Nota: aproveitando o lançamento esta semana de Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, desenterro mais uma
resenha, esta de O Cavaleiro das Trevas,
escrita à época de seu lançamento e antes publicada apenas em meu TCC do curso
de jornalismo. É minha singela homenagem ao Homem-Morcego e ao fim da trilogia
de Christopher Nolan. Minha resenha de Batman
Begins escrita em meus primeiros dias no Delfos pode ser encontrada aqui. E
uma resenha completamente diferente da que está abaixo, sobre a exibição em
Imax de O Cavaleiro das Trevas, está
aqui.
Para
mim, este era o filme mais aguardado do ano. Aliás, desde o final de Batman Begins (2005), quando o tenente
Gordon entrega a carta de baralho ao Batman, eu já vinha riscando os dias no
calendário, esperando pela continuação.
Nisso,
surgiram as primeiras notícias, uma agressiva campanha de marketing e os
trailers. E tudo isso gerou um frisson monstruoso, tornando O Cavaleiro das Trevas o possível maior
evento cinematográfico de 2008.
O
meu problema com expectativas é que quanto maior elas são, geralmente a
decepção vem na mesma proporção. Batman –
O Cavaleiro das Trevas não somente cumpre tudo o que prometia, como ainda
supera em muito todas essas já referidas expectativas.
Não
somente é a melhor adaptação de HQs para o cinema já feita, como também é um
senhor filme policial, como não se via desde a década de 70.
Em
O Cavaleiro das Trevas, se junta à
aliança entre o morcegão (Christian Bale) e o tenente James Gordon (Gary
Oldman), o novo promotor público de Gotham, Harvey Dent (Aaron Eckhart).
Chamado de Cavaleiro Branco de Gotham, Dent é um herói que Batman não pode ser:
uma pessoa comum, com um rosto, incorruptível e que faz o certo porque acredita
que pode fazer a diferença. E capaz de influenciar as pessoas de um modo
saudável, algo que o morcegão não consegue. Desta forma, Batman caça os
criminosos, Gordon os prende e Harvey os processa. Juntos, os três armam um
plano para derrubar a máfia da cidade, atingindo-os onde dói mais, no bolso.
Mas
o surgimento do Coringa (Heath Ledger) vai agitar as coisas e deixar toda a
cidade em clima de terror, além de forçar o Homem-Morcego a ir aos seus limites,
questionando sua própria influência na cidade e o nível de violência exigida
para se chegar à justiça.
Essencialmente,
essa é a trama básica, e bem básica mesmo, do filme. Contar mais poderia
estragar muitas surpresas em potencial. E acredite, há muitas delas nos 152
minutos de projeção.
O
grande mérito da película é não fazer concessões. Sim, é um filme de quadrinhos
com censura baixa para atrair a molecada. No entanto, é violentíssimo sem
mostrar uma gota de sangue. Respeita a fonte original (o roteiro foi
influenciado pelas HQs A Piada Mortal
e O Longo Dia das Bruxas), mas com
coragem para modificar certos elementos e fazê-los funcionar melhor dessa
forma. Tem muita ação e o nível de adrenalina fica constantemente lá em cima.
No entanto, como o próprio nome já entrega, é o mais sombrio dos filmes do
morcegão, com um clima dark e
carregado e a sensação constante de que nem todos os personagens chegarão ao
fim da jornada inteiros.
E,
sobretudo, é um daqueles exemplares cada vez mais raros em Hollywood. Um filme
de entretenimento onde o lado psicológico de seus personagens é mais importante
que o número de explosões. E que diverte ao mesmo tempo em que faz pensar. E
não somente aos fãs do personagem e de quadrinhos em geral, mas a qualquer um.
Como disse, não é apenas uma adaptação de HQ, mas um policial de qualidade,
como há muito não se via.
É
um estudo sobre a maldade e os limites de uma crença. Tudo isso centralizado na
figura do Coringa, o caos encarnado. Produto de uma sociedade cada vez mais
amoral e corrupta. O que é mais assustador do que alguém sem motivação aparente
para os atos mais bárbaros? É a pura representação do anarquismo. E o mais
assustador ainda é notar que apesar de seus métodos terroristas, capaz de deixar
Gotham City de joelhos, ele tem certa razão em fazer o que faz. Sim, eu acho
que também sou anarquista...
O
último trabalho de Heath Ledger, morto no início do ano, não somente é a
encarnação definitiva do personagem (assustador, sádico e sim, cruelmente
engraçado), bem como uma das maiores interpretações da história do cinema
(coitado de quem for substituí-lo em projetos futuros. Essa pessoa terá de suar
muito a camisa). Debaixo de uma maquiagem de pesadelos, Ledger desaparece na
pele do Palhaço do Crime e se torna a grande força motora da película, ao lado
da sensível interpretação de Aaron Eckhart como Harvey Dent, o último bastião
de bondade em um mundo cada vez mais corrupto e violento.
Aliás,
talvez essa seja a grande qualidade da película. Além de um elenco de nomes
invejáveis, todos eles entregam performances não menos que ótimas. Christian
Bale, como Bruce Wayne/Batman, está mais perturbado do que nunca, levado ao
limite pela presença de seu maior vilão, seu exato oposto e talvez resultado de
sua própria existência. Afinal, o conceito de escalada (policias usam armas
semi-automáticas, os bandidos passam a usar automáticas. Um sujeito combate o
crime vestido de morcego e começam a surgir criminosos insanos como o Coringa)
é um dos temas da história.
As
sequências de ação são maravilhosas (o uniforme novo de Batman permite uma
maior movimentação de Bale, tornando as lutas ainda mais dinâmicas) e a sequência
na China, por exemplo, deixa qualquer Missão:
Impossível no chinelo. Engula essa, Ethan Hunt.
A
fotografia é belíssima, escura e abusando de planos abertos e a trilha sonora,
embora não seja marcante, acrescenta muito clima às imagens.
O
ritmo da narrativa e a montagem são excelentes. A história não para nunca. Há
tramas e mais subtramas que se desenrolam de forma natural e precisa, fazendo
com que as duas horas e meia de duração passem num piscar de olhos.
E,
ao final, a sensação de levar um soco no estômago é inevitável. Aqui não há
finais felizes, vitórias completas e nem maniqueísmo. O mundo de O Cavaleiro das Trevas é composto apenas
por áreas cinzas. Cabe aos personagens se equilibrarem nelas sem cair. O que
talvez seja inevitável, mas para confirmar você terá de ver o filme.
Depois
da experiência de assistir um filme como Batman
– O Cavaleiro das Trevas, fica até difícil de pensar em voltar ao cinema
este ano. A não ser que seja para revê-lo. E eu sem dúvida farei isso. Para
filmes como este só existe uma palavra para defini-lo: clássico.
(The Dark Knight – EUA – 2008
/ Policial/Ação – 152 minutos / Diretor: Christopher Nolan – Elenco: Christian
Bale, Heath Ledger, Aaron Eckhart, Michael Caine, Maggie Gyllenhaal, Gary
Oldman, Morgan Freeman, Cillian Murphy, Eric Roberts.)
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