Perto
da casa do meu pai no interior há um terreno baldio. Ele sempre esteve lá,
desde que eu me lembro. Tem o tamanho exato de uma casa, mas por algum motivo
que nunca soube, ou já esqueci, nunca ergueram nada ali.
Os
moradores da rua improvisaram um banco de praça na frente e a criançada do
bairro jogava bola ali. Fizeram uma trave com pedaços de pau que davam sopa lá
dentro e a outra era aquela tradicional composta por chinelos e tênis de quem
estivesse presente.
Até
eu, que nunca fui de praticar qualquer esporte por livre e espontânea vontade,
joguei ali em algumas ocasiões na minha infância e pré-adolescência. Marquei
meus gols, catei no gol e sujei as bermudas e ralei os joelhos na terra batida
do terreno. Sempre tinha molecada ali, fazendo barulho, enchendo a vizinhança
de vida. Pra mim, isso definia a diferença entre cidades grandes e as do interior.
Fiquei
uns quatro anos sem ir à casa do meu pai. Voltei lá nesse Natal. A primeira
coisa que me chamou a atenção, assim que saltei do carro e meu olhar se dirigiu
para o outro lado da rua, foi a cerca fechando o terreno. De outro modo continuava
igualzinho, o mato baixo, o banco improvisado na frente. Mas a cerca de metal
nova negando acesso era o corpo estranho ali.
De
repente o bairro entristeceu. Nenhum pio durante o dia todo. De repente até o
banco, ponto de encontro dos velhos, esvaziou num silêncio abismal, quebrado
pelo eventual carro passando na rua que cruza. De repente aquilo não tinha mais
cara de interior, onde ainda era possível jogar bola num terreno baldio. De
repente parecia qualquer cidade grande, com seus espaços protegidos, entrada
estritamente restrita, fique fora.
Subitamente
o bairro se tornou muito mais antipático do que me lembrava. O mundo está
cercado, deus me livre a molecada se divertir num dos poucos espaços verdes que
existem dentro de um perímetro urbano. “Essa molecada de hoje é tudo nóia, vai
é fumar maconha e crack”. Mas será que não sobrou ninguém a fim de bater uma
bola?
Me
senti escorraçado, indesejado. De repente não era mais bem-vindo ali. Cercas
novas surgem a cada dia, nos empurrando para fora, destruindo opções. Nos
obrigando a ficar dentro de casa, protegidos pelas cercas que nós mesmos colocamos.
Mas pelo menos essas são nossas. O terreno próximo, mais baldio do que nunca.
Gostei, Dox! Bem deprê!!!!!!!
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