terça-feira, 30 de outubro de 2012

Falsos documentários: Parte III – A Bruxa de Blair


Leia também:

(The Blair Witch Project, EUA, 1999)
86min
Direção e roteiro: Daniel Myrick e Eduardo Sánchez

Em outubro de 1994 três estudantes de cinema desapareceram na floresta perto de Burkittesville, Maryland, enquanto filmavam um documentário. Um ano depois, o filme foi encontrado. Com essa premissa, os dois diretores estreantes (Daniel Myrick e Eduardo Sánchez) enganaram muita gente, fazendo as pessoas acreditarem que os três estudantes realmente haviam desaparecido, e que o material que seria assistido pelos espectadores era verdadeiro.

Na verdade, foi um jeito bem criativo de promover o filme independente mais rentável da história. O longa custou aproximadamente 35.000 dólares, sem incluir a pós-produção, e arrecadou cerca de 140 milhões de dólares só nos EUA. 

Os diretores espalhavam cartazes pelas sessões do filme com as fotos dos atores, dizendo que estavam desaparecidos. Além disso, utilizaram-se da internet para espalhar o mito da bruxa de Blair como real, enganando muitas pessoas que entravam no site oficial do filme. Uma rede de TV americana chegou a fazer um documentário sobre o mito da bruxa de Blair achando que fosse real. Além dessa rede, vários jornais e revistas caíram no truque, noticiando os fatos ocorridos no filme como verdadeiros.

Assim, a película que havia estreado em poucas salas do circuito underground, logo pulou para a exibição nos multiplexes, angariando uma multidão de espectadores que queriam conferir o filme que gerou tanta polêmica.

E a pequena cidade de Burkittesville acabou sendo invadida por fãs do longa, curiosos e pessoas desavisadas do caráter ficcional da história. Essa invasão foi retratada no início de A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2), continuação que não possui o caráter documental, sendo muito inferior ao primeiro, e por isso, foi um fracasso nas bilheterias. 

O filme foi realizado em Super 16 mm e depois ampliado para 35 mm. Além disso, foi usada uma câmera mini-DV que teria o propósito de filmar um making of do projeto. As imagens em Super 16 e em digital foram intercaladas na edição pelos diretores para dar mais dinamismo ao filme. Como consequência, existem horas de material inédito, que estão presentes na edição americana do DVD.

Os três atores filmaram eles mesmos praticamente tudo, portanto, temos o uso de câmera na mão. Além disso, deveriam entrevistar moradores da cidade que, sem que os três soubessem, haviam sido instruídos pelos diretores a darem as respostas certas para que as reações dos atores fossem as mais verdadeiras possíveis.

A partir do momento em que eles se perdem na floresta, praticamente todas as falas são improvisadas, e muitos dos fatos que acontecem com eles, como os barulhos estranhos à noite, foram provocados pelos diretores sem que eles soubessem. Assim, o medo deles se torna extremamente realista, o que ajudou as pessoas a acreditarem que se tratava de uma história real.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

The Killers – Battle Born


O novo disco do The Killers, depois de um considerável período de hiato, vinha cercado de muita expectativa. Pelo menos de minha parte, já que os considero uma das melhores bandas da fornada pós-Strokes.

Brandon Flowers está cantando muito. E isso é o máximo de elogio que se pode fazer sobre Battle Born. Não é ruim, mas é cheio de baladas genéricas, pouco imaginativas, bem longe da energia de seu início. Não é um trabalho vergonhoso, mas é bem decepcionante.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

10 discos do rock nacional: Parte final


Leia também:

Continuando a seleção dos meus 10 discos favoritos do rock made in Brasil. A maioria deles ainda está em catálogo. E aqueles que não se encontram mais nas lojas (aliás, mal se encontram lojas de discos hoje em dia) podem ser achados facilmente em sebos.


Raimundos – Raimundos (1994)

Esse pode até destoar um pouco de todos os outros da lista, mas para um moleque de 12, 13 anos, idade que eu tinha quando conheci a banda, isso era a última bolacha do pacote. A mistura de hardcore com forró (ou forrócore, como ficou conhecido) e as letras debochadas e desbocadas, cheias de palavrões e putarias, marcaram toda uma geração. Seu primeiro disco, independente, era o mais enérgico dos brasilienses, e até hoje meu favorito deles. Esse entra aqui pelo grande valor sentimental que permanece forte. Pô, até hoje eu sei cantar toda a letra de Puteiro em João Pessoa!


