Nota: aproveitando o lançamento de Os Vingadores – The Avengers, resolvi desenterrar duas resenhas de filmes de personagens que estão no longa, escritas à época de seu lançamento e antes publicadas apenas em meu TCC do curso de jornalismo. Considere um miniespecial Vingadores. Ou considere preguiça de produzir material novo e picaretagem por reciclar velharias, tanto faz.
Indo direto ao ponto: O Incrível Hulk é uma nova tentativa da Marvel de emplacar uma franquia bem sucedida do Golias Esmeralda nos cinemas. Hulk (2003), de Ang Lee, não atingiu uma performance satisfatória nas bilheterias na visão dos executivos (ainda que não se possa chamá-lo de fracasso comercial) e não agradou aos fãs dos quadrinhos.
Portanto, a missão deste O Incrível Hulk é ganhar mais verdinhas, deixar os fanboys contentes e, espera-se, com isso gerar mais continuações. A fórmula para tanto é distanciar-se do exemplar de 2003, considerando o novo filme não uma continuação, mas um recomeço para a cinessérie, focado mais na ação estilo “Hulk esmaga” dos quadrinhos e mais na série de TV tipo “homem solitário” dos anos 70 do que no lado psicanalítico da obra de Ang Lee.
Sendo bem sincero, eu nunca fui fã do Hulk. Nunca achei muita graça no personagem e as poucas histórias que li, não gostei. Talvez por isso até hoje não tenha uma opinião totalmente formada a respeito da película anterior. Há coisas muito boas, como a edição espertíssima com divisões de quadros e elipses variadas tentando dar a sensação de painéis de um gibi e o próprio foco mais no desenvolvimento psicológico do protagonista e a exploração de seus traumas de infância, tornando-o um filme de HQs mais intelectual do que puramente um show de efeitos especiais. No entanto, como já disse antes, o personagem não me diz nada e o final (a desnecessária luta contra seu pai) eu achei uma porcaria.
Já o novo filme opta claramente pela fórmula do blockbuster, privilegiando a pancadaria ao desenvolvimento da história. Assim, ganha no quesito adrenalina e perde em coragem, pois ao menos Ang Lee tentou fazer algo diferente.
O longa de Louis Leterrier abre com Bruce Banner (Edward Norton) refugiado na favela da Rocinha (!). Lá, o sujeito trabalha numa fábrica de guaraná (!!) enquanto se corresponde via Internet com outro cientista, na esperança de juntos encontrarem uma solução para seu problema grande, verde e furioso. Mas, claro, o exército dos EUA, sob o comando do General Ross (William Hurt), continua em seu encalço para usar seu alter ego monstruoso como arma. Nessas, Bruce terá de fugir dos fardados e seu principal operativo, Emil Blonsky (Tim Roth), reencontrará sua amada Betty Ross (Liv Tyler) e descobrirá um oponente a altura quando Blonsky se transforma no Abominável, uma criatura maior, mais forte e mais feia que o Hulk.
Como você pode ver pelo parágrafo acima, é bem formulaico, e justamente por se contentar em seguir uma receita repetida à exaustão, o resultado final é bem meia boca. Mas tomemos um tempo para analisar os principais aspectos da película.
Para começar, as cenas da Rocinha (na realidade filmadas em outra favela, a Tavares Bastos) são bacanas e muito bem filmadas, mas não dá para entender porque puseram dois gringos para interpretar brasileiros. Totalmente bizarro, já que temos um dos irmãos Gracie (honestamente, não sei qual, são tantos) como seu instrutor de autocontrole e a atriz Débora Nascimento como sua colega na fábrica.
E aí, como o chefe de Bruce e o bully responsável por sua primeira transformação em Hulk na película, dois americanos! O primeiro claramente decorou suas falas foneticamente, sem fazer a menor ideia do significado. Resultado: um sotaque grotesco. O segundo é ainda mais absurdo, pois o cara foi dublado! A história que rola é que esse sujeito falava num português tão incompreensível que a própria Paramount brasileira dublou o mané para não passar mais vergonha.
Enfim, no campo das atuações, Edward Norton está bem como sempre (e até arrisca um português), assim como os outros atores principais, mas convenhamos, até por preferir a ação à construção de personagens, esse não é o tipo de filme que exige grandes performances de seus intérpretes.
Os efeitos especiais, como sempre em produções desse tipo, estão muito bons, com o Hulk numa tonalidade de verde mais escuro, um corpo cheio de estrias e sem variar no tamanho como no do filme anterior. Ah, ele também não salta mais longas distâncias, provavelmente para conferir uma sensação de peso ao personagem, que tanto faltou à sua outra encarnação. Na minha opinião, deu na mesma e essa sensação permanece, ainda que o visual novo seja mais ameaçador e mais parecido com os quadrinhos que o antigo.
Quanto às cenas de ação, acontece algo bizarro aqui. Como já disse antes, a ideia de O Incrível Hulk é focar mais nelas. Então como explicar que ele tenha exatamente a mesma quantidade de cenas adrenalinescas que seu antecessor? São basicamente três: a perseguição na fábrica (onde o Hulk fica o tempo todo nas sombras), o combate contra o exército no parque e a luta com o Abominável no clímax. É pouco para um filme que se escora na base da porrada.
E já que falei no Abominável, outro ponto fraco é a motivação de Emil Blonsky. OK, no começo é explicado que ele se submete ao tratamento experimental do exército para poder corresponder fisicamente a uma batalha contra o Hulk. Mas daí a querer se transformar deliberadamente num monstro como Banner já é algo incompreensível e acreditar nisso é pedir demais.
No mais, os fãs poderão sacar muitas referências, principalmente ao universo Marvel que está se formando no cinema com os heróis habitando o mesmo mundo. Há logos da S.H.I.E.L.D. espalhados nas cenas, os armamentos do exército são das Indústrias Stark e o próprio Tony Stark (Robert Downey Jr.) aparece numa ponta aquecendo os motores para o futuro filme dos Vingadores. Já a respeito do Capitão América, já vou logo avisando, ele não aparece e a única referência feita a ele é a de um certo soro do supersoldado.
Posto isso, O Incrível Hulk é satisfatório, mas fica abaixo dos filmes recentes dos heróis Marvel, como um Homem de Ferro, por exemplo. Ao seguir uma fórmula na tentativa de agradar mais gente, foi covarde e não se arriscou. E por essas e outras, acho que finalmente formo uma opinião definitiva e fico mesmo é com o Hulk de Ang Lee. Pode não ser perfeito, mas pelo menos tentou sair do lugar comum.
(The Incredible Hulk – EUA – 2008 / Ação/Ficção Científica – 114 minutos / Diretor: Louis Leterrier – Elenco: Edward Norton, Liv Tyler, Tim Roth, Tim Blake Nelson e William Hurt.)
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