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(Zelig, EUA, 1983)
79min
Direção e roteiro: Woody Allen
Leonard
Zelig viveu nos EUA dos anos 20 e 30 e virou celebridade mundial por causa de
sua peculiar doença. Zelig, um sujeito miúdo, sem graça e totalmente desprovido
de personalidade, é tão ansioso em agradar às pessoas que o cercam (e de ser
aceito por elas) que acaba desenvolvendo um extraordinário poder de mimetismo.
Ele se torna um verdadeiro camaleão humano capaz de absorver involuntariamente
as características físicas e psicológicas de quem estiver por perto, seja um
influente político, um músico negro, um indivíduo gordo ou com traços
orientais.
Partindo
dessa premissa, Woody Allen realizou, em 1983, um falso documentário sobre essa
“figura histórica”. A estranha trajetória de Zelig, interpretado pelo próprio
Woody Allen, é relatada como se fosse um documentário convencional: narração em
over, depoimentos de pessoas que
conheceram Zelig de alguma forma, coletâneas de fotografias, cinejornais de
época, é como se o filme inteiro fosse um gigantesco cinejornal, bem ao estilo
do cinejornal do começo de Cidadão Kane.
Allen
brinca o tempo inteiro com o verdadeiro e o falso: há depoimentos fictícios e
reais, sequências forjadas de cinejornais sobre o fenômeno Zelig e cinejornais
antigos verdadeiros, nos quais a figura de Zelig é inserida com sutileza e
humor. Os efeitos são magníficos, méritos do fotógrafo Gordon Willis, e um
meticuloso trabalho que durou três anos. Onze anos antes de Forrest Gump, de Robert Zemeckis, Allen
coloca seu personagem próximo a Adolf Hitler, ao lado do papa Pio XI no
Vaticano, e de outras celebridades da época, como Eugene O’Neill, F. Scott
Fitzgerald, Charlie Chaplin, Josephine Baker e Charles Lindenbergh, entre
outros.
A
partir do momento em que a mídia descobre a existência de Zelig, ele é
internado num hospital psiquiátrico, onde é tratado pela médica interpretada
por Mia Farrow, embora ele, com muita naturalidade, logo comece a agir como um
discípulo de Freud.
Enquanto
isso, o país acompanha atentamente todas as notícias sobre ele, e o transformam
numa espécie de herói, criando músicas a seu respeito e levando sua história
para o cinema de ficção. Em determinados momentos, cenas desses filmes
inspirados no caso Zelig (todos obviamente falsos) são mostrados para que
tenhamos uma idéia do que foi o fenômeno.
Diferentemente
dos dois filmes já comentados, este não tinha a menor intenção de confundir os
espectadores, dado o absurdo da história e nem de se valer de uma jogada de
marketing. A intenção de Woody Allen foi simplesmente de brincar com outra
forma de narrativa, trazendo essa estética documental para os filmes de ficção.
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