Baladas Sangrentas – Wander Wildner (1996)

Wildner, vocalista dos Replicantes, lança seu primeiro álbum solo, e cria o chamado punk brega, com pegada instrumental do primeiro e temática lírica do segundo. E eu agradeço. Esse negócio é bom demais, e é uma pena que ele não seja mais conhecido fora do circuito punk e alternativo. Eis mais um disco com hits em profusão, com destaque para Bebendo Vinho (essa ficou famosa na cover do Ira!), Eu Tenho uma Camiseta Escrita Eu Te Amo e Um Lugar do Caralho. E eu racho de rir, toda vez, com as hilárias Empregada e Freira Desalmada, duas músicas que representam muito bem esse lado maroto cafona do músico. Ouça.


Bloco do Eu Sozinho – Los Hermanos (2001)

Esse aqui dispensa apresentações e muito já se falou sobre ele. Justificado. Bloco do Eu Sozinho realmente merece toda a fama recebida. Um baita disco, misturando Beatles, Weezer e marchinhas de carnaval em canções com um acabamento barroco (mas sem perder o pop de vista) como poucas vezes se viu no rock nacional, especialmente no mais recente. Essa banda é daqueles casos de ame ou odeie. Não tem jeito: ou eles são a última grande banda a aparecer por aqui, ou são uns malas pretensiosos. Mas para quem gosta, Bloco é o grande motivo desse amor.


Cosmotron – Skank (2003)

Sim, o Skank, aquela banda de dancehall, cheia de hits radiofônicos como Garota Nacional e É uma Partida de Futebol. Aí eles resolveram dar uma guinada na carreira, experimentar coisas novas e fazer rock. Já tinham ensaiado essa virada no disco anterior, Maquinarama. Mas é em Cosmotron que a realizam completamente. E surpreendem. Goste ou não do som anterior deles, eles sempre o fizeram com qualidade e um faro pop que poucos possuem. Mantiveram isso aqui, fazendo um conjunto de grandes canções, calcadas um pouco em Oasis, um pouco em rock setentista. Para ouvir e constatar: não é à toa que esses caras estão em evidência há tanto tempo.


Seu Minuto, Meu Segundo – Gram (2006)

Já essa banda é uma das grandes promessas não realizadas do nosso rock, e digo isso principalmente por este que é seu segundo e último disco. Se o primeiro ainda tinha cara de demo, cheio de canções com seu potencial não inteiramente desenvolvido, aqui eles entregam um baita disco, daqueles de fazer dar play novamente assim que ele acaba. Para mim, o Gram tinha uma característica especial. Todas as bandas de rock brasileiro inevitavelmente soam como tais. E isso não é uma crítica, apenas uma constatação. Seja pela vontade de misturar gêneros e estilos nacionais a seu som, seja por uma ginga até não intencional, mas já arraigada no DNA do músico brasileiro, toda as bandas transparecem essa característica. O Gram era das poucas que você podia apagar a faixa de vocal e o instrumental soava como uma banda inglesa. E isso era foda, principalmente a guitarra solo, que tinha uma qualidade como poucas vezes vi em bandas daqui. Sérgio Filho também era um excelente vocalista. Até hoje me dói que eles tenham acabado tão cedo. Só posso imaginar o que mais teriam feito se tivessem continuado. Uma pena. Quem não conhece, fica a recomendação, corra atrás.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Promethea e a inadequação do pretenso escritor


Recentemente voltei a ler um dos meus autores de quadrinhos favoritos: Alan Moore. Já conheço seus trabalhos mais famosos e aclamados há tempos. Agora estou me concentrando em suas obras menos conhecidas e/ou menos elogiadas. Coisas mais recentes, de sua fase já “de bode” das grandes editoras.

Foi aí que peguei a série Promethea para ler, sem saber de absolutamente nada do que se tratava. Publicada por seu selo America’s Best Comics na Wildstorm (que, incidentalmente, é propriedade da major DC) entre 1999 e 2005, era material antigo. Na minha cabeça, qualquer coisa circa anos 2000 já é velho, exceto quando se trata de rock, o que é algo curioso, mas assunto a ser explorado talvez num outro texto. Voltando ao que interessa: nunca tinha lido nada a respeito desse título em revistas ou sites especializados. Imaginei que seria um trabalho menor – de pouca expressão – do barbudo inglês.

