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ESPAÇOS DESABITADOS


Eduardo Vieira possuía um desejo simples: tudo que ele queria era morar numa cidade fantasma.
         
É com essa ideia fixa que somos apresentados a Espaços Desabitados, primeiro livro de Carlos Cyrino e primeiro lançamento da Editora Toró Na Cuca, juntamente com O Rabo do Cachorro – Uma Aventura Pop Cinco Estrelas, de Jean Di Barros.

Em Espaços Desabitados rapidamente descobrimos que, para o azar de Eduardo, apesar de querer morar numa cidade fantasma, ele atualmente reside em uma grande metrópole como funcionário insatisfeito de um site de fofocas (que se considera jornalismo), e está preso apenas por comodidade a uma relação sem afeto.

Longe de ter a vida ideal, seu mundo repetitivo e entediante é subitamente agitado com a morte de um colega de trabalho. Decidido a não ser o próximo a ir para a cova sem que ninguém dê por sua perda, resolve mudar sua situação. Pede demissão, termina com a namorada e passa a ficar trancado em casa, completamente isolado, tentando entender onde tudo saiu dos trilhos e o que pode fazer para encontrar um modo de vida mais satisfatório para sua filosofia pessoal.

Através de conversas com seus amigos Celso e Martins e após retornar à cidade de sua família para fazer as pazes com os pais, de quem andava afastado desde um incidente em um Natal tempos atrás, opta pelo caminho do hedonismo e da completa inconsequência. Bebidas, mulheres e noitadas se sucedem até acabar com seu vazio existencial e suas economias.

Porém, essa estrada só pode levar até certo ponto e logo ele se descobre sem dinheiro e perspectivas, o que o faz retomar antigos hábitos e incorrer em erros que já deveria ter aprendido a evitar.

Refazendo um caminho viciado e ainda mais deprimente de trabalho inútil, retomada com a ex-namorada e consumismo para preencher o vazio simbólico de sua casa, descobre que caiu numa armadilha ainda maior que da primeira vez quando recebe a notícia de que vai ser pai.

Entre a perspectiva de ficar preso para sempre noutra relação sem afeto (a paternidade) ou fugir da responsabilidade como uma criança em corpo de adulto, devaneia com o pior futuro possível, uma visão que vai ajudá-lo a tomar sua decisão de encarar as consequências de seus atos ou buscar sua tão almejada cidade fantasma, repleta de espaços desabitados.

Com uma visão fria e irônica da vida moderna, o autor apresenta o drama do homem comum, preso a uma rotina insignificante, debatendo-se contra a própria mesquinhez na esperança de que possa haver algo mais além.

Triste e ao mesmo tempo dolorosamente engraçado, o livro faz uma incômoda reflexão sobre as escolhas da vida comum e como às vezes elas parecem impossíveis para toda uma geração de jovens adultos incapazes de escolher um caminho, seja ele habitado ou não.