Nanook, realizado em 1922 por Robert Flaherty é considerado o primeiro
documentário da história do cinema. Flaherty filmou o cotidiano de uma família
de esquimós e seus hábitos de caça e pesca.
Porém,
ele registrou tais hábitos do modo como eram feitos há muito tempo. Por
exemplo, em 1922 os esquimós já utilizavam armas de fogo para caçar, fato
omitido por Flaherty, que os teria instruído a caçarem com arpões, lanças e
flechas.
Outro
ponto importante é que Flaherty provavelmente instruía os esquimós a como se
posicionarem em cena, já que ele precisava armar a câmera, e filmava
determinadas cenas de vários ângulos. Ou seja, os esquimós não foram realmente
retratados do modo como eles viviam e se comportavam, o que trás uma importante
questão: até que ponto os documentários retratam com veracidade o tema abordado
por ele, já que no momento em que uma câmera é colocada no ambiente, toda a
espontaneidade do mesmo é alterada, mesmo que involuntariamente?
Pensando
nisso, alguns cineastas norte-americanos passaram a se utilizar da linguagem
dos documentários para subverter os mesmos, contar suas histórias de um jeito
mais criativo e divertido, enganar os espectadores como jogada de marketing, ou
simplesmente homenagear o gênero.
O
que nos trás a outra questão fundamental: Qual a definição de documentário? A
definição convencionalmente mais aceita é a de que documentário é a retratação
de determinadas rotinas do tema escolhido, ou entrevistas e depoimentos sobre o
tema, ou ainda tudo junto.
É
a representação da realidade mediada pela linguagem. Porém, o que ocorre quando
o tema a ser documentado é forjado especialmente para o filme? Ainda que em Nanook os esquimós não fizessem mais
algumas funções do jeito mostrado por Flaherty, outras atividades ainda eram
exercidas da mesma forma, e mais importante, eram esquimós legítimos.
Com
o passar dos anos, o cinema documental norte-americano ganhou alguns exemplos
de filmes que se utilizam da estética dos documentários para mostrar ao
espectador histórias e fatos que não são reais, quebrando a barreira entre
filmes documentários e filmes de ficção. Tais diretores criam o tema que será
documentado e podem até passar a tratá-los como se fossem verdadeiros.
Existem
três bons exemplos de falsos documentários que serão discutidos individualmente
nas próximas semanas: Zelig, de 1983;
This Is Spinal Tap, de 1984; A Bruxa de Blair, de 1999; e
possivelmente o melhor representante do gênero: F for Fake, realizado por Orson Welles em 1973.
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