O
primeiro episódio de Vida e Obra de um Ninguém foi ao ar ontem no site da Toró Na Cuca. Vou então aproveitar a
oportunidade para contar um pouco das origens desta nova Sitcom Literária.
Originalmente
eu queria que fosse um romance. Havia encerrado uma série de romances que,
embora até tivessem algum humor (geralmente cínico, negro e/ou
autodepreciativo), eram, no geral, sérios e com temáticas mais pesadas. Ou
seja, depois de uma sequência de histórias sisudas, estava pronto para uma
bem-vinda mudança de ares. Queria escrever uma comédia pura e simples. Achava
que enveredar por um livro humorístico seria uma experiência mais leve e até
relaxante.
No
entanto, não cheguei a colocar nenhuma palavra no papel. Não conseguia
encontrar o ângulo correto para moldar aquelas ideias iniciais em um livro
coerente. Tinha muitas situações na cabeça, mas não conseguia pensar na forma
ideal de dar liga a elas. Cansado de patinar e nunca sair do lugar, acabei
colocando a ideia na gaveta e parti para outras coisas.
Um
bom tempo depois, quando ficou decidido que eu e Jean Di Barros escreveríamos
mais uma Sitcom Literária cada, dessa vez mais curta, para dar merecidas férias
às nossas séries titulares e manter o site da Toró abastecido de conteúdo, me vi
em busca de ideias para o meu seriado. Pensando no que faria, veio o estalo.
Claro, aquela história que eu tanto queria transformar em livro e acabei não
conseguindo se encaixaria muito bem no formato episódico das Sitcoms.
Depois
que a lâmpada da “obviedade antes não percebida” se acendeu sobre minha cabeça,
escrevi os 13 episódios da temporada em cerca de duas semanas e ainda sobraram muitas
coisas que acabaram não sendo utilizadas, mas que também renderiam bons
episódios.
A
fonte de inspiração para a trama é o meu pai. Temos uma relação estranha e
distante, para dizer o mínimo, mas, parafraseando Forrest Gump, isso é tudo que
tenho a dizer sobre isso. Contudo, por menos afinidade ou contato que tenha com
ele, uma coisa é certa: o velho tem umas histórias de vida muito loucas.
Histórias que eu ouvi durante períodos os mais variados de minha vida e das
mais diferentes fontes: testemunhas oculares, pessoas próximas, e também direto
do protagonista. Algumas ainda, eu tive a sorte (ou não) de presenciar. Outras,
contudo, inventei descaradamente para dar liga entre os pontos que eu
desconheço ou simplesmente para dar uma vitaminada na narrativa.
Mas
acredite em mim, as situações mais absurdas e com a maior cara de história de
pescador geralmente tendem a ser verdade e o que parece mais banal e
corriqueiro costuma ser ficção. Eis aí um bom exercício para se praticar
durante a leitura, tentar adivinhar o que é verdade e o que é invencionice.
Jean
“Borges” Di Barros, que costuma sempre ler em primeira mão tudo que escrevo,
ficou preocupado que meu pai fosse “pegar mal” com a forma como aspectos de sua
vida e personalidade foram representados no papel. Eu respondi (e espero) que
não. Primeiro porque ele é um excluído digital que dificilmente saberá que a
série existe (lembre-se: relação estranha e distante). E depois porque dizem
que a sátira é uma forma de lisonja.
Relendo
os episódios recentemente para propósitos de revisão, fiquei realmente
orgulhoso com o resultado final e não havia nada ali que eu mudaria (fato raro
comigo quando volto a reler meu próprio material depois de algum tempo). Também
não acho que tenha retratado sua versão fictícia de forma pejorativa, embora em
certos momentos ele se aproveite de algumas situações para dar vazão a um lado
sacana. Comédia é assim, às vezes leva a um exagero pedido pelo momento. É coisa
de situação. E, no fim das contas, mesmo sendo “semibiográfico”, ainda é
primariamente ficção.
Pelas próximas 13 semanas, espero que as histórias fantásticas da vida e
obra desse ilustre ninguém sejam tão divertidas de ler quanto foram para
escrever. E se, porventura elas levarem aos tradicionais 15 minutos de fama,
melhor ainda. Se não, também não tem problema, o ninguém continuará na mesma,
mas ainda com muita história pra contar.
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