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(F
for Fake, EUA, 1973)
86min
Direção e roteiro: Orson
Welles
O
último filme dirigido por Orson Welles mostra de maneira lúdica, porém
incisiva, uma dupla de falsificadores famosos. Welles investiga o excêntrico
falsificador de obras de arte Elmyr de Hory e seu confidente e biógrafo,
Clifford Irving, cuja biografia do magnata da mídia Howard Hughes, surgiu como
a maior falsificação da década de 70.
Welles
utiliza-se da estética documental, narração em over, depoimentos dos envolvidos, para, a todo momento, confundir o
espectador. No início do filme, Welles aparece dizendo que o que ele mostrará
na próxima hora é a absoluta verdade. Mas, fora o fato do longa ter mais de 60
minutos, Orson nos lembra no início do filme de que ele é um prestidigitador,
um mestre na arte da enganação, e, a partir daí, ele passa a brincar com esse conceito
do que é verdadeiro e do que é falso a todo o momento.
Nos
é apresentada a história de Elmyr, que seria o maior falsificador de arte de
todos os tempos. O diretor nos conta detalhes de sua vida e de sua carreira,
intercalando depoimentos do próprio Elmyr. A grande questão é: seria Elmyr uma
falsificação de Welles? Teria ele realmente existido ou ao menos ele teria sido
baseado em alguém? É difícil para quem não pertence ao mundo das artes saber,
pois sua história é tão bem fundamentada que é fácil crer em sua existência.
Depois
Orson nos apresenta a história do parceiro de Elmyr, seu biógrafo, o escritor
Clifford Irving, que teria sido ele próprio também um falsificador, enganando
toda a América com uma falsa biografia sobre o magnata da imprensa, o recluso
Howard Hughes. Irving nunca teria se encontrado com Hughes, e, portanto, a
biografia que ele escreveu é uma fraude. Welles nos mostra várias teorias sobre
o golpe de Irving, mas nunca esclarece a verdade.
O
próprio diretor se compara a estes dois falsificadores. Em determinado momento,
ele “interrompe” o filme para contar sua história, através de fotografias,
trechos de filmes e depoimentos de gente que trabalhou com ele, de como começou
no meio artístico como pintor, passando pelo teatro, e sua primeira grande
falsificação, a transposição da obra A
Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, para o rádio, onde ele deixou pouco mais
de um milhão de ouvintes apavorados achando que o falso noticiário (formato
encontrado por ele para transpor a obra) era real.
Após
pedir desculpas publicamente, Welles foi convidado para trabalhar em Hollywood,
onde realizou Cidadão Kane, seu
primeiro filme, considerado por muitos como o melhor longa-metragem de todos os
tempos. Ironicamente, a história de Cidadão
Kane se baseia na vida de Howard Hughes, ligando o próprio Orson Welles a
Clifford Irving, que pode ou não ser criação sua.
No
final, ainda há a história de Picasso, contada com maestria pelo próprio Orson,
ligando o artista a Elmyr. A história é tão boa que quase nos faz querer
acreditar que seja verdade, porém, este caso é contado depois de uma hora de
filme.... Assim, Orson Welles deixa como legado uma obra-prima que nos
demonstra com audácia a natureza ilusória da autoria e da verdade.