terça-feira, 6 de novembro de 2012

Falsos documentários: Parte IV - Zelig


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(Zelig, EUA, 1983)
79min
Direção e roteiro: Woody Allen

Leonard Zelig viveu nos EUA dos anos 20 e 30 e virou celebridade mundial por causa de sua peculiar doença. Zelig, um sujeito miúdo, sem graça e totalmente desprovido de personalidade, é tão ansioso em agradar às pessoas que o cercam (e de ser aceito por elas) que acaba desenvolvendo um extraordinário poder de mimetismo. Ele se torna um verdadeiro camaleão humano capaz de absorver involuntariamente as características físicas e psicológicas de quem estiver por perto, seja um influente político, um músico negro, um indivíduo gordo ou com traços orientais.

Partindo dessa premissa, Woody Allen realizou, em 1983, um falso documentário sobre essa “figura histórica”. A estranha trajetória de Zelig, interpretado pelo próprio Woody Allen, é relatada como se fosse um documentário convencional: narração em over, depoimentos de pessoas que conheceram Zelig de alguma forma, coletâneas de fotografias, cinejornais de época, é como se o filme inteiro fosse um gigantesco cinejornal, bem ao estilo do cinejornal do começo de Cidadão Kane.

Allen brinca o tempo inteiro com o verdadeiro e o falso: há depoimentos fictícios e reais, sequências forjadas de cinejornais sobre o fenômeno Zelig e cinejornais antigos verdadeiros, nos quais a figura de Zelig é inserida com sutileza e humor. Os efeitos são magníficos, méritos do fotógrafo Gordon Willis, e um meticuloso trabalho que durou três anos. Onze anos antes de Forrest Gump, de Robert Zemeckis, Allen coloca seu personagem próximo a Adolf Hitler, ao lado do papa Pio XI no Vaticano, e de outras celebridades da época, como Eugene O’Neill, F. Scott Fitzgerald, Charlie Chaplin, Josephine Baker e Charles Lindenbergh, entre outros.

A partir do momento em que a mídia descobre a existência de Zelig, ele é internado num hospital psiquiátrico, onde é tratado pela médica interpretada por Mia Farrow, embora ele, com muita naturalidade, logo comece a agir como um discípulo de Freud.

Enquanto isso, o país acompanha atentamente todas as notícias sobre ele, e o transformam numa espécie de herói, criando músicas a seu respeito e levando sua história para o cinema de ficção. Em determinados momentos, cenas desses filmes inspirados no caso Zelig (todos obviamente falsos) são mostrados para que tenhamos uma idéia do que foi o fenômeno.

Diferentemente dos dois filmes já comentados, este não tinha a menor intenção de confundir os espectadores, dado o absurdo da história e nem de se valer de uma jogada de marketing. A intenção de Woody Allen foi simplesmente de brincar com outra forma de narrativa, trazendo essa estética documental para os filmes de ficção.

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