivo, registradas entre 1989 e 1994, pois foi o primeiro disco da banda que ouvi. E chapei completamente, já a partir da abertura, numa introdução com Cobain fazendo um singelo teste de som berrando ao microfone. Sem sombra de dúvida, foi um dos álbuns que eu mais ouvi na vida. E, por um ano, eu o escutava quase todo dia. Os principais clássicos da banda estão aqui, num tracklist que passa muito bem por todos os seus discos. Sendo assim, temos todos os sucessos acrescidos da energia e selvageria que marcaram suas apresentações ao vivo. Indispensável.

Nota: 10


Nirvana (2002)

A primeira coletânea da banda teve como grande atrativo a inclusão de You Know You’re Right, uma das últimas faixas inéditas da banda divulgadas. A música é boa, mas não é marcante. Já a coletânea em si é o básico do básico, com faixas dos três discos de estúdio, mais duas de Incesticide e encerrando com outras do Acústico MTV. Contudo, Bleach foi praticamente ignorado, representado apenas por About a Girl. Para quem quer conhecer a banda, até que serve como introdução à introdução, mas para quem quiser uma coletânea de responsa, eu recomendo mesmo é o From the Muddy Banks of the Wishkah.

Nota:


With the Lights Out (2004)

Este box set de raridades, mostra que o baú de sobras da banda não é tão fundo assim. Entre faixas ao vivo e lados b já conhecidos, o grosso do material dividido em três discos é formado por demos, muitas delas caseiras, só voz e violão. É interessante para quem gosta de saber como nasce uma canção, mas por outro lado, a esmagadora maioria delas não tem muita qualidade de gravação ou mesmo capricho técnico, afinal, são demos. O ponto alto da caixa é mesmo o DVD que acompanha, com muitas imagens raras da banda, desde o trio em começo de carreira, até a passagem pelo Brasil, com eles tocando uma música nos estúdios da BMG no Rio de Janeiro. Mas a caixa em si, é recomendável apenas para fãs completistas.

Nota: 6


Sliver: The Best of the Box (2005)

Para quem não tem poder aquisitivo para comprar a caixa With the Lights Out, mas gostaria de ter um gostinho do material contido nela, foi lançada essa coletânea com “o melhor da caixa”. São 22 faixas que dão uma geral nos três discos de material do box set. Boa iniciativa para deixar as raridades acessíveis à maior parcela de público possível, mas sofre dos mesmos problemas já mencionados logo acima. Também é um produto indicado somente para os muito fanáticos.

Nota: 6


Live at Reading (2009)

Um dos shows mais marcantes da banda, no Reading Festival, em agosto de 1992, com o Nirvana no auge do sucesso de Nevermind, chega em disco (e também em DVD) com registro na íntegra. Banda afiada, muito barulho, excelente setlist, privilegiando, claro, seu segundo disco (com a presença de onze faixas), e mesmo com In Utero sendo lançado apenas no ano seguinte, tourette’s, All Apologies e Dumb já dão as caras. Outro excelente álbum ao vivo.

Nota: 9


Icon (2010)

Coletânea mais recente, é de uma pobreza extrema. Enquanto a compilação anterior, Nirvana, tinha 15 faixas, esta tem apenas 11, todas elas já presentes no disco da capa preta. A única diferença é que a versão de About a Girl aqui é a acústica e não a de Bleach. Um best of totalmente desleixado e desnecessário, quando o anterior tem mais músicas e ainda está em catálogo (ao menos lá fora). Mas eu insisto, se é para escolher uma coletânea, a grande pedida é From the Muddy Banks!

Nota: 4

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Era do Gelo 4


Já não sou um grande apreciador de longas de animação. A série A Era do Gelo então, sempre considerei simpática, mas totalmente esquecível. Este quarto filme é o primeiro sem Carlos Saldanha na direção, mas manteve o nível de qualidade dos anteriores, para o bem ou para o mal. Divertidinho, mas nada marcante.

Na dublagem original, um grande elenco: Ray Romano, Denis Leary, John Leguizamo, Aziz Ansari, Peter Dinklage, Nick Frost, Queen Latifah, Jennifer Lopez, Nicki Minaj, Kunal Nayyar, Simon Pegg, Seann William Scott, Patrick Stewart, Wanda Sykes e Alan Tudyk. Mas como assisti ao filme dublado em português, não escutei nenhuma dessas vozes...

Leia aqui minha resenha no Delfos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Vida e Obra de um Ninguém – Episódio 3


Este episódio é uma singela homenagem a dois dos meus militares favoritos da cultura pop: o sargento Pincel, dos Trapalhões, e o instrutor da primeira metade do Nascido para Matar, um dos meus filmes favoritos do Kubrick.

O engraçado é que a ideia para essa história me veio justamente do manual do exército citado no final do capítulo (relaxe, não é nenhum spoiler), que não só existe mesmo, como de fato ensina como cavar uma trincheira. Você sabe, um buraco grande o bastante para você se esconder por inteiro e não levar bala. Literatura de primeira. Tanto o manual quanto a Sitcom!

