Começou em 2008. Lá no final, no Natal, especificamente. Casa dos parentes no interior, calor escaldante, abafado. Opressor. Tradição de família. Alguém não estava presente, nunca mais estaria. A pessoa mais importante do clã, a que unia cada um de seus integrantes. Deixou-nos no começo daquele 2008. E parafraseando Forrest Gump: “isso é tudo que tenho a dizer sobre isso”.
Depressão, melancolia, solidão. De repente a casa tinha muitos quartos vazios. De repente eu tinha um diploma recente de jornalismo na mão e nada a fazer com ele. Faltava uma pessoa. Faltavam-me perspectivas. Faltava era vontade.
Engraçado como minha situação naquela virada de ano era muito parecida com a do protagonista d’O Rabo do Cachorro. Estava solteiro, desempregado e sem dinheiro. Eu só não tinha 30 anos. E talvez, no meu caso, valha uma pequena liberdade criativa. Trocar o “sem dinheiro” por “sem objetivo”.
Não me sentia nem um pouco festivo naquele Natal. Queria cavar um buraco e me enterrar. Parecia um adolescente temperamental. No meu tempo de moleque ainda não existiam emos... Briguei com a família. Nem lembro por que, uma besteira qualquer, provavelmente. Chester ao invés de peru.
Discussão num supermercado. Comprando as coisas da ceia. Nunca havia me sentido tão baixo, e eu já havia descido fundo algumas vezes. A frase veio. Instantânea, num estalar de dedos, já lapidada e finalizada. Pronta para abrir um livro. Um romance de estreia. Eu queria morar em uma cidade fantasma. Esse era meu estado de espírito natalino. Era meu estado de espírito durante todo aquele 2008.
Assim que voltamos pra casa dos parentes, anotei a frase num pedaço de papel e guardei na carteira. O Natal chegou a fórceps e foi embora. Voltei pra casa. A grande cidade cinza. Novo ano começando do jeitinho que o velho terminara. Sofá, televisão, existência mínima. O papel ficou na carteira.
O bom das mães é que não importa a idade que os filhos tenham, elas vão puxar suas orelhas até tomar prumo (ou arrancá-las fora). A minha me deu um chute (figurado) no traseiro. Ultimato. Faça. Alguma coisa. Qualquer coisa. Viva. Ou não volte mais. Escolhi fazer, mais por medo que por vontade própria. Não importam os meios, mas sim a finalidade atingida. Essa frase não seria um clichê se não fosse verdade. A bunda ainda doendo da botinada serviu para colocar o resto do corpo em movimento. Tirei o papel da carteira e coloquei do lado do computador.
Dias depois recebo um e-mail. Um velho amigo. Ele tinha 30 anos. Estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. E havia escrito um romance... Queria que eu lesse. Que lhe dissesse depois o que achei. Mandou o arquivo e lá estava. Bem na minha frente. A prova de que era possível. Não apenas um sonho inalcançável. Eis alguém que eu conhecia há oito anos e havia quebrado a barreira. Não era só um nome numa capa. Era alguém que eu conhecia, um cara normal, apenas mais determinado. Que mostrou a possibilidade. O caminho.
Liguei o computador. Passei aquela frase no pedaço de papel para o editor de texto. E depois dela fui tirando outras da cabeça. Colocando uma atrás da outra. Até encher parágrafos. Páginas. Pouco mais de uma centena delas. Até colocar o ponto final. Ainda não tinha 30 anos. Ainda estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. Mas havia encontrado um objetivo. E talvez o mais importante: não queria mais morar em uma cidade fantasma.
Determinados fatos e suas ordens corretas costumam se misturar em minha cabeça. Portanto, a sucessão dos acontecimentos pode não ter se desenrolado exatamente conforme o descrito aqui. Mas o importante, o teor, esse é 100% preciso. E às pessoas que figuraram nesse texto e nesse período difícil, àqueles que contribuíram para me tirar do meio da nuvem da apatia, ainda que não estejam citadas nominalmente ou mesmo de forma clara, elas sabem quem são. Obrigado.
