Nota: aproveitando o lançamento de Os Vingadores – The Avengers, resolvi desenterrar duas resenhas de filmes de personagens que estão no longa, escritas à época de seu lançamento e antes publicadas apenas em meu TCC do curso de jornalismo. Considere um miniespecial Vingadores. Ou considere preguiça de produzir material novo e picaretagem por reciclar velharias, tanto faz. A outra resenha será publicada na quinta.
O Homem de Ferro nunca foi um dos meus personagens de HQs favoritos. Tirando sua versão Ultimate, que é realmente bem legal, o “ferroso” da cronologia Marvel normal nunca me chamou muita atenção, e, portanto, li poucas histórias dele. Contudo, sua transposição para o cinema era um dos filmes mais aguardados por mim este ano, visto que as prévias que andavam circulando meses antes de seu lançamento prometiam um grande espetáculo de ação e efeitos visuais, além de mostrar que o protagonista, em sua versão de carne e osso (e metal) poderia ser mais interessante que sua contraparte de papel.
E acontece que Homem de Ferro, o filme, vai por esse caminho mesmo. O espetáculo visual está lá. As vertiginosas cenas de ação também. Mas a alma do filme é a construção de seu personagem principal. E não falo do Homem de Ferro, e sim da pessoa por trás da armadura, Tony Stark. Como a maioria dos filmes de super-heróis recentes (X-Men, Homem-Aranha, Batman Begins), este também conta uma história de origens. E este é o ponto alto da produção.
Tony Stark (Robert Downey Jr.) é o maior fabricante de armas do mundo. Com um intelecto brilhante, usa sua capacidade criativa para desenvolver armamentos fornecidos ao exército dos EUA e não se incomoda em ser chamado pela imprensa de “mercador da morte”. Durante uma visita ao Afeganistão, onde foi apresentar um novo tipo de míssil, acaba sendo atacado e capturado por terroristas que, ironia das ironias, usam as suas armas.
No cativeiro, é forçado a construir o tal míssil para os terroristas usarem, mas acaba montando uma armadura que lhe permite escapar e, após essa experiência onde viu o estrago que suas armas causam, retorna aos EUA e decide sair da indústria armamentista, deixando seu sócio Obadiah Stane (um irreconhecível Jeff Bridges, careca e barbudo) muito contrariado. Creio que aí já dá para adivinhar o que acontece. Ah, sim, Stark passa a aprimorar sua armadura, para tentar corrigir um pouco do mal que causou ao mundo.
Por falar em armadura, todos os três modelos do Homem de Ferro que aparecem, bem como o enorme traje do Monge de Ferro (o vilão da vez) são muito bem feitos e extremamente realistas. As cenas de ação são bem orquestradas e garantem a dose de adrenalina de quem vai ao cinema, ainda que ao final sejam poucas tais sequências. O combate entre o Monge de Ferro e o Homem de Ferro, clímax do filme, por exemplo, poderia ser um pouco mais longo.
Mas como disse antes, a força da película não está na pancadaria, e sim em seu personagem principal, e, sobretudo em quem o interpreta. Robert Downey Jr., além da enorme semelhança física com a versão em quadrinhos de Tony Stark, parece ter nascido para interpretar o personagem. Ele transforma um sujeito playboy, beberrão e irresponsável numa figura simpática e muito divertida. É a melhor performance do ator desde Chaplin, em 1992.
Méritos também para o diretor Jon Favreau, que privilegia os diálogos bem construídos e injeta bem-vindas doses de humor à narrativa (os primeiros testes de voo da nova armadura são hilários). Vale lembrar, ele não é estranho ao universo de transposições de quadrinhos para o cinema, tendo interpretado Foggy Nelson, o sócio de Matt Murdock, em Demolidor – O Homem Sem Medo (2003), e aqui, além da direção segura também assume um papel coadjuvante como Happy Hogan, o motorista de Tony Stark.
Completam o elenco Gwyneth Paltrow como Pepper Potts, a secretária de Stark, e Terrence Howard como James Rhodes, melhor amigo e contato de Tony no exército. Vale lembrar, nos quadrinhos Rhodes chegou a assumir a armadura de Homem de Ferro por uns tempos e depois assumiu a identidade de Máquina de Combate, algo que pode acontecer em prováveis continuações.
No quesito adaptação, não há muito a declarar. O filme é bem fiel aos quadrinhos, fazendo alterações mínimas para atualizar as origens do personagem. Por exemplo, sai a Guerra do Vietnã e entra o Afeganistão. E a própria armadura Mark III (o modelo mais avançado, dourado e vermelho) é idêntica a que Tony usa atualmente nas páginas de sua revista.
O único ponto fraco da película (descontando-se a não tão negativa escassez de cenas de ação, já mencionada anteriormente) é a mensagem “os estadunidenses são bonzinhos e só eles podem ter armas”. Note que quando Stark anuncia que sua companhia vai se retirar do ramo armamentício, ele é contrariado por Obadiah Stane, que ignora suas ordens e continua a fabricar armas. Stark não faz nada. Ele só se enfeza mesmo quando descobre que seus armamentos continuam sendo usados por terroristas árabes. Só aí ele toma alguma atitude. Essa hipocrisia arranha um pouco do brilho do filme, sobretudo para quem não nasceu nos USA. Matar pessoas tudo bem, mas quando a pessoa é norte-americana é caso de vestir uma armadura high tech e sair por aí distribuindo bordoadas? Ah, fala sério!
Mesmo com esse grande “porém”, Homem de Ferro ainda está acima da média no gênero adaptações de HQs e tem tudo para ser mais uma grande franquia cinematográfica. Material para continuações é o que não falta. Ah, antes que eu me esqueça, não saia antes de terminar os créditos finais. Há uma surpresinha escondida. E, acredite em mim, vale a pena esperar por ela.
(Iron Man – EUA – 2008 / Ação/Ficção Científica – 126 minutos / Diretor: Jon Favreau – Elenco: Robert Downey Jr., Terrence Howard, Jeff Bridges, Gwyneth Paltrow, Jon Favreau.)
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