Leia aqui o Episódio 3 – Recruta Zero.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Se Chaves fosse feito hoje


— Cara, cê já pensou se o Chaves fosse feito hoje?
— Como assim?
— Se ao invés de ter sido filmado em mil novecentos e guaraná com rolha ele fosse filmado hoje em dia.
— Não dá.
— Como não?
— Já morreu metade, e a outra metade já tá tudo velha.
— Cê me entendeu, se eles tivessem a mesma idade daquela época.
— Mesmo assim não ia dar.
— E cê vai dar argumentos ou vai continuar falando gracinha?
— Antigamente era tudo mais inocente, hoje é tudo mais na cara, mais hardcore.
— Dá um exemplo.
— Vamo lá: a Chiquinha sai de casa, atravessa o pátio e bate no barril do Chaves. Ele se levanta, mas não é possível ver suas mãos.
— Por que não?
— Já chego lá. Lembra que ela queria namorar com o Chaves, né?
— Lembro.
— Então: ela já ia chegar querendo ficar com ele, perguntando na lata.
— Isso não ia ser tão ruim assim.
— É que cê não sabe a resposta dele. Ele ia dizer que não podia no momento porque tava pipando. Aí ele levanta a mão, revelando um cachimbo de crack e dando uma tragada.
Isso foi grotesco.
— Eu não disse que ia ser bonito, só tô explicando como ia ser.
— Vou fingir que acredito. E o Quico.
— Boyzinho, com terninho de marinheiro, no meio dos marginais? Ia rodar bonito. O Chaves ia ameaçar ele com uma faca e roubar o celular dele pra descolar uma garrafa de tequila, aquela com verme dentro, pra esquentar aquele barril de noite.
— Pra começar, ele não mora no barril, mora no 8. E de onde cê tirou esse celular?
— Ué, a ideia não era o negócio ser filmado hoje? Até minha sobrinha de dez anos tem celular! Ela vai ligar pra quem, pros Ursinhos Carinhosos?
— E o Quico?
— Ia chorar na parede. Mas depois a mãe dele dava uma grana pra ele comprar outro telefone.
— E aí o Chaves roubava de novo...
— Agora cê sacou o círculo vicioso. E por falar na mãe do Quico, se ela estapeasse o Seu Madruga, sabe o que ele ia fazer?
— Descer a porrada na Dona Florinda?
— Que nada, esse aí é esperto, é dos nossos, ia terceirizar o serviço. Contratava o Chaves pra dar cabo da velha a troco de umas pedrinhas de crack e um sanduíche de presunto.
— E aí ele fumava as pedras, comia o sanduíche, pulava a janela da Dona Florinda e...
— E que eu não quero nem imaginar. Só sei que ia pular de volta pro pátio com as mãos todas sujas de sangue. Aí olhava pra câmera e soltava um “foi sem querer querendo”.
— Pra que parar na Dona Florinda? Já que é assim, a primeira vez que o Sr. Barriga aparecesse pra cobrar os 14 meses de aluguel, o Madrugão botava o Chaves em ação de novo.
— É o que eu tô te dizendo. O velho barrigão ia levar uma daquelas tijoladas clássicas na cabeça, manja? Com o retângulo de isopor pintado? E mais outra, e outra, e outra. Ia ser uma chacina. Ia sair levado pela Cruz Vermelha, “morrido”.
— E o Chaves?
— Ah, ele ia chorar, claro. Soltava aqueles “pi-pi-pi-pi-pi” dele, mas fazia o serviço.
— Cê tá acabando com as minhas memórias de infância.
— Foi você que perguntou. Aguenta aí que já tá acabando.
— Ah, tem final?
— Claro que tem. Acaba na sala de aula do Professor Girafales. O maestro linguiça lá, nem aí, trocando torpedo de sacanagem com a nêga que ele catar depois da finada Dona Florinda e a sala aquela algazarra.
— Tirando o celular, até que também não é tão diferente assim.
— Nessas entra os PMs, ou seja lá o que eles tenham em Acapulco.
— O programa não se passa em Acapulco.
— Foda-se, vai ficar se apegando a detalhes?
— E o que é que cê tá fazendo até agora?
— Cacete, quer saber como acaba ou não?!
— Quero, fala de uma vez.
— Eles invadem a sala já algemando o Chaves do 8. Rodou, moleque, e o escambau.
— Matou um ricaço, se fodeu, é isso?
— E não? Aí os PMs lá, arrastando ele pro camburão, ele olha pra câmera de novo e fala “é que comigo ninguém tem paciência...”.
— Até que amarrou direitinho.
— É, só que se fosse assim não ia durar trinta anos, ia durar um mês!
— Tem razão...
— No quê?
— Eu devia ter ficado quieto.
— Então por que pergunta?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Discografia Nirvana – Parte I


Após um período dedicado aos quadrinhos, a discografia está de volta, agora para analisar a obra do Nirvana, mais um dos representantes do meu Top 5 de bandas favoritas de todos os tempos, ocupando a honrosa terceira posição. Foi uma das bandas da minha adolescência, ainda que eles já não existissem mais quando eu era adolescente. Mas isso só vem a comprovar a força de sua música, relevante até hoje.

O trio formado em 1987 na cidadezinha de Aberdeen, Washington por Kurt Cobain (vocais e guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Chad Channing (bateria), mais tarde substituído por um tal de Dave Grohl, começou como uma típica banda alternativa de garagem, misturando punk, hardocre, hard rock e pop em músicas diretas, barulhentas e, no entanto, bastante melódicas.

Não demorou para a banda se tornar a maior representante do chamado movimento grunge, nascido na região de Seattle no começo dos anos 1990 e, com seu segundo álbum, Nevermind, ultrapassar a barreira independente e atingir o mainstream, mudando para sempre o panorama da música pop mundial. Se aqueles cabeludos esfarrapados podiam ser populares e vender milhões de discos, mantendo sua integridade artística, qualquer um poderia fazer o mesmo.


Bleach (1989)

O primeiro disco da banda, gravado por míticos 600 dólares emprestados pelo guitarrista Jason Everman, que, por sua vez, não tocou uma nota no álbum. Como era de se imaginar, falta requinte à produção e o som do grupo ainda está bastante cru. E, comparado a Dave Grohl, o baterista original, Chad Channing, que toca nesse disco, é praticamente um aprendiz. Contudo, muitas das marcas registradas da banda, a fusão de punk, alternativo e pop, já aparece bem representada em faixas como Blew, About a Girl, School, Negative Creep, Downer e na cover de Love Buzz. Contudo, as outras faixas são apenas regulares. É um disco que merece ser redescoberto.