Suas 32 edições explodiram minha cabeça como há um bom tempo não acontecia. A última vez que me senti assim com uma HQ, com a plena certeza de estar lendo algo especial, de outra esfera, que ficaria em minha memória para sempre, foi com o Sandman de Neil Gaiman. Vale esclarecer, eu não li Sandman na época em que foi publicado no Brasil pela primeira vez, mas sim quando a Conrad o relançou naqueles volumes bonitões de capa dura. Ou seja, não faz tanto tempo quanto possa parecer da afirmação inicial.

O engraçado é que as duas obras são primas conceituais e filosóficas em sua exploração do onírico, da criatividade em estado bruto fluindo pelas páginas, cheias de erudição e referências mil.

Na trama da super-heroína que é uma ideia fictícia tornada viva pela imaginação coletiva, Alan Moore fala sobre o poder da criatividade, do surgimento das ideias e de conceitos universais como nossa capacidade ilimitada de imaginação, vida após a morte, espiritualidade e religião. Pega praticamente todas as grandes questões humanas e as interliga em sua maneira pessoal, conferindo sentido e criando seu próprio mito. E ainda dá uma aula completa sobre cabala. Coisa séria, de quem pesquisou e estudou a fundo. Não de quem achou a camada superficial bonitinha após ver num clipe da Madonna.

Ler uma história dessas causa duas reações distintas em pretensos escritores como eu. Por um lado maravilha, fascina. A qualquer um que trabalhe contando histórias, que viva da imaginação, a trama se propõe a ir no cerne da questão: de onde tiramos essas coisas? É tão criativo que é impossível não se contaminar instantaneamente por milhões de ideias, pegar a caneta e começar a rabiscar no pedaço de papel mais próximo o primeiro rascunho de qualquer coisa. É isso que toda boa obra de literatura deve fazer, instigar, não apenas divertir, mas passar adiante um legado. E isso, Promethea faz com gosto.

Por outro lado, impossível para alguém que se aventure no mundo das letras não levar um golpe bem dado no ego. Um verdadeiro chute no saco da autoestima. Caso V de Vingança, Watchmen, Do Inferno ou A Piada Mortal tenham ficado muito no passado, Promethea serviu para relembrar que Alan Moore é de outro nível, o sujeito não sabe brincar que nem gente comum e qualquer outro que tente fica parecendo café com leite.

É inevitável a sensação que veio e sempre me vem depois de ler qualquer grande obra literária em qualquer formato. A vontade de enfiar o teclado no saco e nunca mais escrever uma linha, poupar-me de passar vergonha. Afinal, sei de minhas capacidades e limitações. Sei que posso tentar décadas e não chegarei nem perto de escrever algo tão bom. Ler uma grande obra para alguém com aspirações literárias, ao menos no meu caso, tem o efeito daquela máquina da perspectiva total do Guia do Mochileiro das Galáxias: você subitamente compreende seu tamanho real e sua importância no universo e não suporta a verdade.

Mas esse efeito adverso é passageiro, e alguns dias depois, já recuperado da paulada, lembro-me que nem só de Alan Moores, Salingers, Dostoievskis, etc. é feito o mundo literário. Ele também é feito por seus Dan Browns e Sidney Sheldons (e aí me refiro à qualidade e não número de vendas, se não fico deprimido de novo) da vida. E de repente a competição fica bem mais fácil. Com um pouco da inspiração e empolgação que obras como Promethea espalham feito vírus, já dá para ficar mais animado nesse sentido.

Se não dá para entrar no panteão daqueles que residem nos céus, conforme de tempos em tempos seus residentes nos esfregam o fato na cara com suas melhores obras, ao menos nos inspiram a competir por um lugar ao sol em terra mesmo. E se tudo mais falhar, um consolo: pelo menos chapei o coco por 32 edições.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Falsos documentários: Parte II – This Is Spinal Tap


Leia também:

(This Is Spinal Tap, EUA, 1984)
82min.
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Rob Reiner, Christopher Guest, Michael McKean, Harry Shearer

A lendária banda britânica de heavy metal Spinal Tap acaba de lançar um novo disco, Smell the Glove, e anuncia uma turnê pelos EUA. O diretor Marty DiBergi, fã número um da dinossáurica banda, vê tal turnê como a oportunidade de ouro para homenageá-la documentando-a. A partir daí DiBergi passará a acompanhar todos os shows registrando-os, entrevistando os músicos e os membros da equipe da banda, e filmando tudo o que acontece nos bastidores da turnê.

