segunda-feira, 23 de julho de 2012

Batman – O Cavaleiro das Trevas

Nota: aproveitando o lançamento esta semana de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, desenterro mais uma resenha, esta de O Cavaleiro das Trevas, escrita à época de seu lançamento e antes publicada apenas em meu TCC do curso de jornalismo. É minha singela homenagem ao Homem-Morcego e ao fim da trilogia de Christopher Nolan. Minha resenha de Batman Begins escrita em meus primeiros dias no Delfos pode ser encontrada aqui. E uma resenha completamente diferente da que está abaixo, sobre a exibição em Imax de O Cavaleiro das Trevas, está aqui.


Para mim, este era o filme mais aguardado do ano. Aliás, desde o final de Batman Begins (2005), quando o tenente Gordon entrega a carta de baralho ao Batman, eu já vinha riscando os dias no calendário, esperando pela continuação.
         
Nisso, surgiram as primeiras notícias, uma agressiva campanha de marketing e os trailers. E tudo isso gerou um frisson monstruoso, tornando O Cavaleiro das Trevas o possível maior evento cinematográfico de 2008.
         
O meu problema com expectativas é que quanto maior elas são, geralmente a decepção vem na mesma proporção. Batman – O Cavaleiro das Trevas não somente cumpre tudo o que prometia, como ainda supera em muito todas essas já referidas expectativas.
         
Não somente é a melhor adaptação de HQs para o cinema já feita, como também é um senhor filme policial, como não se via desde a década de 70.
         
Em O Cavaleiro das Trevas, se junta à aliança entre o morcegão (Christian Bale) e o tenente James Gordon (Gary Oldman), o novo promotor público de Gotham, Harvey Dent (Aaron Eckhart). Chamado de Cavaleiro Branco de Gotham, Dent é um herói que Batman não pode ser: uma pessoa comum, com um rosto, incorruptível e que faz o certo porque acredita que pode fazer a diferença. E capaz de influenciar as pessoas de um modo saudável, algo que o morcegão não consegue. Desta forma, Batman caça os criminosos, Gordon os prende e Harvey os processa. Juntos, os três armam um plano para derrubar a máfia da cidade, atingindo-os onde dói mais, no bolso.
         
Mas o surgimento do Coringa (Heath Ledger) vai agitar as coisas e deixar toda a cidade em clima de terror, além de forçar o Homem-Morcego a ir aos seus limites, questionando sua própria influência na cidade e o nível de violência exigida para se chegar à justiça.
         
Essencialmente, essa é a trama básica, e bem básica mesmo, do filme. Contar mais poderia estragar muitas surpresas em potencial. E acredite, há muitas delas nos 152 minutos de projeção.
         
O grande mérito da película é não fazer concessões. Sim, é um filme de quadrinhos com censura baixa para atrair a molecada. No entanto, é violentíssimo sem mostrar uma gota de sangue. Respeita a fonte original (o roteiro foi influenciado pelas HQs A Piada Mortal e O Longo Dia das Bruxas), mas com coragem para modificar certos elementos e fazê-los funcionar melhor dessa forma. Tem muita ação e o nível de adrenalina fica constantemente lá em cima. No entanto, como o próprio nome já entrega, é o mais sombrio dos filmes do morcegão, com um clima dark e carregado e a sensação constante de que nem todos os personagens chegarão ao fim da jornada inteiros.
         
E, sobretudo, é um daqueles exemplares cada vez mais raros em Hollywood. Um filme de entretenimento onde o lado psicológico de seus personagens é mais importante que o número de explosões. E que diverte ao mesmo tempo em que faz pensar. E não somente aos fãs do personagem e de quadrinhos em geral, mas a qualquer um. Como disse, não é apenas uma adaptação de HQ, mas um policial de qualidade, como há muito não se via.
         
É um estudo sobre a maldade e os limites de uma crença. Tudo isso centralizado na figura do Coringa, o caos encarnado. Produto de uma sociedade cada vez mais amoral e corrupta. O que é mais assustador do que alguém sem motivação aparente para os atos mais bárbaros? É a pura representação do anarquismo. E o mais assustador ainda é notar que apesar de seus métodos terroristas, capaz de deixar Gotham City de joelhos, ele tem certa razão em fazer o que faz. Sim, eu acho que também sou anarquista...
         
O último trabalho de Heath Ledger, morto no início do ano, não somente é a encarnação definitiva do personagem (assustador, sádico e sim, cruelmente engraçado), bem como uma das maiores interpretações da história do cinema (coitado de quem for substituí-lo em projetos futuros. Essa pessoa terá de suar muito a camisa). Debaixo de uma maquiagem de pesadelos, Ledger desaparece na pele do Palhaço do Crime e se torna a grande força motora da película, ao lado da sensível interpretação de Aaron Eckhart como Harvey Dent, o último bastião de bondade em um mundo cada vez mais corrupto e violento.
         
Aliás, talvez essa seja a grande qualidade da película. Além de um elenco de nomes invejáveis, todos eles entregam performances não menos que ótimas. Christian Bale, como Bruce Wayne/Batman, está mais perturbado do que nunca, levado ao limite pela presença de seu maior vilão, seu exato oposto e talvez resultado de sua própria existência. Afinal, o conceito de escalada (policias usam armas semi-automáticas, os bandidos passam a usar automáticas. Um sujeito combate o crime vestido de morcego e começam a surgir criminosos insanos como o Coringa) é um dos temas da história.
         
As sequências de ação são maravilhosas (o uniforme novo de Batman permite uma maior movimentação de Bale, tornando as lutas ainda mais dinâmicas) e a sequência na China, por exemplo, deixa qualquer Missão: Impossível no chinelo. Engula essa, Ethan Hunt.
         
A fotografia é belíssima, escura e abusando de planos abertos e a trilha sonora, embora não seja marcante, acrescenta muito clima às imagens.
         
O ritmo da narrativa e a montagem são excelentes. A história não para nunca. Há tramas e mais subtramas que se desenrolam de forma natural e precisa, fazendo com que as duas horas e meia de duração passem num piscar de olhos.
         
E, ao final, a sensação de levar um soco no estômago é inevitável. Aqui não há finais felizes, vitórias completas e nem maniqueísmo. O mundo de O Cavaleiro das Trevas é composto apenas por áreas cinzas. Cabe aos personagens se equilibrarem nelas sem cair. O que talvez seja inevitável, mas para confirmar você terá de ver o filme.
         
Depois da experiência de assistir um filme como Batman – O Cavaleiro das Trevas, fica até difícil de pensar em voltar ao cinema este ano. A não ser que seja para revê-lo. E eu sem dúvida farei isso. Para filmes como este só existe uma palavra para defini-lo: clássico.

(The Dark Knight – EUA – 2008 / Policial/Ação – 152 minutos / Diretor: Christopher Nolan – Elenco: Christian Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Gary Oldman, Morgan Freeman, Cillian Murphy, Eric Roberts.)

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