Nota:


Nevermind (1991)

O que falar desse disco que milhares de veículos de jornalismo musical e fãs já não tenham falado ao longo desses 21 anos? Comentar a importância desse disco para a cena rock dos anos 90 e comentar seu status como um dos últimos grandes trabalhos do gênero é chover no molhado. Ao invés disso é só conferir o tracklist do disco e constatar: é basicamente um greatest hits. Das 12 faixas, apenas Lounge Act não ganhou exposição. O que também não quer dizer nada, porque a faixa em questão, assim como todas as outras, também é muito boa. Eis aqui um álbum verdadeiramente merecedor da alcunha conquistada: clássico.

Nota: 10


Incesticide (1992)

Coletânea de lados b e sobras de gravação, lançada na esteira do estouro de Nevermind. Tem faixas tipicamente nirvânicas, como Dive, Been a Son e Aneurysm, uma das melhores da banda (Sliver) e covers dos Vaselines (Molly’s Lips e Son of a Gun), uma das bandas favoritas de Kurt Cobain. E tem também coisas mais chatas e arrastadas, como Hairspray Queen, Big Long Now e Aero Zeppelin, que mostra a banda nos primórdios, ainda em busca de um direcionamento musical melhor. Não é um disco essencial, mas é cheio de bons momentos.

Nota:


In Utero (1993)

Por mais clássico e importante que seja Nevermind, devo admitir que várias vezes gosto muito mais de seu sucessor. Isso porque ele pega a fórmula do alternativo pop de seu antecessor e a leva um passo além, explorando os limites do comercialmente viável, testando a paciência do grande público com muita distorção e microfonias, em canções mais difíceis, como se quisesse afugentar os fãs de ocasião e manter apenas os verdadeiros. Só sei que uma das minhas favoritas, Scentless Apprentice, está aqui. E nem a chata faixa bônus Gallons of Rubbing Alcohol Flow Through the Strip é capaz de arranhar o brilho do último disco de estúdio do então trio. Despedida em grande estilo.

Nota: 9,5


MTV Unplugged in New York (1994)

Poucos meses antes de Kurt Cobain se matar, a banda gravou este acústico para a MTV (também lançado em DVD). Muitos consideravam que seria um tiro no pé o grupo conhecido pela fúria e pelo peso despir-se da eletricidade. O resultado, contudo, é um dos melhores acústicos da história, com o agora quarteto (com a adição do guitarrista Pat Smear) mostrando e ressaltando toda a melodia que ficava soterrada pelos pedais de distorção. Um setlist muito bem escolhido, privilegiando as faixas mais adaptáveis ao formato, junto de várias covers, culminando no encerramento arrepiante, com Where Did You Sleep Last Night, de Leadbelly. Mais um grande disco.

Nota: 10 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A festinha acaba quando o anfitrião apaga


“Tô pensando em fazer uma festinha, como nos velhos tempos.”
“Tá apoiado.”
“Vou chamar uns camaradas...”
“Retiro o apoio, e a mulherada?”
“A mulherada os camaradas trazem, cada um traz umas três e tá de boa.”
“E cabe toda essa galera aqui?”
“Claro que cabe, é só rearranjar os móveis, jogar esse sofá pra lá, botar a pickup aqui.”
“Pickup?”
“É, a festinha vai ser profissa, vou contratar um DJ, alugar equipamento de som de qualidade.”
“Então vai ser festão.”
“Não, festinha, pouca gente, os casados podem vir, mas é pros solteiros se arranjarem.”
“Aí sim, mas tá faltando uma coisa...”
“Fala aí.”
“Se a festinha vai ser aqui, não é melhor ver aí com o dono da casa se ele libera?”
“Claro que libera, vai ser coisa pequena, umas trinta pessoas, ouvindo um som, trocando uma ideia, pega nada.”
“E o DJ bombando.”
“Isso aí, e nada dessas música mela-cueca que cês escutam, o negócio vai ser pra dançar, tipo uns funk!”
“Funk carioca?”
“Não, tá louco?! Funk do bom, do clássico, com F maiúsculo. FUNK!”
“Ah, tá, pensei que era funk.”
“Não, é FUNK!”
“Então tá, mas o lugar já tá liberado?”
“Claro que tá, pega nada, o cara é brother.”
“O brother tá dormindo com a cerveja na mão.”
“Puta, apagou, já? São nem quatro e meia...”
“É a idade.”
“Vai derrubar essa cerveja aí.”
“Nada, daqui a pouco ele acorda e mata o resto.”
“Mas na festinha nada de dormir, se não deixa todo mundo bodeado.”
“A festinha acaba quando o anfitrião apaga.”
“Então vamo falar pra ele dormir bem na véspera.”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Vida e Obra de um Ninguém – Episódio 2


A segunda parte do episódio duplo de estreia da Sitcom, concluindo a aventura de João Damião em busca de riqueza na Serra Pelada. Sem querer ser um chato que dá spoiler, mas só pelo nome da série acho que você já deve fazer uma boa ideia de como essa história acaba...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O novo Rock bunda-mole


Originalmente, comecei a escrever o texto em questão aqui para o blog. Fazia tempo que queria falar sobre meu desencanto com a atual cena do rock mundial, cheia de grupos coxinhas inofensivos e hypes fugazes. Quando terminei, no entanto, percebi que ele acabou se tornando uma sequência involuntária deste texto aqui, o qual inaugurou minha coluna sem periodicidade definida no Delfos já tantos anos atrás.

Sendo assim, enviei-o a seu lugar de direito, como mais um número da minha coluna, há um bom tempo inativa. Comparado com aquele primeiro texto, é triste constatar como alguns anos e dezenas de bandas meia-boca são suficientes para acabar com qualquer traço de otimismo de um fã de música.

