segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cereal killer


Diversos agentes da polícia cercam uma casa no meio do mato. Todos fortemente armados e preparados para atirar. O policial líder toca a campainha de arma em punho. Após alguns segundos, a porta se abre revelando um sujeito calmo, muito embora suas roupas estejam manchadas do que parece ser sangue seco.

Pois não?
Polícia, meu senhor.
Aconteceu alguma coisa?
Temos um mandado de busca nas premissas.

O serial killer abre totalmente a porta, e um monte de policiais adentra a casa se espalhando por todos os cômodos e criando um perímetro. O policial dá uma olhada geral na sala.

Recebemos uma denúncia anônima a respeito de mortes na propriedade.
Mas que absurdo.
Isso aí na sua roupa é sangue?
Não, é só molho de tomate.
E isso aí nas suas mãos?

O serial killer mostra as mãos, encharcadas de sangue fresco.

Isso é sangue.

Os policiais ficam em polvorosa.

É sangue de animal. Eu sou caçador. Tava preparando um coelho à fricacê.
— Seu monstro! – exclama um outro policial.
— Ele é muito sensível – o policial líder confidencia ao serial killer. – É vegetariano...
Aahhhh....

Outro policial, que olhava debaixo do sofá, se levanta e vai até eles.

Olha o que eu achei – diz o terceiro policial. Ele abre a mão, revelando um punhado de dentes humanos.
Como o senhor explica isso? – questiona o policial líder.
— É que eu sou dentista. Às vezes eu levo trabalho pra casa.
Eu acho que o senhor é um assassino.
Que é isso, meu senhor?! Sou um homem de bem.
— E como explica aquilo ali? – pergunta apontando para um abajur próximo.
É um abajur... É pra ler de noite.
É feito de pele humana!
O senhor tá enganado.        
Olha ali o umbigo!
É arte moderna!

Outro policial se aproxima e cochicha algo no ouvido do policial líder.

Acabo de ser informado que há cabeças humanas na sua geladeira.
Ah, vá! – exclama incrédulo. – A geladeira não é minha.
Olha aqui a nota fiscal.
— Tudo bem, mas as cabeças não são minhas.
E essas fotos que você tirou de si mesmo no momento em que cortava as cabeças?

O policial vai mostrando ao serial killer uma série de polaróides onde o assassino em série faz as mais diversas poses ao lado de variadas cabeças decepadas. Mas em todas elas ele está dando um “joinha” para a câmera.

Isso aí é circunstancial, no máximo.
— E esse manuscrito em cima da sua mesa, intitulado “Eu sou um serial killer”?
— É uma obra de ficção.
— E o subtítulo, que diz “esta não é uma obra de ficção”?
— Metalinguagem.

Um dos policiais da revista arromba uma porta e uma mulher sai de dentro, completamente assustada, e corre até o tira que a libertou, que a abraça.

Quem é essa? Sua nova vítima?
É minha namorada. A gente tava brincando de esconde-esconde.
— Esse homem me sequestrou! – berra a mulher, aos prantos.
— É que ela gosta dessa fantasia de sequestro, sabe?
— Eu nunca vi esse cara antes – torna a berrar a mulher.
— Para, benzinho, senão o moço vai achar que é sério.
— Ele cortou meus dedos! – Ela exibe a mão esquerda mutilada para quem quiser ver.
— Já tava assim quando eu cheguei.
— Isso nem faz sentido! – conclui o policial líder. – Anda, circulando.

O policial algema e arrasta o serial killer para fora da casa. Sobrou em cadáveres, faltou em malandragem.

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