Taí uma afirmação categórica. Uma que vinha tomando forma desde que assisti Evil Dead pela primeira vez uns dez anos atrás (é, nem faz tanto tempo assim). E foi ganhando força a cada novo exemplar da trilogia. Pois Bruce Campbell é o Ash, o melhor matador de demônios a dar as caras no cinema. O homem que tem uma serra elétrica no lugar da mão, que manda uma frase de efeito atrás da outra e que é dono de um humor físico/pastelão inacreditável de tão perfeito.
Não deu outra, graças a seu carisma natural e toneladas de sangue falso derramado, virou ícone cult. Virou também um estigmatizado. Ator de filmes B. Produções trash de horror ou ficção científica. Orçamento irrisório, efeitos especiais risíveis, péssimos atores, roteiro sem pé nem cabeça, direção medíocre. Já deu pra ter uma ideia.
De vez em quando aparecia numa produção de respeito. Primeiro escalão, diretor famoso, orçamento inflado e grandes nomes no elenco. Você provavelmente não o viu porque deve ter piscado. Virou uma espécie de regra: Bruce Campbell no mainstream de Hollywood só em papéis minúsculos.
Rei mesmo só nos filmes B. Sem problema. Como protagonista de um filme independente tão ruim que chega a ser difícil de assistir ou numa ponta de cinco minutos da última comédia hollywoodiana, continuou sendo cool. Sua simpatia ultrapassa a qualidade de sua obra.
Eis que Bruce se lança como escritor e aquela afirmação categórica lá do começo é reenfatizada como nunca antes. Ele é o cara.
Acabei de ler recentemente seus dois livros e foi uma grande e agradável surpresa descobrir um escritor talentoso e que não deixa de ser um reflexo de sua persona de ator. Grande senso de humor, sabe rir de si mesmo. E, sobretudo, sabe conquistar sua atenção. Parece ser o tipo de cara com quem adoraria trocar uma ideia. E que sem dúvida contaria as melhores histórias.
Não deu outra, graças a seu carisma natural e toneladas de sangue falso derramado, virou ícone cult. Virou também um estigmatizado. Ator de filmes B. Produções trash de horror ou ficção científica. Orçamento irrisório, efeitos especiais risíveis, péssimos atores, roteiro sem pé nem cabeça, direção medíocre. Já deu pra ter uma ideia.
De vez em quando aparecia numa produção de respeito. Primeiro escalão, diretor famoso, orçamento inflado e grandes nomes no elenco. Você provavelmente não o viu porque deve ter piscado. Virou uma espécie de regra: Bruce Campbell no mainstream de Hollywood só em papéis minúsculos.
Rei mesmo só nos filmes B. Sem problema. Como protagonista de um filme independente tão ruim que chega a ser difícil de assistir ou numa ponta de cinco minutos da última comédia hollywoodiana, continuou sendo cool. Sua simpatia ultrapassa a qualidade de sua obra.
Eis que Bruce se lança como escritor e aquela afirmação categórica lá do começo é reenfatizada como nunca antes. Ele é o cara.
Acabei de ler recentemente seus dois livros e foi uma grande e agradável surpresa descobrir um escritor talentoso e que não deixa de ser um reflexo de sua persona de ator. Grande senso de humor, sabe rir de si mesmo. E, sobretudo, sabe conquistar sua atenção. Parece ser o tipo de cara com quem adoraria trocar uma ideia. E que sem dúvida contaria as melhores histórias.
Li primeiro sua autobiografia, com o mais que apropriado título de If Chins Could Kill: Confessions of a B Movie Actor (Se Queixos Pudessem Matar: Confissões de um Ator de Filmes B). Bruce já subverte o gênero simplesmente pelo fato de não ser famoso fora das rodinhas de fanáticos pelo cinema de terror. Sua vida, já explica logo no texto da contracapa, não possui nenhum acontecimento espetacular. E essa é a graça. É a história real de um cara real que nunca chegou realmente lá, mas está bem longe de estar na pior.