Por sorte, tivemos ótimas décadas passadas com bandas de qualidade, capazes de sustentar plenamente a safra praticamente inexistente dos anos 2000. O futuro nunca esteve tanto no passado.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Causa & (D)Efeito – A estreia


O primeiro episódio da nova Sitcom Literária de Jean Di Barros já se encontra no site da Toró Na Cuca. Prepare-se para conhecer mais uma galera desocupada com um talento especial para analisar cada pormenor, por mais insignificante que seja, de seus relacionamentos.

Para quem gosta de narrativas construídas inteiramente a partir de diálogos, Causa & (D)Efeito é um prato cheio.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Biografando um ninguém


O primeiro episódio de Vida e Obra de um Ninguém foi ao ar ontem no site da Toró Na Cuca. Vou então aproveitar a oportunidade para contar um pouco das origens desta nova Sitcom Literária.

Originalmente eu queria que fosse um romance. Havia encerrado uma série de romances que, embora até tivessem algum humor (geralmente cínico, negro e/ou autodepreciativo), eram, no geral, sérios e com temáticas mais pesadas. Ou seja, depois de uma sequência de histórias sisudas, estava pronto para uma bem-vinda mudança de ares. Queria escrever uma comédia pura e simples. Achava que enveredar por um livro humorístico seria uma experiência mais leve e até relaxante.

No entanto, não cheguei a colocar nenhuma palavra no papel. Não conseguia encontrar o ângulo correto para moldar aquelas ideias iniciais em um livro coerente. Tinha muitas situações na cabeça, mas não conseguia pensar na forma ideal de dar liga a elas. Cansado de patinar e nunca sair do lugar, acabei colocando a ideia na gaveta e parti para outras coisas.

Um bom tempo depois, quando ficou decidido que eu e Jean Di Barros escreveríamos mais uma Sitcom Literária cada, dessa vez mais curta, para dar merecidas férias às nossas séries titulares e manter o site da Toró abastecido de conteúdo, me vi em busca de ideias para o meu seriado. Pensando no que faria, veio o estalo. Claro, aquela história que eu tanto queria transformar em livro e acabei não conseguindo se encaixaria muito bem no formato episódico das Sitcoms.

Depois que a lâmpada da “obviedade antes não percebida” se acendeu sobre minha cabeça, escrevi os 13 episódios da temporada em cerca de duas semanas e ainda sobraram muitas coisas que acabaram não sendo utilizadas, mas que também renderiam bons episódios.

A fonte de inspiração para a trama é o meu pai. Temos uma relação estranha e distante, para dizer o mínimo, mas, parafraseando Forrest Gump, isso é tudo que tenho a dizer sobre isso. Contudo, por menos afinidade ou contato que tenha com ele, uma coisa é certa: o velho tem umas histórias de vida muito loucas. Histórias que eu ouvi durante períodos os mais variados de minha vida e das mais diferentes fontes: testemunhas oculares, pessoas próximas, e também direto do protagonista. Algumas ainda, eu tive a sorte (ou não) de presenciar. Outras, contudo, inventei descaradamente para dar liga entre os pontos que eu desconheço ou simplesmente para dar uma vitaminada na narrativa.

Mas acredite em mim, as situações mais absurdas e com a maior cara de história de pescador geralmente tendem a ser verdade e o que parece mais banal e corriqueiro costuma ser ficção. Eis aí um bom exercício para se praticar durante a leitura, tentar adivinhar o que é verdade e o que é invencionice.

Jean “Borges” Di Barros, que costuma sempre ler em primeira mão tudo que escrevo, ficou preocupado que meu pai fosse “pegar mal” com a forma como aspectos de sua vida e personalidade foram representados no papel. Eu respondi (e espero) que não. Primeiro porque ele é um excluído digital que dificilmente saberá que a série existe (lembre-se: relação estranha e distante). E depois porque dizem que a sátira é uma forma de lisonja.

Relendo os episódios recentemente para propósitos de revisão, fiquei realmente orgulhoso com o resultado final e não havia nada ali que eu mudaria (fato raro comigo quando volto a reler meu próprio material depois de algum tempo). Também não acho que tenha retratado sua versão fictícia de forma pejorativa, embora em certos momentos ele se aproveite de algumas situações para dar vazão a um lado sacana. Comédia é assim, às vezes leva a um exagero pedido pelo momento. É coisa de situação. E, no fim das contas, mesmo sendo “semibiográfico”, ainda é primariamente ficção.

Pelas próximas 13 semanas, espero que as histórias fantásticas da vida e obra desse ilustre ninguém sejam tão divertidas de ler quanto foram para escrever. E se, porventura elas levarem aos tradicionais 15 minutos de fama, melhor ainda. Se não, também não tem problema, o ninguém continuará na mesma, mas ainda com muita história pra contar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Vida e Obra de um Ninguém – A estreia


Já está no ar o episódio de estreia de minha nova Sitcom Literária, Vida e Obra de um Ninguém. É a primeira parte de um episódio duplo que apresenta o protagonista João Damião em grande estilo.

É também uma de minhas histórias favoritas e, não à toa, a primeira que me veio à cabeça quando comecei a pensar nesse projeto. Já sabia que a série começaria exatamente desse jeito, ainda que todo o resto estivesse meio nebuloso na fase de concepção.

Por hoje já falei demais, amanhã conto mais algumas histórias de bastidores.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Os Novos 52 – Parte Final


Leia também:

Na última parte da matéria sobre o reboot da DC, o último pacote de lançamentos é analisado. É nele que está a maior surpresa positiva destes Novos 52, bem como o pior título do Homem de Aço. O resto, como você já deve ter percebido nas partes anteriores, é só ruindade. 

Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.



All-Star Western #1

A revista é estrelada por Jonah Hex e se passa na Gotham City do século XIX, deixando o caçador de recompensas acostumado ao oeste selvagem como um peixe fora d’água na metrópole. Taí uma revista da qual já não me lembro mais nada a respeito, o que diz muito sobre sua qualidade, embora admita que Jonah Hex e suas histórias de faroeste também estão longe da minha preferência. A arte de Moritat é mais uma que passa a impressão de desleixo por causa de pressa.

