Diversos agentes da polícia cercam uma casa no meio do mato. Todos fortemente armados e preparados para atirar. O policial líder toca a campainha de arma em punho. Após alguns segundos, a porta se abre revelando um sujeito calmo, muito embora suas roupas estejam manchadas do que parece ser sangue seco.
— Pois não?
— Polícia, meu senhor.
— Aconteceu alguma coisa?
— Temos um mandado de busca nas premissas.
O serial killer abre totalmente a porta, e um monte de policiais adentra a casa se espalhando por todos os cômodos e criando um perímetro. O policial dá uma olhada geral na sala.
— Recebemos uma denúncia anônima a respeito de mortes na propriedade.
— Mas que absurdo.
— Isso aí na sua roupa é sangue?
— Não, é só molho de tomate.
— E isso aí nas suas mãos?
O serial killer mostra as mãos, encharcadas de sangue fresco.
— Isso é sangue.
Os policiais ficam em polvorosa.
— É sangue de animal. Eu sou caçador. Tava preparando um coelho à fricacê.
— Seu monstro! – exclama um outro policial.
— Ele é muito sensível – o policial líder confidencia ao serial killer. – É vegetariano...
— Aahhhh....
Outro policial, que olhava debaixo do sofá, se levanta e vai até eles.
— Olha o que eu achei – diz o terceiro policial. Ele abre a mão, revelando um punhado de dentes humanos.
— Como o senhor explica isso? – questiona o policial líder.
— É que eu sou dentista. Às vezes eu levo trabalho pra casa.
— Eu acho que o senhor é um assassino.
— Que é isso, meu senhor?! Sou um homem de bem.
— E como explica aquilo ali? – pergunta apontando para um abajur próximo.
— É um abajur... É pra ler de noite.
— É feito de pele humana!
— O senhor tá enganado.
— Olha ali o umbigo!
— É arte moderna!
Outro policial se aproxima e cochicha algo no ouvido do policial líder.
— Acabo de ser informado que há cabeças humanas na sua geladeira.
— Ah, vá! – exclama incrédulo. – A geladeira não é minha.
— Olha aqui a nota fiscal.
— Tudo bem, mas as cabeças não são minhas.
— E essas fotos que você tirou de si mesmo no momento em que cortava as cabeças?
O policial vai mostrando ao serial killer uma série de polaróides onde o assassino em série faz as mais diversas poses ao lado de variadas cabeças decepadas. Mas em todas elas ele está dando um “joinha” para a câmera.
— Isso aí é circunstancial, no máximo.
— E esse manuscrito em cima da sua mesa, intitulado “Eu sou um serial killer”?
— É uma obra de ficção.
— E o subtítulo, que diz “esta não é uma obra de ficção”?
— Metalinguagem.
Um dos policiais da revista arromba uma porta e uma mulher sai de dentro, completamente assustada, e corre até o tira que a libertou, que a abraça.
— Quem é essa? Sua nova vítima?
— É minha namorada. A gente tava brincando de esconde-esconde.
— Esse homem me sequestrou! – berra a mulher, aos prantos.
— É que ela gosta dessa fantasia de sequestro, sabe?
— Eu nunca vi esse cara antes – torna a berrar a mulher.
— Para, benzinho, senão o moço vai achar que é sério.
— Ele cortou meus dedos! – Ela exibe a mão esquerda mutilada para quem quiser ver.
— Já tava assim quando eu cheguei.
— Isso nem faz sentido! – conclui o policial líder. – Anda, circulando.
O policial algema e arrasta o serial killer para fora da casa. Sobrou em cadáveres, faltou em malandragem.
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