Falo
muito sobre rock aqui neste blog. Não
há como não fazê-lo, para mim é uma paixão tão grande quanto a literatura. A
diferença é que, se eu me aventuro no campo literário com meus próprios
trabalhos, no da música não dá. Me falta a habilidade. Limito-me a arranhar
minha guitarra em casa e falar sobre música sempre que possível.
E,
no entanto, até hoje só tinha usado esse espaço para falar de rock importado.
Admito que 90% do que eu escuto de música é em língua inglesa, mas isso não
quer dizer que eu também não goste de ouvir nada em meu idioma pátrio. Gosto,
mas o problema é que é muito mais difícil achar algo que me agrade em
português. Contudo, não é impossível.
Sendo
assim, falarei aqui dos meus 10 discos preferidos do rock nacional. Isso não
quer dizer, obviamente, que são os melhores, são simplesmente meus favoritos
por gosto pessoal. E estão organizados em ordem cronológica e não de
preferência. Vamos a eles.
Os Mutantes – Os Mutantes (1968)
Um
dos discos mais impressionantes do rock em qualquer língua, de fazer frente a
ninguém menos que os Beatles em sua
fase mais criativa/experimental (não à toa, o quarteto de Liverpool é uma das
grandes influências da banda). A estreia do grupo é insana, cheia de efeitos inovadores
para a época, misturas inusitadas, bom humor e criatividade correndo solta. 11
faixas irretocáveis que servem como cartão de visitas daquela que é a banda de
rock mais importante e influente do país. Obrigatório, bem como todos os outros
discos do grupo com a formação clássica da banda, com o trio de frente Arnaldo
Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee.
Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)
Outro
disco de estreia de mais uma banda clássica. Assim como Os Mutantes, o Secos &
Molhados também se notabilizou pela grande mistureba de gêneros e estilos
em seu som. Mas o trio formado por João Ricardo, Ney Matogrosso e Gérson Conrad
investia menos na molecagem e mais na poesia. E também em performances de palco
incrementadas. Temos aqui, segundo a lenda, a fonte de inspiração do Kiss e suas maquiagens. Cheio de hits levados por excelentes arranjos de
violão e a belíssima voz de Ney Matogrosso (um dos melhores cantores
brasileiros, fácil), é outro que merece figurar em qualquer coleção. O bom é
que foi lançado em CD no esquema “2 em 1”, junto com o segundo álbum, de 1974,
que, embora não tenha tantas músicas conhecidas como este, também é excelente.
Nós Vamos Invadir Sua Praia – Ultraje a Rigor (1985)
Quando
se fala em álbuns de estreia, creio que nenhum supera este da banda paulistana
no quesito “entrar no mapa com os dois pés na porta”. O negócio chega a ser
ignorante de tantos sucessos gerados por um disco só. Das 11 faixas, 8 são hits absolutos do rock nacional, tendo
tocado à exaustão em rádios e programas de TV. E as outras 3, embora não tenham
tido o mesmo destaque, também são muito boas. A mistura de rockabilly com surf
music é boa, mas o grande destaque vai mesmo para as letras de Roger, que
conseguem algo dificílimo (e que hoje em dia, dada a qualidade atual de nossa
música popular, parece ter se tornado impossível): ser bem humoradas e ao mesmo
tempo de extremo bom gosto e de uma inteligência ímpar, ao mesmo tempo em que
critica as nossas muitas mazelas. Saudade do tempo em que o nosso rock tinha miolos.
O Concreto Já Rachou – Plebe Rude (1985)
De
todas as bandas de Brasília, para mim a Plebe
Rude é a melhor, e única que pode ser chamada de fato de banda punk. Eles
tinham (têm, na verdade, já que ainda estão na ativa) a sonoridade mais
agressiva e o engajamento político/social nas letras. E caramba, as músicas
eram muito boas. Este EP de estreia tem sete faixas e todas elas são preciosas.
Desde a abertura, com o clássico Até
Quando Esperar até o encerramento com Brasília
(música que retrata muito bem o que era a cidade), é uma pequena viagem punk e
pós-punk de qualidade, com um trabalho de guitarras superior à média do rock
brasileiro e a dinâmica entre os dois vocalistas, que dá um charme e um
destaque a mais ao grupo.
V – Legião Urbana (1991)
Essa
foi uma escolha difícil, visto que também poderia ter colocado aqui facilmente
qualquer um dos três primeiros discos da Legião,
todos eles ótimos. Acabei optando por este porque é o mais deprê (eu gosto de
discos tristes) de sua discografia (à exceção do A Tempestade, mas esse eu acho um porre de tão chato) e onde a
banda se esforçou no lado técnico, onde eles sempre foram bastante fracos. Os
caras, que eram maus músicos até para os padrões do punk, se propuseram a fazer
um disco de pegada progressiva, e se saíram bem. Os mais de 11 minutos da bela Metal Contra as Nuvens são um bom
exemplo disso.
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