Devo acompanhar? Não.


Aquaman #1

Essa é a grande surpresa do reboot, colocando os dois grandes astros atuais da editora, o roteirista Geoff Johns e o desenhista brazuca Ivan Reis no título do Aquaman pra ver se finalmente ele estoura ou se prova impossível de fazer sucesso. Até agora tem sido muito divertido e essa edição número 1 é simplesmente a melhor e mais engraçada das 52. Já falei muito sobre o Aquaman e seu novo título nesse texto aqui. É a única revista (junto do Lanterna Verde) que me deixa ansioso pela próxima edição. Indispensável.

Devo acompanhar? Acredite, deve.


Batman: The Dark Knight #1

Se Batman and Robin é o melhor título do Homem-Morcego, este aqui é, sem dúvida, o pior. A trama é ridiculamente parecida com as de Batman e Detective Comics, ou seja, são praticamente três revistas iguais, mas essa é a mais mal escrita. O que seria seu grande trunfo, a arte detalhada de David Finch, sai pela culatra por sofrer do “mal da pressa” que acomete tantos outros títulos desse projeto. Isso aqui só serve para provar que quatro revistas do Batman são um exagero.

Devo acompanhar? Não.


Blackhawks #1 (Falcões Negros)

Antes, os Falcões Negros eram um esquadrão de pilotos da 2ª Guerra Mundial. Agora, são uma equipe contemporânea de soldados altamente treinados, em aventuras que parecem uma mistura de Thunderbirds com Missão: Impossível, só que sem toda a diversão... Os esboços são de Graham Nolan, um dos meus artistas favoritos nos anos 90, quando ele desenhava o Batman. Aqui, não há nem sinal da arte da qual eu tanto gostava. Dureza. A saber, esta é mais uma das revistas que já foram canceladas lá fora.

Devo acompanhar? Não perca seu tempo.


The Flash #1

Eu gostava do Flash quando ele era Wally West. Não entendo porque Barry Allen precisou voltar se toda uma legião de fãs cresceu com Wally. Pra piorar, de certa forma ele é o responsável pelo reboot, já que foi uma saga sua (Ponto de Ignição) que deu a largada nessa reformulação. Ou seja, não consigo mais ler as histórias do personagem sem ficar com um pé atrás. Enfim, seu novo título é um dos poucos que tem a arte verdadeiramente caprichada, cortesia de Francis Manapul, embora o novo design do uniforme, cheio de riscos, seja horroroso. A história, contudo, ainda não disse a que veio. Mas nos últimos anos as histórias do Flash sempre mantiveram um bom nível de qualidade, com uma ou outra exceção. Mesmo com meu pé atrás com Barry Allen, estou disposto a lhe dar uma chance.

Devo acompanhar? Pelo menos esse primeiro arco.


The Fury of Firestorm #1 (Nuclear)

A nova revista do Nuclear utiliza Ronnie Raymond e Jason Rusch, que compunham no Nuclear em sua encarnação pré-reboot, mas agora os transforma em dois Nucleares separados que quando unidos viram um Nuclearzão do mal, ou algo do gênero. Mais uma grande besteira com muita enrolação e nenhum pingo de diversão. Ethan Van Sciver é coargumentista, mas deveria mesmo é cuidar da arte desse negócio (a cargo de um tal de Yildiray Cinar) pra ver se conseguia ter ao menos algo de bom nesse bagulho.
 
Devo acompanhar? Esqueça.


Green Lantern: New Guardians #1

Essa foi outra surpresa positiva para mim, visto que Kyle Rayner é meu Lanterna Verde favorito e, como você deve ter percebido, ele é o protagonista dessa revista. Primeiro o personagem ganha uma desnecessária atualização em sua origem, com apenas alguns pequenos detalhes alterados. Depois a trama principal começa, com anéis das outras tropas do espectro emocional rumando para a Terra atrás de Kyle, informando que ele é o escolhido. Os donos dos anéis vão atrás para tomar satisfação e a revista acaba antes de dar uma boa ideia de como será a trama, assim como acontece em várias outras edições. Mas, você sabe, eu gosto do personagem, estou disposto a ver onde isso vai dar.

Devo acompanhar? Sim.


I, Vampire #1

Outra boa surpresa do pacote. Com os vampiros em alta novamente graças a esses Crepúsculos da vida, a DC resolveu capitalizar na tendência com um título dos Novos 52. Mas o climão aqui não é de romance adolescente, mas sim do bom e velho terror, na história de um vampiro que caça outros de sua raça. Por enquanto, pelos fatos já apresentados, parece ser à parte do resto da cronologia do universo DC. E é mais uma das poucas belamente desenhadas. Aqui, Andrea Sorrentino emula o traço fino de Mike Mignola.

Devo acompanhar? Sim.


Justice League Dark #1

Eu já falei na minha análise de Demon Knights que odeio personagens místicos/mágicos e histórias envolvendo magia e misticismo barato. Isso se aplicava lá e se aplica aqui também, com essa versão sombria da Liga da Justiça, formada justamente só por personagens com habilidades mágicas. Mais uma bobeira sem tamanho. Mais um péssimo título.

Devo acompanhar? Não.


The Savage Hawkman #1 (Gavião Negro)

A história começa com Carter Hall tentando se livrar do legado do Gavião Negro. Mais tarde ele descobrirá que conseguiu justamente o oposto. No meio disso, uma história sem graça nenhuma e sem qualquer atrativo. E já estou me cansando de escrever sempre a mesma coisa, mas não posso fazer nada. O Gavião Negro sempre foi um herói, no máximo, meia-boca, mas na época que Geoff Johns arrumou sua cronologia ao menos ganhou algumas boas histórias. Aqui a coisa volta a ser triste como sempre.