É a história de um operário do cinema, alguém que está às margens, onde o glamour e os grandes cachês não chegam. Sobretudo, é alguém que se diverte fazendo o que faz. O mais surpreendente nesse livro é a honestidade absurda com que Campbell encara os rumos de sua carreira. Sem um pingo de rancor ou ressentimento pelo papel que lhe coube na indústria. É a visão de alguém que possui plena consciência de seu tamanho e lugar no escopo geral das coisas.
Um dos melhores trechos é o capítulo em que conta como quase conseguiu o papel do Fantasma no filme de 1996. Bruce via aquela como sua grande chance de ruptura. De chegar ao estrelato e passar de uma vez por todas para o primeiro escalão, o dos grandes astros. Mesmo antes das adaptações de HQs serem uma moda lucrativa, era um personagem conhecido, uma superprodução hollywoodiana com potencial para virar franquia. Campbell se desdobrou e se esforçou como nunca. Fez testes atrás de testes e até quebrou o protocolo ao ir atrás da atriz com quem ia fazer o teste de câmera só para poder ensaiar direto com ela.
No final, a disputa ficou entre ele e Billy Zane. Perdeu para Zane. O resto você sabe: o filme foi um fracasso, Billy Zane nunca estourou e Bruce continuou relegado às produções de quinta categoria. E não tenho dúvidas, O Fantasma seria bem melhor com ele no papel.
No entanto, ele conta em seu livro, a partir dessa derrota tinha duas escolhas: continuar tentando, tendo de se submeter aos caprichos da indústria (plástica para remover sua famosa cicatriz no queixo, bronzeamentos artificiais, horas e horas em academias) ou aceitar a derrota e seguir em frente com sua vida, estrelando seus filminhos marginais de qualidade pra lá de duvidosa. Optou pela segunda. E em nenhum momento transparece qualquer derrotismo ou inveja em seu texto. Seria muito fácil taxar como papo de perdedor ressabiado. Mas você acredita no que ele escreve, que ele realmente optou pela opção saudável sem qualquer arrependimento.
Por essa e outras histórias, como os deliciosos contos da produção independente e mambembe do primeiro Evil Dead, vale a leitura para qualquer fã de cinema e de cultura pop.
Impossível não querer ler um livro com uma capa dessas! |
Essa semana terminei de ler seu segundo livro, uma empreitada ainda mais ambiciosa. Trata-se de seu primeiro romance: Make Love! The Bruce Campbell Way (Faça Amor! Ao Modo de Bruce Campbell), o qual mergulha de cabeça na metalinguagem (algo que ele já havia ensaiado em seu filme My Name Is Bruce) e usa e abusa de todos os elementos consagrados de sua autobiografia. Bruce é macaco velho, e claramente acredita na máxima de não mexer em time que está ganhando. Mais uma vez, quem ganha é o leitor.
Na história, Bruce Campbell finalmente recebe sua grande chance de passar para o primeiro escalão hollywoodiano ao ser contratado pelo diretor Mike Nichols (A Primeira Noite de um Homem, Closer – Perto Demais) para um papel coadjuvante na comédia romântica Let’s Make Love!, protagonizada por Richard Gere e Renée Zellweger.
Seu personagem é Foyl, o porteiro do prédio do personagem de Richard Gere, que age como seu guru em assuntos românticos. Fala-se que pode render uma indicação ao Oscar de coadjuvante e Bruce acaba conseguindo o emprego porque Nichols é fã de cinema independente, não importa a qualidade.
Com uma chance de ouro nas mãos, Bruce não pretende desperdiçá-la e se empenha como nunca antes. Faz laboratório (passa um dia como porteiro num hotel de luxo e acaba virando uma ameaça à segurança nacional), procura especialistas em relacionamentos e se mete em confusões das mais variadas espécies.
No entanto, a coisa fica boa quando, à medida que a produção do longa vai se desenrolando, todos à sua volta, do diretor aos astros, parecem pegar o “vírus do filme B”. Lentamente, o que era para ser uma simples comédia romântica hollywoodiana vai ficando cada vez mais parecido com um típico filme de Bruce Campbell.
