Para quem sempre gostou
de cenários pós-apocalípticos, é curioso como alguns deles ultimamente ameaçam
de acontecer (ou começam a ocorrer) na vida real.
Ruas vazias, comércio
fechado, idiotas estocando mantimento, os aproveitadores de sempre tentando se
dar bem com o medo e apreensão da população. Se você já viu um filme ou leu um
livro/quadrinho de temática pós-apocalíptica, conhece esses lugares comuns. Às
vezes eles saltam da ficção para a realidade.
A definição é errônea. O
apocalipse não aconteceu (ainda). Talvez daqui há mais dois ou três vírus, quem
sabe os mortos não passem a caminhar sobre a terra por falta de lugar no
inferno.
Por enquanto o cenário
não é tão ermo. Não chegamos lá, estamos apenas a caminho. Como no primeiro Mad
Max, onde a civilização ainda não havia desmoronado, mas o pano de fundo
dava a entender que tudo estava indo para o saco, embora as instituições
fizessem um último esforço para manter a ordem. Era preciso prestar atenção nas
conversas e informes do rádio da polícia para pegar os detalhes desse panorama.
Ou ainda The Rover – A
Caçada, que se passa numa situação similar, com menos detalhes ainda.
Parece ser um colapso econômico levando o mundo à boca da ruína da sociedade. E
qual é a dos australianos com esse tipo de construção de mundo, a um passo da
falência total? O que será que eles sabem lá do outro lado do planeta?
Eu sempre gostei desse
tipo de história, tanto as verdadeiramente pós-apocalípticas quanto as do tipo
“à beira do colapso”. É um bom exercício imaginar o mundo em alguma situação
similar, como seria viver nele.
E eis que ultimamente nem
precisamos mais desse exercício. Quando, numa segunda-feira que não é feriado
nem qualquer outra data especial, você tem ruas vazias, quase desertas, com
menos trânsito que nas festas de fim de ano? Comércio fechado, poucas pessoas
andando pelas ruas, muitas de máscara. Faltou só aquela decoração de fim de
mundo, asfalto rachado (bom, isso até que é fácil de encontrar...), prédios
ruindo, o mato invadindo as rachaduras no concreto, aquelas folhas de jornal
carregadas pelo vento.
E uma paz que há muito
não se via na terceira maior cidade do mundo. E para tudo isso acontecer,
bastou apenas um vírus se alastrar... Situação de ficção científica deixando
todo mundo em casa e provando que teríamos mais qualidade de vida com menos
gente por perto.
E é óbvio que, justo
quando a recomendação é de se isolar em casa, aí é que bate aquela vontade de
ir lá pra fora, curiosidade mórbida misturada à chance poucas vezes oferecida
de se poder conferir ao vivo e a cores o cenário descrito pouco mais acima.
Além da Cúpula do Trovão
Antes disso veio aquela
greve dos caminhoneiros que cortou o fornecimento de combustível. Filas nos
postos, racionamento dos veículos, meios de transporte alternativos. Por que é
que nos filmes pós-apocalípticos ninguém anda de bicicleta?
Gasolina virou, naquelas
semanas, uma commodity rara e valiosa O que é mais Mad Max do que isso?
Lorde Humungus, o Aiatolá do Rock n’ Roll, ficaria orgulhoso.
Novamente ruas mais
vazias, noticiários beirando o fantástico, uma chacoalhada no status quo que eu
sempre achei bem interessante. Um dia você tem, no outro não. Tudo pode acabar
assim, do dia para a noite. Seja a gasolina, seja o cotidiano de uma metrópole.
Meu espírito de porco vibra.
Engraçado que naquele
período, ironicamente, fui viajar de carro (após conseguir um pouco do precioso
líquido com meu amigo Humungus). Na metade do trajeto parei num posto. Não para
abastecer, mas para esticar as pernas, usar o banheiro, comprar um tira-gosto.
O local estava quase deserto, nada dos ônibus que sempre paravam lá, um ou dois
carros, moscas voando e um cachorro sarnento.
E vindo do sistema de som
do local, Tina Turner cantando We Don’t Need Another Hero. Não seria
mais perfeito nem se alguém tivesse escrito isso. Nem se tivesse saído da
imaginação do próprio George Miller. Porque estava acontecendo. Uma
sincronicidade incrível ou o gaiato que controlava o sistema de som também era
fã de Mad Max e também reconheceu a situação que fazia ecos à série e a
trilha sonora perfeita para o momento?
Gosto de acreditar no
primeiro pela pureza, mas o segundo também me agrada pelo senso de humor
similar ao meu. É sempre bom saber que em tempos que se aproximam do fim ainda
há ironia no ar. Mesmo que venha misturada a um vírus letal.
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