Devo acompanhar? Não. 


Superman #1

Horrível. É a palavra que resume bem não só o novo uniforme do Super-Homem (por que o ser mais poderoso do mundo precisaria de uma armadura?) bem como essa primeira edição. Esta é a revista do Super que se passa no presente da cronologia atual, com o herói já estabelecido. George Pérez pisou na bola feio. Chata, travada e verborrágica. É o completo oposto da divertidíssima Action Comics. Ah sim, é aqui que descobrimos que Lois Lane tem um namorado, e não é Clark Kent. Grande coisa. Se a DC for esperta, entrega essa revista também para o Grant Morrison e suas loucuras.

Devo acompanhar? Não.


Teen Titans #1 (Novos Titãs)

Essa aqui conseguiu uma façanha. Até o logo do título é feio pra danar! De resto, é mais uma daquelas histórias que introduzem muito pouco e simplesmente não dá pra saber se vai prestar ou não. Tem o Kid Flash fazendo besteira, pra variar. Tem o Robin Vermelho dando uma de Batman em miniatura e tem o seu encontro com a Moça-Maravilha. Aparentemente, os três serão o núcleo da equipe. É muito pouco. E aparentemente a revista será interligada com o título do Superboy. Como eu gosto do Tim Drake, estou até disposto a acompanhar um pouco mais, mas tem altas chances de descambar rapidamente pra tosquice.

Devo acompanhar? Hum... esse primeiro arco, só pra ver onde vai dar.


Voodoo #1

E finalizando Os Novos 52, não podia deixar de faltar um título dedicado aos nerds punheteiros de 13 anos de idade. Vodu, aquela mesma quer era dos WildC.A.T.s é uma stripper que faz pose sensuais em trajes sumários por 22 páginas. Sinopse mais curta que essa impossível. Até porque se você prestou atenção no texto de Ron Marz, isso significa que o desenhista Sami Basri não fez seu trabalho direito. Contudo, se você sabe onde achar pornografia de verdade, não vai querer perder seu tempo com isso.

Devo acompanhar? Não.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Causa & (D)Efeito - O release


Às vezes as pessoas vão a um bar para beber e relaxar. Às vezes elas vão para falar de sexo. Às vezes, para falar de relacionamentos. Outras, para reclamar com os amigos de suas próprias relações. E na esmagadora maioria das vezes, vão para se divertir e dar muitas risadas. Os protagonistas de Causa & (D)Efeito vão para fazer tudo isso junto de uma vez só.
           
A nova Sitcom Literária de Jean Di Barros, o homem que apresentou ao mundo Gosto de Remédio, volta a focar em um de seus temas favoritos, as relações entre homens e mulheres. E, no meio disso, claro, amizade.
           
Um quarteto de amigos se reúne sempre no mesmo bar para falar da vida, namoros, casamentos, sexo, quem pegou quem e por aí vai. Sério, eles passam tanto tempo no boteco que é como se morassem lá. No entanto, os assuntos mais importantes da vida merecem ser destrinchados com toda calma possível, não é mesmo?
           
Rogério é um cara normal e até meio careta para sua geração. É casado com Andreia, que sabe o que é melhor para ele. E o melhor para ele é não ficar sabendo da vida amorosa pregressa de sua esposa para não cair numa espiral de paranoia e insegurança. Andreia é muito amiga de Fernanda, uma garota tão liberal que é praticamente um cara, e não tem o menor pudor em falar abertamente sobre qualquer aspecto de sua vida. Completa o quarteto Lindomar, o melhor amigo de Rogério e maior comedor que esse mundo já viu, mesmo que essa fama seja só coisa da sua cabeça. Ele é o cara que só fala bobagem, para o qual tudo gira em torno de sexo. Em suma, é o engraçadinho da turma.
          
Desenvolvida inteiramente apenas através de diálogos, eles são ágeis, mordazes e direto ao ponto. É a improvável mistura de Lourenço Mutarelli com Kevin Smith, sem deixar de lado as características próprias do autor, especialmente o retrato geracional tão caro à sua obra.
           
Para todos aqueles que adoram passar boas horas numa mesa de bar jogando conversa fora e dissecando relacionamentos, quer sejam bem sucedidos ou não, esta é a série que analisa, da maneira mais bem humorada possível, causa e (d)efeito.

Estreia em 14/06 no site da Toró Na Cuca.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Capangas encerrados


Quarta passada foi ao ar o episódio final da temporada de Capangas Contratados, encerrando, consequentemente, o arco em seis partes Jogada de Asno, o maior que já escrevi para a série.

Queria usar o conceito de escalada, muito utilizado principalmente no cinema (nas séries de TV, nem tanto), onde as coisas vão aumentando gradativamente de proporção até atingir seu ápice no chamado terceiro ato.

Também sabia que queria exagerar nesse conceito. Bastante. Beirando o absurdo, acumulando situações nonsense que partem mais para o caminho da fantasia, mas sem se distanciar completamente da realidade. Daí o perseguidor implacável clone do Bruce Lee. Exagerado ao extremo, mas extremamente divertido de escrever e jogá-lo contra os protagonistas.

Sabia também que queria encerrar o arco e a primeira temporada com uma grande explosão, talvez o clichê máximo dos filmes de ação. Existe uma razão para a maioria desses clichês serem utilizados à exaustão: eles são muito legais de utilizar. E também funcionam que é uma beleza. No meu caso, assim que tive a ideia para a série, sabia que a história acabaria assim. Faltava só preencher as lacunas que levariam a esse momento.

Tinha ainda a possibilidade de encerrar tudo nesse ato de pura destruição, matando os três protagonistas de uma vez ou fazer um final feliz e deixá-los sobreviver. Fazer o quê, me apeguei a eles durante a jornada, do mesmo modo como espero que tenha acontecido com os leitores.