Há passagens hilárias, como o ensaio com Richard Gere. E há a constatação de que o Campbell escritor não possui nenhum pudor em explorar de maneira comicamente autodepreciativa sua imagem, despindo-a de qualquer vaidade, como qualquer bom ator deveria fazer.
O esquema hollywoodiano é demolido com suas críticas e observações bem humoradas. Mas ninguém é mais detonado no romance do que o próprio Bruce Campbell, mesmo que seja uma versão fictícia. É admirável alguém ter esse nível de conforto com sua vida e carreira para saber rir de si mesmo. E então rir um pouco mais.
São duas leituras pra lá de recomendadas que dificilmente ganharão tradução brasileira, mas que vale mais do que a pena ir atrás. Quem é fã do cara, vai se surpreender com essa nova e insuspeita faceta. Quem não é, aposto que vai ficar depois da leitura.
Em tempo: Bruce finalmente parece ter conseguido um emprego firme e estável, fazendo parte do elenco fixo do seriado Burn Notice, que vai para sua sexta temporada. O ruim é que a rotina puxada de gravações impede que ele escreva um novo livro. Não tem problema, em telas grandes ou pequenas ou nas páginas de seus livros, Bruce confirma mais uma vez aquilo que já se sabia: ele é o cara. Hail to the king, baby!
Na história, Bruce Campbell finalmente recebe sua grande chance de passar para o primeiro escalão hollywoodiano ao ser contratado pelo diretor Mike Nichols (A Primeira Noite de um Homem, Closer – Perto Demais) para um papel coadjuvante na comédia romântica Let’s Make Love!, protagonizada por Richard Gere e Renée Zellweger.
Seu personagem é Foyl, o porteiro do prédio do personagem de Richard Gere, que age como seu guru em assuntos românticos. Fala-se que pode render uma indicação ao Oscar de coadjuvante e Bruce acaba conseguindo o emprego porque Nichols é fã de cinema independente, não importa a qualidade.
Com uma chance de ouro nas mãos, Bruce não pretende desperdiçá-la e se empenha como nunca antes. Faz laboratório (passa um dia como porteiro num hotel de luxo e acaba virando uma ameaça à segurança nacional), procura especialistas em relacionamentos e se mete em confusões das mais variadas espécies.
No entanto, a coisa fica boa quando, à medida que a produção do longa vai se desenrolando, todos à sua volta, do diretor aos astros, parecem pegar o “vírus do filme B”. Lentamente, o que era para ser uma simples comédia romântica hollywoodiana vai ficando cada vez mais parecido com um típico filme de Bruce Campbell.
Há passagens hilárias, como o ensaio com Richard Gere. E há a constatação de que o Campbell escritor não possui nenhum pudor em explorar de maneira comicamente autodepreciativa sua imagem, despindo-a de qualquer vaidade, como qualquer bom ator deveria fazer.
O esquema hollywoodiano é demolido com suas críticas e observações bem humoradas. Mas ninguém é mais detonado no romance do que o próprio Bruce Campbell, mesmo que seja uma versão fictícia. É admirável alguém ter esse nível de conforto com sua vida e carreira para saber rir de si mesmo. E então rir um pouco mais.
São duas leituras pra lá de recomendadas que dificilmente ganharão tradução brasileira, mas que vale mais do que a pena ir atrás. Quem é fã do cara, vai se surpreender com essa nova e insuspeita faceta. Quem não é, aposto que vai ficar depois da leitura.
Em tempo: Bruce finalmente parece ter conseguido um emprego firme e estável, fazendo parte do elenco fixo do seriado Burn Notice, que vai para sua sexta temporada. O ruim é que a rotina puxada de gravações impede que ele escreva um novo livro. Não tem problema, em telas grandes ou pequenas ou nas páginas de seus livros, Bruce confirma mais uma vez aquilo que já se sabia: ele é o cara. Hail to the king, baby!
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