Nessa nova edição da Discografia, darei uma geral em mais uma de minhas bandas favoritas, a quarta em meu Top 5 de todos os tempos (a primeira já apareceu por aqui. As outras três devem pintar em breve). Falo dos Pixies, aquela que talvez seja a mais influente das bandas do rock alternativo.
Formado em Boston, EUA, em 1986 por Black Francis (vocais e guitarra), Joey Santiago (guitarra solo), Kim Deal (baixo e vocais) e David Lovering (bateria), o grupo misturou em sua sonoridade o rock barulhento das bandas indies dos EUA, as melodias grudentas da surf music e a famosa estrutura de versos calmos e refrões pesados. Não à toa, Kurt Cobain disse em entrevista que, quando compôs Smells Like Teen Spirit, estava apenas tentando copiar os Pixies.
O Nirvana não foi a única banda influenciada por eles. Praticamente meio mundo da cena do rock indie deve algo aos Pixies. Gente bem estabelecida, como David Bowie, também elogiou. No entanto, apesar das láureas da crítica especializada e dos muitos fãs ilustres, eles nunca foram um sucesso de público, o que, além das tensões entre os integrantes, contribuiu para que eles acabassem oficialmente em 1993, muito embora a banda já estivesse parada antes disso.
No começo dos anos 2000 eles anunciaram sua volta, com propósito estritamente comercial. Agora que eles eram conhecidos como influência de muita gente, queriam capitalizar da fama e ganhar em turnês toda a grana que nunca ganharam em sua primeira encarnação. Embora sempre surjam rumores de um novo disco de inéditas, até o presente momento não há nada confirmado e a banda só gravou uma música nova desde que retornou, chamada Bam Thwok.
Agora que já foram devidamente apresentados, vamos dar uma passada por seus discos de estúdio.
Come on Pilgrim (1987)
Os Pixies estreiam em disco com este EP com oito faixas. Nele, suas principais características já estavam presentes: as guitarras dissonantes, a influência pesada de surf music, os vocais ensandecidos de Black Francis e a estrutura de versos calmos e refrão barulhento que tornou a banda tão famosa. Isla de Encanta (cantada num espanglês muito do sem vergonha), The Holiday Song, Nimrod’s Son e Levitate Me são destaques.
Nota: 9
Surfer Rosa (1988)
Em seu primeiro álbum cheio, a banda não faz nada de diferente do que entregara em seu EP de estreia. E comete um grande disco, cheio de energia. Das 14 faixas, talvez apenas Cactus e I’m Amazed estejam um patamar abaixo das outras. Entre os grandes momentos, pode-se destacar o berreiro de Something Against You, Kim Deal assumindo os vocais na grudenta Gigantic e Where’s My Mind?, que anos depois virou a música de encerramento do filme Clube da Luta, casando muito bem com as imagens. Honestamente, não sei dizer se prefiro este disco ou Doolittle.
Nota: 9,5
Doolittle (1989)
Em franca ascensão, o grupo comete aquele que é considerado seu melhor álbum. Dessa vez até concordo com a maioria, embora, como disse ali em cima, às vezes fico em dúvida entre este e Surfer Rosa. Cheio de clássicos como Debaser (com sua letra inspirada por Um Cão Andaluz, de Buñuel), Wave of Mutilation, Here Comes Your Man (a mais conhecida e mais pop das canções do quarteto) e Monkey Gone to Heaven, misturados a momentos de pura loucura sonora como Tame, I Bleed, Crackity Jones e a divertida La La Love You, cantada pelo baterista David Lovering. Um grande disco.
Nota: 10
Bossanova (1990)
Tudo que sobe tem que descer. Se Doolittle foi o auge criativo dos Pixies, seu sucessor, Bossanova, com certeza pode ser considerado o ponto baixo, o que no caso desta banda quer dizer um disco ótimo que muita bandinha alternativa nunca conseguiu chegar nem perto de fazer. Muito mais influenciado pela surf music que seus antecessores, o que se reflete na cover instrumental Cecilia Ann e em faixas como Velouria (que faz uso de teremim), Stormy Weather e Havalina. Também tem as tipicamente pixianas Allison, Dig for Fire e Hang Wire. Porém, são nas faixas maiores All Over the World e The Happening, excessivamente repetitivas, que mostram que sua maior virtude são mesmo as músicas curtas e diretas que marcaram sua carreira.
Nota: 8
Trompe le Monde (1991)
O último disco de estúdio da banda é uma despedida em grande estilo, voltando à boa forma de Surfer Rosa e Doolittle. Começando a 120 km/h com a trinca Trompe le Monde, Planet of Sound, Alec Eiffel, passando pela cover de Head On, do The Jesus & Mary Chain, até acabar na psicodélica The Navajo Know, são 15 faixas irretocáveis, que mostram que se o grupo não tivesse acabado, quem sabe até onde poderia ter chegado em termos criativos. Certa vez li uma nota na antiga revista Bizz onde David Bowie dizia que adorava este disco. Quem sou eu para ir contra o Camaleão?
Nota: 10