Claro que, mesmo com eles vivos e bem, aquela última cena servia como um encerramento para a série toda, caso decidisse que mais uma dose de Capangas seria demais. A boa notícia é que julguei que não e a série ganhará uma segunda temporada. Inclusive, terminei de colocar os episódios no papel essa semana. Ainda faltam outras etapas do processo (revisão, ouvir opiniões etc.), mas o mais difícil já passou.

Contudo, ainda deve demorar um pouco para a estreia da segunda temporada. Segundo estimativas iniciais, só lá para o fim do ano. Isso porque antes, para dar uma relaxada e uma desopilada de fígado dos capangas, entra no ar outra Sitcom, Vida e Obra de um Ninguém. É o mesmo tipo de humor, porém mais leve em sua temática e sem (tantas) mortes. Espero que quem gostou de Capangas Contratados, acompanhe e goste dessa aqui também.

Ela estreia na terça-feira, dia 12. Para os que querem mais Capangas, vai demorar, mas pelo menos eles voltam. Isso é certeza. Considere esse hiato deles como férias. Afinal, todo mundo merece um bom descanso, até mesmo capangas contratados.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Vida e Obra de um Ninguém - O release


Todo mundo tem uma boa história para contar ou ser contada, mesmo que não saiba. E mesmo que se trate de um notório desconhecido. Essa é a premissa que move Vida e Obra de um Ninguém, a nova Sitcom Literária de Carlos Cyrino, a mente deturpada que lhe trouxe também Capangas Contratados.

Usando e abusando do absurdo e do humor simples e direto, a série conta a história de João Damião, um simples, beberrão e não muito brilhante bauruense (aquele que nasce em Bauru, manja?) cujo único objetivo de vida é levá-la na flauta, sem grandes percalços.

Não parece grande coisa, não é mesmo?

Mas acredite, ele provará que o simples objetivo de levar uma vida ordinária merece sim sua própria série e rende tramas mais que suficientes – e mirabolantes – para os 13 episódios da temporada.

Utilizando-se da não linearidade, a série vai e volta no tempo, e cada episódio trata de um período temporal e de uma situação muito específica da vida de João Damião, uma espécie de melhores momentos de fatos marcantes de seus anos já vividos.

Quer seja o protagonista tentando enriquecer na Serra Pelada, beber em paz em seu boteco favorito ou lidar com as esporádicas visitas de seu filho esquisito, cada um desses fatos abre um leque de possibilidades cômicas a serem exploradas das mais variadas maneiras possíveis.

Indo do humor mais sutil até o mais pesado, ninguém é poupado nesta série. Quer sejam coadjuvantes exóticos que formam o elenco de apoio ou figuras bizarras que aparecem em apenas um episódio, ninguém é poupado da gozação. Certamente que o protagonista também não. Qualquer um pode ser alvo de piada a qualquer momento.

Usando as já tradicionais referências à cultura pop – a série traz também uma novidade: referências de época – além dos diálogos ágeis e das situações absurdas, Vida e Obra de um Ninguém é uma série leve, uma leitura rápida e extremamente divertida, que vai fazê-lo acreditar que qualquer um pode ter uma história interessante a ser contada. Mesmo que seja um ninguém. 

Estreia em 12/06 no site da Toró Na Cuca.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Os Novos 52 – Parte III


Leia também:

Terceira parte da matéria, pacote da terceira semana de publicação nos EUA. Absolutamente nenhum grande título nesse pacote. Algumas poucas revistas medianas, porém satisfatórias e, pra variar, um monte de porcarias vergonhosas.

Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.


Batman #1

Scott Snyder vinha muito bem nas histórias do Batman antes do reboot, tentando fugir da mesmice e criando tramas que prendiam a atenção do leitor. Portanto, ele tem crédito. E vai precisar dele, porque esse recomeço não foi muito animador. A trama não empolga muito, serve mais como reapresentação dos personagens, mas há um gancho no final que pode render mais emoção e mistério nas próximas edições. E eu não via um trabalho de Greg Capullo desde a época do Spawn. O traço do cara não mudou nada, continua sendo o melhor dos imitadores do Todd McFarlane, mas acho que faltou um pouquinho de capricho, principalmente nos rostos.

Devo acompanhar? Hum... sim.


Birds of Prey #1 (Aves de Rapina)

Sem a Oráculo, que voltou a ser Batgirl, as Aves de Rapina, nessa nova encarnação, ficaram parecendo mais um Esquadrão Suicida formado por heroínas. Temos aqui mais um título genéricus in extremis. Texto e arte sem sal e sem propósito.

Devo acompanhar? Não. 


Blue Beetle #1 (Besouro Azul)

A revista abre com um prólogo mostrando a origem e o propósito do escaravelho que acaba por transformar Jaime Reyes no Besouro Azul, com sua armadura tecnorgânica. Sim, é mais uma origem recontada sem grandes diferenças do que era antes. Não é uma grande história, mas ainda assim, admito que, mesmo sem qualquer destaque, até que me diverti com a leitura. Este aqui parece que vai seguir o caminho daqueles títulos sem grandes surpresas, mas com uma boa regularidade. Leitura menor, mas que entretém.

Devo acompanhar? Mesmo não sendo grande coisa, merece uma chance.


Captain Atom #1 (Capitão Átomo)

J.T. Krul, o homem que destruiu o Arqueiro Verde, tenta aqui transformar o meia-boca Capitão Átomo num personagem grande, o que ele nunca será. Não se trata de níveis de poder, mas sim da qualidade do personagem. Muita pretensão e um texto ruim. Eu gosto da arte do Freddie Williams II, mas aqui, como em vários outros títulos, fica bem aparente uma certa pressa do desenhista, como se tivesse prazos bem apertados e pouco tempo para trabalhar.

Devo acompanhar? Sem chance.