Vocês sabem no que isso deu. Se valeu a pena? Não é a questão. Está feito. Esse era o objetivo. Fazer alguma coisa. Fiz. Continuo fazendo mais algumas coisas como essa, mesmo todos esses anos depois. Acho que isso responde se valeu a pena ou não.
Depressão, melancolia, solidão. De repente a casa tinha muitos quartos vazios. De repente eu tinha um diploma recente de jornalismo na mão e nada a fazer com ele. Faltava uma pessoa. Faltavam-me perspectivas. Faltava era vontade.
Engraçado como minha situação naquela virada de ano era muito parecida com a do protagonista d’O Rabo do Cachorro. Estava solteiro, desempregado e sem dinheiro. Eu só não tinha 30 anos. E talvez, no meu caso, valha uma pequena liberdade criativa. Trocar o “sem dinheiro” por “sem objetivo”.
Não me sentia nem um pouco festivo naquele Natal. Queria cavar um buraco e me enterrar. Parecia um adolescente temperamental. No meu tempo de moleque ainda não existiam emos... Briguei com a família. Nem lembro por que, uma besteira qualquer, provavelmente. Chester ao invés de peru.
Discussão num supermercado. Comprando as coisas da ceia. Nunca havia me sentido tão baixo, e eu já havia descido fundo algumas vezes. A frase veio. Instantânea, num estalar de dedos, já lapidada e finalizada. Pronta para abrir um livro. Um romance de estreia. Eu queria morar em uma cidade fantasma. Esse era meu estado de espírito natalino. Era meu estado de espírito durante todo aquele 2008.
Assim que voltamos pra casa dos parentes, anotei a frase num pedaço de papel e guardei na carteira. O Natal chegou a fórceps e foi embora. Voltei pra casa. A grande cidade cinza. Novo ano começando do jeitinho que o velho terminara. Sofá, televisão, existência mínima. O papel ficou na carteira.
O bom das mães é que não importa a idade que os filhos tenham, elas vão puxar suas orelhas até tomar prumo (ou arrancá-las fora). A minha me deu um chute (figurado) no traseiro. Ultimato. Faça. Alguma coisa. Qualquer coisa. Viva. Ou não volte mais. Escolhi fazer, mais por medo que por vontade própria. Não importam os meios, mas sim a finalidade atingida. Essa frase não seria um clichê se não fosse verdade. A bunda ainda doendo da botinada serviu para colocar o resto do corpo em movimento. Tirei o papel da carteira e coloquei do lado do computador.
Dias depois recebo um e-mail. Um velho amigo. Ele tinha 30 anos. Estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. E havia escrito um romance... Queria que eu lesse. Que lhe dissesse depois o que achei. Mandou o arquivo e lá estava. Bem na minha frente. A prova de que era possível. Não apenas um sonho inalcançável. Eis alguém que eu conhecia há oito anos e havia quebrado a barreira. Não era só um nome numa capa. Era alguém que eu conhecia, um cara normal, apenas mais determinado. Que mostrou a possibilidade. O caminho.
Liguei o computador. Passei aquela frase no pedaço de papel para o editor de texto. E depois dela fui tirando outras da cabeça. Colocando uma atrás da outra. Até encher parágrafos. Páginas. Pouco mais de uma centena delas. Até colocar o ponto final. Ainda não tinha 30 anos. Ainda estava desempregado, solteiro e sem dinheiro. Mas havia encontrado um objetivo. E talvez o mais importante: não queria mais morar em uma cidade fantasma.
Determinados fatos e suas ordens corretas costumam se misturar em minha cabeça. Portanto, a sucessão dos acontecimentos pode não ter se desenrolado exatamente conforme o descrito aqui. Mas o importante, o teor, esse é 100% preciso. E às pessoas que figuraram nesse texto e nesse período difícil, àqueles que contribuíram para me tirar do meio da nuvem da apatia, ainda que não estejam citadas nominalmente ou mesmo de forma clara, elas sabem quem são. Obrigado.
Vocês sabem no que isso deu. Se valeu a pena? Não é a questão. Está feito. Esse era o objetivo. Fazer alguma coisa. Fiz. Continuo fazendo mais algumas coisas como essa, mesmo todos esses anos depois. Acho que isso responde se valeu a pena ou não.
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