terça-feira, 13 de março de 2012

O ponto final


Alguns dias atrás terminei um trabalho. O primeiro a receber o famigerado ponto final em uns bons meses. Me senti aliviado. Andava meio travado para coisas mais longas, daquelas que não dá para matar em um ou dois dias. Cheio de falsos começos e abandonos bastante verdadeiros.

Quando isso acontece muitas vezes seguidas, como foi o caso, é inevitável pensar se o seu mojo não foi pro saco. Se em algum momento do caminho você perdeu a manha e se algum dia ela voltará. Sei que isso é normal, qualquer escritor passa por isso em algum momento.

Mesmo assim, mesmo racionalizando, não há como controlar aquele medo de que talvez nada mais saia. Medo é primitivo, você analisa, analisa, compreende o porquê, mas isso não quer dizer que ele vai embora. Não desse jeito. Ele só passa quando você conclui um novo trabalho e vê por si mesmo que ainda consegue. Que talvez a pior parte tenha ficado para trás. E se anima com projetos futuros. Pra quê dar sopa para o azar? Já que finalmente destravou, emenda outra coisa logo.

Enfim, me surpreendeu também a velocidade. Nunca fui muito rápido. Nunca gostei de fazer nada com pressa, não sou de acelerar muito se não é necessário. Mas esse negócio saiu em duas semanas. Foi um recorde pessoal. Vai ver, para compensar todo o tempo perdido antes. Eu é que não vou reclamar. É bom porque assim também eu não fico enfastiado, mergulhado na mesma história por tanto tempo que no final já estou entediado. Saiu, foi rápido, beleza.

Pus o ponto final, mas isso não quer dizer exatamente que acabou. Na verdade não, longe disso. Faltam algumas fases do processo. A história está no papel, isso acabou. A parte mais longa e mais difícil. Diria que constitui uns 85% do tal processo. O resto é que ainda falta fazer.

Já fiz uma primeira revisão, moleza, a história já está no papel. Agora falta passar para os meus leitores de confiança, aqueles que leem tudo em primeira mão, quentinho, saído do forno. Falta o feedback deles. Falta pesar suas opiniões e sugestões. E fazer as alterações de acordo. E depois faltará a revisão final, aquela para catar coisas minúsculas que tendem a passar despercebidas por várias vezes. Aí sim, acabou pra valer. Mas tudo isso é fácil, o importante é que a história já está no papel.

Depois que você consegue encará-la fisicamente, seja porque ela está impressa ou na tela do computador, tudo fica mais fácil, mais leve. Tudo que veio antes passa a compensar e mal se pode esperar para começar tudo de novo. É esse espaço entre um ponto final e outro, com tudo de negativo e positivo que acarreta, que me move.

Até chegar à última página. Ao ponto final. E aí procurar pelo próximo, mesmo sem saber exatamente onde ele vai estar. Mas o importante é que a história esteja no papel. O ponto final você encontra depois.

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