DiBergi nos passa através de seu “rockumentário”, como ele chama seu trabalho, a emoção dos shows lotados do início da turnê até as humilhantes apresentações finais, onde a banda, já totalmente desprestigiada, acaba tocando num baile militar.
         
Nos mostra que os três integrantes da banda são um trio de “bestas quadradas” com suas entrevistas pretensiosas e seus egos inflados. Capta momentos marcantes de bastidores, como os problemas da censura com a capa do disco e o rompimento e eventual retorno do guitarrista com o resto do grupo.
         
Lendo esta sinopse é fácil acreditar que se trata de mais um documentário sobre uma banda das antigas que tenta um retorno e falha miseravelmente, uma história muito comum no mundo da música pop. Porém, o fato é que a banda Spinal Tap simplesmente não existe, o grupo foi formado somente para a realização do filme, o primeiro longa do diretor Rob Reiner (Conta Comigo, Louca Obsessão).
         
Escrito por ele em parceria com os atores Christopher Guest, Michael McKean e Harry Shearer, que interpretam respectivamente o guitarrista Nigel Tufnel, o vocalista e guitarrista David St. Hubbins e o baixista Derek Smalls, o filme nasceu quando os quatro receberam 10.000 dólares para escrever um roteiro e utilizaram o dinheiro para fazer um curta-metragem como demonstração do que tinham em mente. A ideia agradou, e o longa pôde ser realizado, sendo que várias cenas do curta acabaram entrando no filme.
         
Quem não conhece muito sobre rock, e até quem conhece, é facilmente enganado pelo filme passando a acreditar que a banda é real. Vários fatores contribuem para a veracidade da história:

- Os três atores principais são também competentes músicos e foram responsáveis pela criação das músicas do repertório do Spinal Tap. Além disso, nas cenas de shows eles estão realmente tocando.

- Diversos fatos ocorridos com a banda, como, por exemplo, passarem de meros imitadores dos Beatles a metaleiros progressivos, mesmo que exagerados para maiores efeitos cômicos, são inspirados em histórias que realmente aconteceram com bandas verdadeiras.

Somente nos créditos finais sobe uma mensagem dizendo que a banda Spinal Tap é fictícia. Esteticamente trata-se de um documentário convencional: Marty (o próprio Rob Reiner) faz uma pequena introdução sobre sua obra e passa a intercalar cenas dos shows com imagens de bastidores, festas, eventos promocionais, com entrevistas com a banda e pessoas envolvidas, sendo que ele mesmo assume o papel de entrevistador.

O filme segue uma certa linearidade mostrando de início o apogeu da banda com o sucesso dos primeiros shows até a decadência das últimas apresentações. As entrevistas e as cenas de bastidores seguem essa mesma ordem: no começo, tudo uma maravilha, e no final, brigas, discussões e a eventual saída de Nigel Tufnel e do empresário do trio por interferências da mulher do vocalista David St. Hubbins nos assuntos da banda (uma “homenagem” a Yoko Ono).

Porém o filme acaba bem, com a banda fazendo sucesso no Japão graças a uma onda de nostalgia que os coloca novamente no topo da parada de sucessos nas terras nipônicas. Para encerrar, um detalhe interessante: devido ao enorme sucesso do filme junto ao público roqueiro, a banda pulou da ficção para a realidade. Os três atores gostaram tanto da brincadeira que decidiram tornar a banda real, ainda que temporariamente, gravando discos e fazendo alguns shows especiais.

Em 2000 o filme foi relançado nos cinemas dos EUA e da Europa sendo seguido do lançamento de uma edição especial em DVD contendo cerca de uma hora e meia de material cortado da edição final.Ele permanece inédito em nossos cinemas e locadoras, podendo ser visto, contudo, em canais a cabo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

10 discos do rock nacional: Parte I


Falo muito sobre rock aqui neste blog. Não há como não fazê-lo, para mim é uma paixão tão grande quanto a literatura. A diferença é que, se eu me aventuro no campo literário com meus próprios trabalhos, no da música não dá. Me falta a habilidade. Limito-me a arranhar minha guitarra em casa e falar sobre música sempre que possível.

