quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Número ímpar


 
Chega uma hora em que você olha em volta e constata: todos ao seu redor formam pares. Dois pra cá, dois pra lá. Chegam em pares, cumprimentam em pares, sentam em pares, bebem em pares, conversam entre pares e eventualmente vão embora em pares. Aí você percebe outra coisa.

Dá-se conta que só você não faz parte de um par. Você, meu amigo, é um número ímpar. É o número um, o mais solitário de todos. Você é o motivo matemático para os números quebrados resultantes de qualquer operação simples. É um problema, pois todos sabem que é muito mais fácil dividir entre pares.

Depois que você percebe ser o elemento estranho da fração, instaura-se a paranoia. Pares e ímpares não se misturam. Não podem conviver juntos, são as regras. Não fosse assim, nada seria determinado através do “par ou ímpar”. Ou no “dois ou um”.

Dois mais um são três. Ímpar. Quatro mais um igual a cinco. Ímpar. Percebeu? Se tivesse mais alguém com você, ok, formaria mais um belo número redondo. Mas não, você é um ímpar e não se completa no meio.

A equação está fechada, não é aqui que você vai encontrar aquele outro um que falta para completar a dupla e suavizar a conta. O problema é que você não sabe onde estão os outros ímpares. Aliás, ímpares é exagero, você quer apenas um. Um número um solitário como você. Mas eles parecem em extinção. Talvez porque estejam constantemente formando pares. Já nascem querendo somar-se a outro.

Enquanto pensa nisso, olha para um lado e para o outro, e, sentindo-se cafona pelo trocadilho mental barato, pensa consigo mesmo: bem que eu queria ter um par. Ser um par. Ser um só não funciona mais. Até os computadores funcionam em código binário. Até um zero seria mais desejável que ser um. Zero à esquerda.

Mas não há nada a fazer nesse momento, então apenas suspira, toma um gole de cerveja e acende um cigarro em silêncio, torcendo para que ninguém mais naquela mesa perceba o invasor infiltrado. Um número ímpar em desarmonia. Aquele que insiste em não formar par.

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