O título do post é a pergunta que me veio à cabeça assim que saí da sessão de Prometheus umas duas semanas atrás. Porque esse Ridley Scott certamente não é o mesmo que dirigiu Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner – O Caçador de Andróides, duas das melhores ficções científicas da história do cinema.
O Prometheus de Scott está muito mais
próximo de um trabalho do diretor de Cruzada
(leia aqui minha resenha no Delfos) e Robin
Hood (o qual também resenhei, e você pode ler aqui), filmes tecnicamente
impecáveis, mas totalmente desprovidos de alma. Completamente mornos. Se a
comparação for só com alienígenas, então o filme está mais próximo, em termos
de qualidade, da franquia Aliens vs.
Predador do que da série Alien
propriamente dita.
Esperava
muito desse filme. Era a sua volta à ficção científica após 30 anos. Era o
prelúdio de Alien, um dos meus filmes
favoritos. Era a chance de Ridley, que nos últimos anos vinha patinando em
produções sem punch, de pegada
frouxa, de voltar às suas origens, recarregar as baterias e mostrar que ainda
tinha lenha pra queimar. Pena que não conseguiu mostrar isso.
Muito
se fala da trama do filme e seu paralelo com o mito de Prometeu como se isso o
tornasse uma ótima história, mas eu pergunto, e daí? Isso (usar mitos e lendas
antigas como fonte de inspiração) é tão batido quanto a famigerada jornada do
herói. Funciona, óbvio, senão não seria usado, mas não é novidade nenhuma.
Achei a trama simplesmente boba. Um meio para se chegar a um fim. Poderia
facilmente ser substituída por qualquer outra coisa sem mudar em nada o resto
do filme.
Mas
ao menos ele poderia compensá-la matando todo mundo de medo claustrofóbico como
havia feito no longa de 1979. Também não conseguiu. Tem alguns sustos baratos e
as criaturas estão longe de serem tão icônicas quanto o alienígena original.
Também é esquisito os momentos em que, por algum motivo, tenta chupar de O Enigma de Outro Mundo, de John
Carpenter, quando a própria mitologia da série Alien não pede por isso.
O
pior mesmo é o tratamento dado ao space
jockey, a criatura gigante e morta que tanto fascinou no primeiro filme (e
isso sendo apenas parte do cenário) e aqui ganha papel de destaque. Acabou com
toda a mística e magia da criatura. Para transformá-la no que virou, era melhor
ter criado novos personagens. Em certos momentos, o personagem, e o longa por consequência,
beira um Sexta-Feira 13 espacial.
Abordagem pra lá de equivocada.
Quem
carrega o filme nas costas e torna a experiência de assisti-lo ao menos
suportável é Michael Fassbender (sempre ele). Seu andróide David é de dar
arrepios sempre que está em cena com sua voz suave e seus modos educados. É,
sem dúvida, a grande força da película, e quem desencadeia o desenvolvimento da
trama, ainda que a atitude que toma para colocar tudo em movimento simplesmente
não faça sentido.
Cenas
como a do parto, que era para ser uma das sequências fortes do filme, em
comparação com a cena do nascimento no filme original, só servem para mostrar
como os anos foram cruéis em eliminar a visceralidade do diretor inglês,
tornando tudo hermético e limpo, mesmo com sangue e gosma jorrando. Ainda assim
o visual é clean, não causa choque
nenhum, se tanto um leve desconforto.
Ridley
Scott estagnou, e parece não saber o que fazer para sair dessa situação. O fato
é que desde Gladiador (em 2000!) ele
não fez mais nada digno de grande nota. O único filme seu recente que me
surpreendeu positivamente e do qual gostei bastante foi Rede de Mentiras, de 2008. Talvez por ter (ou ao menos aparentar)
uma escala menor que suas produções costumeiras. Por ter cara de obra menor
dentro de sua filmografia, livrou-se do peso da responsabilidade. Pôde ser
assistido e apreciado inteiramente sem o peso de tanta bagagem que o nome de
seu diretor carrega.
Esse
pode ser o caminho para ele se reinventar. Abandonar as grandes produções e se
concentrar em filmes menores. Deixar grandes histórias, grandes cenários,
exércitos de figurantes e efeitos especiais de ponta de lado e privilegiar um
bom roteiro, um elenco enxuto e o básico de produção. Diminuir drasticamente a
escala e, de fato, fazer um back to
basics.
Se
continuar como está, seria melhor então que se aposentasse de uma vez. Principalmente
se ele realmente levar em frente a continuação de Blade Runner. Se ela seguir os moldes de Prometheus, certamente será tão decepcionante quanto. E certamente
voltará a suscitar a mesma pergunta: o que acontece com Ridley Scott?
Nenhum comentário:
Postar um comentário