E, no entanto, até hoje só tinha usado esse espaço para falar de rock importado. Admito que 90% do que eu escuto de música é em língua inglesa, mas isso não quer dizer que eu também não goste de ouvir nada em meu idioma pátrio. Gosto, mas o problema é que é muito mais difícil achar algo que me agrade em português. Contudo, não é impossível.

Sendo assim, falarei aqui dos meus 10 discos preferidos do rock nacional. Isso não quer dizer, obviamente, que são os melhores, são simplesmente meus favoritos por gosto pessoal. E estão organizados em ordem cronológica e não de preferência. Vamos a eles.


Os Mutantes – Os Mutantes (1968)

Um dos discos mais impressionantes do rock em qualquer língua, de fazer frente a ninguém menos que os Beatles em sua fase mais criativa/experimental (não à toa, o quarteto de Liverpool é uma das grandes influências da banda). A estreia do grupo é insana, cheia de efeitos inovadores para a época, misturas inusitadas, bom humor e criatividade correndo solta. 11 faixas irretocáveis que servem como cartão de visitas daquela que é a banda de rock mais importante e influente do país. Obrigatório, bem como todos os outros discos do grupo com a formação clássica da banda, com o trio de frente Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee. 


Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)

Outro disco de estreia de mais uma banda clássica. Assim como Os Mutantes, o Secos & Molhados também se notabilizou pela grande mistureba de gêneros e estilos em seu som. Mas o trio formado por João Ricardo, Ney Matogrosso e Gérson Conrad investia menos na molecagem e mais na poesia. E também em performances de palco incrementadas. Temos aqui, segundo a lenda, a fonte de inspiração do Kiss e suas maquiagens. Cheio de hits levados por excelentes arranjos de violão e a belíssima voz de Ney Matogrosso (um dos melhores cantores brasileiros, fácil), é outro que merece figurar em qualquer coleção. O bom é que foi lançado em CD no esquema “2 em 1”, junto com o segundo álbum, de 1974, que, embora não tenha tantas músicas conhecidas como este, também é excelente.


Nós Vamos Invadir Sua Praia – Ultraje a Rigor (1985)

Quando se fala em álbuns de estreia, creio que nenhum supera este da banda paulistana no quesito “entrar no mapa com os dois pés na porta”. O negócio chega a ser ignorante de tantos sucessos gerados por um disco só. Das 11 faixas, 8 são hits absolutos do rock nacional, tendo tocado à exaustão em rádios e programas de TV. E as outras 3, embora não tenham tido o mesmo destaque, também são muito boas. A mistura de rockabilly com surf music é boa, mas o grande destaque vai mesmo para as letras de Roger, que conseguem algo dificílimo (e que hoje em dia, dada a qualidade atual de nossa música popular, parece ter se tornado impossível): ser bem humoradas e ao mesmo tempo de extremo bom gosto e de uma inteligência ímpar, ao mesmo tempo em que critica as nossas muitas mazelas. Saudade do tempo em que o nosso rock tinha miolos.


O Concreto Já Rachou – Plebe Rude (1985)

De todas as bandas de Brasília, para mim a Plebe Rude é a melhor, e única que pode ser chamada de fato de banda punk. Eles tinham (têm, na verdade, já que ainda estão na ativa) a sonoridade mais agressiva e o engajamento político/social nas letras. E caramba, as músicas eram muito boas. Este EP de estreia tem sete faixas e todas elas são preciosas. Desde a abertura, com o clássico Até Quando Esperar até o encerramento com Brasília (música que retrata muito bem o que era a cidade), é uma pequena viagem punk e pós-punk de qualidade, com um trabalho de guitarras superior à média do rock brasileiro e a dinâmica entre os dois vocalistas, que dá um charme e um destaque a mais ao grupo.


