Sempre
fui um sujeito metódico para tudo. Com a escrita não seria diferente. Tenho
minha rotina e meus rituais específicos. Não é só sentar a bunda na cadeira e
mandar brasa, tem que dar aquela estralada nos dedos antes, estilo “pianista de
concerto”, manja?
A
estralada, no caso, é em sentido figurado, mas já deu pra ter uma ideia. Há
todo um processo de pequenos gostos e manias envolvido, o qual tem de ser
seguido à risca pra poder sair alguma coisa no fim do dia. Ou ao menos tinha.
Ultimamente
tenho notado uma mudança. Foi tão gradual que não percebi acontecendo no
começo, mas o método não anda mais tão restrito. Tem ficado cada dia mais
caótico. Não é mais preciso ritual ou horário certo. Agora a coisa funciona
independente desses fatores. Basta entrar um outro elemento na equação: o
tédio.
Antigamente,
quando ficava entediado, ia fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, por
mais improdutiva que fosse, exceto escrever alguma coisa. Hoje em dia o tédio
me faz desejar sentar em frente ao computador e digitar algo. Não importa o dia
ou horário. Nem sequer quanto tempo eu tenha disponível para isso.
Pode
ser domingo, seis da tarde. Se estiver de bobeira por cinco minutos, a vontade
de escrever algo aparece. Sexta-feira, onze da noite, nada para fazer? Vou
fazer uns dois textos, só por diversão. Claro que uma vida social fraca (às vezes
até inexistente) contribui para esse novo processo.
Pelo
menos não sinto mais que estou perdendo tempo à toa. Tem suas vantagens. Acelerar
algumas coisas, criar outras que nem imaginava que seriam criadas, aumentar a
produtividade. O tédio como força criativa, devo dizer, tem um grande potencial
que havia ignorado por todo esse tempo. Não mais, ele chegou para ficar, estou
gostando da imprevisibilidade que ele proporciona, de não ficar mais preso às
velhas rotinas. Manias estão morrendo lentamente, no meu universo ordenado,
trata-se de um grande acontecimento.
Agora
só falta eu conseguir escrever um romance nesse novo esquema, simplesmente por
não ter aonde ir no sábado à noite... Mas calma, devagar eu chego lá. Tudo faz
parte do novo processo.
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