Catwoman #1 (Mulher-Gato)

A mais polêmica do pacote, apenas por causa da cena de sexo com o Batman ao final da edição, o que não é absolutamente nada demais, afinal, como já diz o título, eles o fazem sem tirar a maior parte das peças de seus uniformes. Judd Winick se sai melhor aqui do que em Batwing, o que não quer dizer que isso aqui seja uma maravilha. Mais uma vez, se a ideia é criar histórias totalmente novas, porque diabos começar com algo já usado à exaustão? A história abre com bandidos destruindo a casa de Selina Kyle. Antes do reboot o escritor Will Pfeiffer fazia isso todo mês! Parece até alguma obrigação contratual. Mesmo assim, pode ser que Winick continue a apimentar as próximas histórias para continuar chamando atenção. É melhor que nada.

Devo acompanhar? Sim, pelo menos por enquanto.


DC Universe Presents #1

A ideia dessa revista é promover um rodízio de personagens que não possuem título próprio. As primeiras edições de DC Universe Presents serão protagonizadas pelo Desafiador, uma espécie de Gasparzinho da comunidade super-heróica, embora, diferente do fantasminha camarada, os vivos não conseguem vê-lo. O personagem ganhou bastante destaque na maxissérie O Dia Mais Claro e parece que vai ser mais presente também nos Novos 52. A revista não é ruim, mas não faz o meu tipo. E títulos com rodízio de personagens geralmente são extremamente irregulares.

Devo acompanhar? Não.


Green Lantern Corps #1 (Tropa dos Lanternas Verdes)

Mais um início de arco para a Tropa dos Lanternas Verdes. Alguém ou alguma coisa está matando membros da Tropa. Cabe a Guy Gardner e John Stewart investigar. Mais uma edição introdutória que poderia ter apresentado um pouco mais da história, mas só a cena de Guy Gardner tentando arranjar um emprego normal já vale a leitura.

Devo acompanhar? Sim.


Justice League #1 (Liga da Justiça)

Nos EUA, foi o primeiro título lançado, servindo como carro-chefe do projeto. A primeira impressão não poderia ser pior. Geoff Johns erra feio ao contar como a Liga foi formada. Comete um desserviço com Hal Jordan ao mostrar o Lanterna Verde como um imbecil autoconfiante, praticamente desfazendo tudo de bom que havia feito em seu título próprio. Você sabe, coisas como torná-lo um personagem tridimensional. Até o Batman é bem irritante aqui. Pra completar, essa é mais uma que oferece muito pouca história. Sabe-se que a Liga voltará a ser formada pelos sete grandes, com a substituição do Caçador de Marte pelo Cyborg, algo que tem muita cara de programa de cotas. Convenhamos, ele não é personagem para a Liga, deveriam ter usado John Stewart, que é um personagem muito melhor. Mas como Hal Jordan é mais popular, já viu. Enfim, a maior decepção até aqui.

Devo acompanhar? Infelizmente, não.


Legion of Super-Heroes #1 (Legião dos Super-Heróis)

A Legião dos Super-Heróis, um grupo de heróis do futuro formado por um bando de alienígenas, sempre foi uma das equipes mais adoradas pelos leitores da DC. Sinceramente, nunca entendi isso, sempre achei suas histórias uma bobagem sem tamanho e chatas até não poder mais. Essa nova revista do grupo não foge à regra. Mais uma que foi difícil de engolir. Nem quero mais perder tempo falando sobre isso.

Devo acompanhar? Só se você for fã da equipe.


Nightwing #1 (Asa Noturna)

Dick Grayson volta a ser o Asa Noturna, agora com um novo uniforme. É basicamente isso, uma reapresentação da antiga identidade do personagem, mas feita com competência. Ajuda o fato de que eu sempre gostei dele, basicamente uma versão bem ajustada do Batman. Os desenhos do brasileiro Eddy Barrows, ao contrário do que ocorre com a maioria, estão caprichados. A trama ainda não começou, mas a revista já dá a impressão de que será eficiente.

Devo acompanhar? Sim. 


Red Hood and the Outlaws #1

Mais uma da série “por que lançar isso?”. Perderam uma ótima oportunidade para matar Jason Todd de vez e assim consertar a bobagem gigante que fizeram ao ressuscitá-lo. Ao invés disso, transformam-no no protagonista de sua própria revista. É o fim do mundo. Além disso, Ricardito rejuvenesceu e volta a ter os dois braços e Estelar virou uma vagabunda espacial. Ah, sim, os três são caçadores de recompensa, ou algo do tipo, a leitura ruim me fez perder a atenção...

Devo acompanhar? Não.


Supergirl #1

A revista da Supergirl já não era boa antes do reboot, com ele continuou a mesma porcaria. Em mais um novo recomeço (hum, começo a notar um padrão aqui), Supergirl cai na terra já vestida de Supergirl e passa 22 páginas batendo em caras em armaduras. Sucinto, não? E aí vem a pergunta: é preciso dois roteiristas pra escrever isso? Caramba!

Devo acompanhar? Nãããõooo.


Wonder Woman #1 (Mulher-Maravilha)

A outra ponta da trindade formada por Superman e Batman. A mais famosa heroína dos quadrinhos e ícone da cultura pop. E ainda assim a Mulher-Maravilha nunca conseguiu ter uma revista de sucesso (à exceção, talvez, na época do George Pérez). Será que agora vai? Como na maioria das revistas, ainda é difícil dizer porque a introdução da trama é simplesmente muito curta, mas tem um nome de peso escrevendo (Brian Azzarello) e um clima nesse primeiro número bem... esquisito, como a cena do seja lá o que for aquilo nascendo do corpo do cavalo decapitado. Só a arte de Cliff Chiang, meio cartunesca, meio tosca mesmo que não me agrada. Tem potencial, resta ver se será cumprido.

Devo acompanhar? Por enquanto sim.