V – Legião Urbana (1991)

Essa foi uma escolha difícil, visto que também poderia ter colocado aqui facilmente qualquer um dos três primeiros discos da Legião, todos eles ótimos. Acabei optando por este porque é o mais deprê (eu gosto de discos tristes) de sua discografia (à exceção do A Tempestade, mas esse eu acho um porre de tão chato) e onde a banda se esforçou no lado técnico, onde eles sempre foram bastante fracos. Os caras, que eram maus músicos até para os padrões do punk, se propuseram a fazer um disco de pegada progressiva, e se saíram bem. Os mais de 11 minutos da bela Metal Contra as Nuvens são um bom exemplo disso.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Falsos documentários: Parte I - Introdução


Nanook, realizado em 1922 por Robert Flaherty é considerado o primeiro documentário da história do cinema. Flaherty filmou o cotidiano de uma família de esquimós e seus hábitos de caça e pesca.
         
Porém, ele registrou tais hábitos do modo como eram feitos há muito tempo. Por exemplo, em 1922 os esquimós já utilizavam armas de fogo para caçar, fato omitido por Flaherty, que os teria instruído a caçarem com arpões, lanças e flechas.
         
Outro ponto importante é que Flaherty provavelmente instruía os esquimós a como se posicionarem em cena, já que ele precisava armar a câmera, e filmava determinadas cenas de vários ângulos. Ou seja, os esquimós não foram realmente retratados do modo como eles viviam e se comportavam, o que trás uma importante questão: até que ponto os documentários retratam com veracidade o tema abordado por ele, já que no momento em que uma câmera é colocada no ambiente, toda a espontaneidade do mesmo é alterada, mesmo que involuntariamente?
         
Pensando nisso, alguns cineastas norte-americanos passaram a se utilizar da linguagem dos documentários para subverter os mesmos, contar suas histórias de um jeito mais criativo e divertido, enganar os espectadores como jogada de marketing, ou simplesmente homenagear o gênero.
         
O que nos trás a outra questão fundamental: Qual a definição de documentário? A definição convencionalmente mais aceita é a de que documentário é a retratação de determinadas rotinas do tema escolhido, ou entrevistas e depoimentos sobre o tema, ou ainda tudo junto.
         
É a representação da realidade mediada pela linguagem. Porém, o que ocorre quando o tema a ser documentado é forjado especialmente para o filme? Ainda que em Nanook os esquimós não fizessem mais algumas funções do jeito mostrado por Flaherty, outras atividades ainda eram exercidas da mesma forma, e mais importante, eram esquimós legítimos.
         
Com o passar dos anos, o cinema documental norte-americano ganhou alguns exemplos de filmes que se utilizam da estética dos documentários para mostrar ao espectador histórias e fatos que não são reais, quebrando a barreira entre filmes documentários e filmes de ficção. Tais diretores criam o tema que será documentado e podem até passar a tratá-los como se fossem verdadeiros.
         
Existem três bons exemplos de falsos documentários que serão discutidos individualmente nas próximas semanas: Zelig, de 1983; This Is Spinal Tap, de 1984; A Bruxa de Blair, de 1999; e possivelmente o melhor representante do gênero: F for Fake, realizado por Orson Welles em 1973.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Moonrise Kingdom


O novo filme do diretor Wes Anderson provou-se uma grata surpresa. Apesar de não ser muito fã de filmes voltados mais ao público infantil, esse aqui me levou de volta aos bons tempos da Sessão da Tarde. Nostalgia e esquisitices na medida certa.

E ainda conta com um monte de gente no elenco, como Jared Gilman, Kara Hayward, Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton, Frances McDormand, Jason Schwartzman, Harvey Keitel e Bob Balaban.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Ruby Sparks: A Namorada Perfeita


Eu não gosto de comédias românticas, mas essa até que é bacaninha. Me entreteve durante a sessão e o toque de fantasia na história me agradou.

No elenco, Paul Dano, Zoe Kazan, Annette Bening, Antonio Banderas, Steve Coogan, Chris Messina e Elliott Gould.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Os melhores games de todos os tempos segundo o Cyrino


Não, não vou passar a referir a mim mesmo na terceira pessoa. É que como se trata de uma série de matérias escritas por vários delfianos, a identificação se faz necessária.

O título já é autoexplicativo. Cada um escolhe os cinco ou dez jogos de videogame que considera os melhores já feitos, a partir de critérios diversos e pessoais, seja parte técnica, valor sentimental ou importância para a indústria.

Preferi fazer um Top 5, mas com algumas menções honrosas antes, e me baseei na memória afetiva, privilegiando aquela que para mim é a época de ouro dos games, a primeira metade dos anos 90. A título de curiosidade inútil: essa é outra matéria que estava há tempos na fila de publicação (assim como as outras que formam este especial). Foi escrita em janeiro de 2008. Parece que foi ontem.

Seja como for, o especial já está rolando, com as matérias indo ao ar todo começo de semana. Entre e prestigie todas elas, tem muita coisa boa nessas listas.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O Muse e o Prince

O novo disco do Muse, The 2nd Law, acaba de ser lançado. Claro que na internet saiu antes. A faixa que mais me chamou atenção foi Panic Station. Pensei comigo mesmo, ao ouvir essa mistura de funk e pop que a banda nunca havia tentado antes: “hum, o Prince ficaria orgulhoso disso”.

Eis que dias depois o trio vai se apresentar nos estúdios da rádio BBC e não somente tocam Panic Station, como ainda fazem uma cover de Sign O’ the Times, do... Prince. Isso é que é escancarar de vez a referência. E ela também ficou boa. Escute as duas aí embaixo.

Agora o Muse já pode acrescentar o Prince em sua lista de influências, junto com o rock alternativo, progressivo, heavy metal, eletrônico, música clássica, dubstep... E o pior é que essa mistureba toda faz sentido e funciona, ao menos na sonoridade deles. Confira:


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Busca Implacável 2


O primeiro Busca Implacável apareceu em casa meio por acaso, pela capa tinha a maior cara de ser bem meia-boca. Mas foi um dos melhores filmes de ação que vi em muito tempo. Até hoje, quando passa na TV, para um pouco para rever um pedaço.

Esta sequência é bastante inferior, mas não exigindo demais, dá para o gasto.

No elenco, Liam Neeson, Maggie Grace, Famke Janssen, Rade Serbedzija e Leland Orser.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O monstro se manifesta


É uma coisa meio Jekyll e Hyde, meio Incrível Hulk. Ele também acreditava que havia um monstro furioso dentro dele esperando qualquer descuido para escapar, fazer um estrago, descontar a raiva contida.

Não acreditava que, ao se descontrolar, virava uma grande criatura verde que convenientemente nunca perdia as calças, mas acreditava que durante os acessos mudava, sim. Transformava-se em algo horripilante. Algo que não reconheceria no espelho.

As feições mudadas, deformadas por toda aquela raiva cega que não sabia explicar de onde saía, nem de onde vinha ou para onde ia. Num momento estava tudo bem, e então acontecia, num estalar de dedos. Metamorfose, a criatura irracional e incontrolável assumindo o comando. O ato de destruição inconsequente. E, ao final, como o resultado da passagem de um furacão, a trilha de destroços e os estragos a serem mensurados.

O monstro não assume responsabilidade alguma. Vem, vê e estraga. Para logo depois sumir nas profundezas da alma de seu alter ego, esperando e espreitando pela próxima oportunidade de escapulir. Sua outra metade que se vire com os danos. Que conserte tudo, lide com a vergonha e com as relações abaladas, talvez prestes a desmoronar.

Se um lado é implacável e livre de culpa, o racional pesa tudo e se remói, se tortura sem parar por atos que não são inteiramente culpa sua. Não se pode mudar a genética. No fim, tudo não passa de um infeliz acidente genético. Está tudo gravado no DNA, e não há técnica de aprimoramento que o combata. Como um bebê que nasce na água já nadando, a vontade de estragar tudo sem medir consequências deriva do mesmo caldo primordial.

O lado racional vem depois, quando a criatura já se foi, para analisar e controlar o incêndio, administrando a tragédia como um burocrata cansado. Preso na rotina. Só mais um dia na vida, tudo dentre a mais perfeita normalidade. O monstro? “Ah, normal”, ele responderia. “Isso acontece muito por aqui. Manja Tóquio e o Godzilla? Então, é quase igual”.

Entre um episódio e outro, o calmo e recém controlado alter ego vai juntando os cacos, recompondo o controle de sua vida momentaneamente tomada por sua versão mais furiosa. Contando os minutos para o próximo surto, pois sabe que é inevitável. Quando o monstro se manifesta, o melhor é sair do caminho e torcer para acabar logo. Antes que algo importante finalmente seja despedaçado além de qualquer reparo.