quinta-feira, 31 de maio de 2012

As novas Sitcoms Literárias da Toró Na Cuca


Gosto de Remédio e Capangas Contratados chegaram ao fim de suas respectivas temporadas esta semana. Elas voltarão para a segunda temporada, mas isso ainda vai demorar um pouco.

Contudo, o site da Toró não ficará às moscas enquanto isso, pois daqui a duas semanas, duas novas Sitcoms Literárias estreiam por lá. Cada uma delas, contudo, terá 13 episódios de duração, a metade de Gosto e Capangas. Considere, só para continuar com as comparações com sitcoms televisivas, um midseason. Afinal, ainda estamos experimentando com o formato e tudo que ele pode oferecer. Elas estão menores em duração, mas certamente não diminuíram de qualidade, como você logo poderá comprovar. 


Começando dia 12 de junho, com Vida e Obra de um Ninguém, de autoria deste que vos escreve, uma Sitcom de época (várias, na verdade), estrelada por... bem, por um ninguém. Com um humor mais leve, mas não menos absurdo, nunca a vida de um notório desconhecido foi tão interessante e divertida.


Já no dia 14/06, é a vez de Causa & (D)Efeito, de Jean Di Barros. Uma série enxuta e direto ao ponto ao mostrar o relacionamento entre um quarteto de amigos. Focando exclusivamente nos diálogos, é um prato cheio para quem aprecia a fina arte de dissecar relações em mesas de bar.

Para maiores informações, é só dar uma olhada neste post do blog de Jean Di Barros e acompanhar o site da Toró Na Cuca a partir de amanhã e durante a próxima semana. Depois, é só contar nos dedos os dias até as estreias.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Capangas Contratados – Episódio 26

É isso aí, chegou o último, o final, o derradeiro, a hora de dar tchau, o encerramento da temporada. Será que os capangas conseguirão sair vivos desta enrascada? É aqui que está a resposta.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Amanhã acaba Capangas Contratados


Amanhã, quarta-feira, 30 de maio, vai ao ar no site da Toró Na Cuca o último episódio da temporada de Capangas Contratados. Foi uma louca e divertida jornada, cheia de porrada, tiros, palavrões e humor negro.

Após seu encerramento, a série entrará num hiato por tempo indeterminado. Mas anime-se, eu juro que ela volta. Nesse momento, a segunda temporada já está sendo escrita. Então entre lá amanhã e prestigie o final da temporada. E, sobretudo, divirta-se.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O escritor descansado


Há uma vertente da literatura dos escritores etílicos, outra dos drogados e por aí vai. Em suma, há muita gente que exagera, chapa o coco, farreia a noite inteira e depois senta a bunda na cadeira e escreve algumas obras, uma ou outra delas calhando de ser um clássico da literatura. Quem me dera passar 24 horas acordado manguaçando e depois ainda conseguir escrever algo que não seja meu bilhete de suicídio devido ao estado em que vou me encontrar quando a festa acabar.

Eu só rendo descansado, nem adianta tentar ou forçar. Preciso de umas boas horas de sono e sem cana na noite anterior. Não adianta, a máxima é sempre a mesma. Se varei a noite ou dormi pouco, vou acordar na manhã seguinte zumbizando e vou me arrastar sem conseguir juntar duas frases o dia inteiro.

Se eu tomar um mé na noite anterior, posso até acordar sem sono, mas os efeitos da ressaca, em particular aquela dor de cabeça chata, vão me roubar toda a atenção, bem como mais um dia inteiro. Nada mais irritante do que ver o sol ir embora e constatar zero produtividade.

Para poder manter minha rotina de escrita diária (exceto aos fins de semana, porque aí também já é pedir demais) preciso estar bem descansado, sóbrio e lúcido. Só assim pra sair alguma coisa da cabeça para o papel. Faço parte da vertente dos escritores certinhos, caretas e quadrados, portanto.

Quisera eu ser um desses loucões que arregaçam a noite inteira e ainda conseguem criar algo de valor imediatamente depois. Não sou, aceito e me adapto ao melhor método para mim. Para criar minhas porcarias, devo estar descansado. Cada um na sua vertente. A minha é a do escritor descansado.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os Novos 52 – Parte II


Leia também:
- Os Novos 52 - Parte I 

Nesta segunda parte, o segundo lote de 13 revistas dos Novos 52. Tem coisas boas, como o melhor título do Homem-Morcego e o Lanterna Verde com sua cronologia inalterada dando um foda-se pro reboot. Mas também tem muita porcaria insuportável. 

Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.



Batman and Robin #1 (Batman e Robin)

Sem dúvida o melhor título do Homem-Morcego e o que apresenta a abordagem mais diferente. Como o próprio nome entrega, a revista é centrada na parceria entre a dupla dinâmica, Batman e Robin. E com Bruce Wayne de volta à Gotham e como único Batman, basicamente é uma história sobre pai e filho, com Bruce tentando educar Damian, construir um relacionamento com o garoto e compensar o tempo perdido. Mostra também um Batman com uma filosofia de vida um pouco mais leve, menos atormentado, provavelmente resultado da paternidade. No meio disso, eles socam alguns bandidos, mas nem precisava.

Devo acompanhar? Sim.


Batwoman #1

A mais linda revista dos Novos 52 no quesito arte. Desde que assumiu o Batman no início da passagem de Grant Morrison pela revista do Morcego, o ilustrador J.H. Williams III anda no domínio completo de sua arte. Desenhos lindíssimos, layouts criativos e uso de diferentes técnicas (embora não nesta edição em específico) colocam-no num nível muito acima dos outros artistas da editora. Aqui ele ataca também como corroteirista, ao lado de W. Haden Blackman, continuando a história da Batwoman de onde elas haviam parado em suas aventuras antes do reboot. Sinceramente, a trama é qualquer nota, mas esse é o tipo de gibi que você para pra apreciar cada painel, tentando captar os mínimos detalhes.

Devo acompanhar? Sim, ainda que só pela arte.


Deathstroke #1 (Exterminador)

O Exterminador é um daqueles personagens que pode ser ou um dos grandes vilões da DC ou apenas mais um personagem secundário. Tudo depende da criatividade e qualidade dos escritores. Kyle Higgins parece fazer parte da turma sem criatividade e qualidade. Aqui o Exterminador deixa a rixa com os Novos Titãs de lado (ou nunca a teve, esse reboot é extremamente confuso) e volta a focar em sua carreira como o mercenário mais letal do mundo. Como curiosidade, esse é o único título dos Novos 52 com uma história autocontida nesta primeira edição, com começo, meio e fim. Mas que é genérica pra cacete.

Devo acompanhar? Não.


Demon Knights #1

Personagens místicos e sobrenaturais, como Etrigan e o Cavaleiro Andante, vivendo aventuras épicas na Idade Média à parte do resto do novo universo DC. Uau, conseguriam juntar tudo que eu não gosto numa revista só! Essa foi dureza de ler. Um dos piores títulos do pacote.

Devo acompanhar? Não.


Frankenstein, Agent of S.H.A.D.E. #1

Um personagem que começou a ganhar uma maior importância desde Os Sete Soldados da Vitória de Grant Morrison. Sinceramente, nunca entendi por que. Sim, é o mesmo monstro de Frankenstein da clássica história de Mary Shelley. Mas aqui ele trabalha pra uma agência supersecreta do governo, a tal da S.O.M.B.R.A., caçando monstros do mal. Pseudociência, bichos feios e muita embromação em mais um dos piores títulos deste recomeço.

Devo acompanhar? Faça-se o favor de não fazê-lo.


Green Lantern #1 (Lanterna Verde)

A exemplo dos títulos do Batman, os do Lanterna Verde também mantiveram sua continuidade pré-reboot, embora todos os fatos tenham acontecido num período de cinco anos. O título solo do Lanterna continua exatamente do ponto onde havia parado antes de apertarem o botão de reset. Agora Sinestro é novamente um Lanterna Verde, e Hal Jordan, expulso da tropa, encontra dificuldades em retomar sua vida civil, a qual havia negligenciado completamente nos meses anteriores. Como sempre, Geoff Johns continua fazendo um ótimo trabalho com o personagem e os desenhos de Doug Mahnke combinam muito bem com o título. Quanto à qualidade, a revista continua sendo um dos carros-chefe da editora.

Devo acompanhar? Sim.


Grifter #1 (Bandoleiro)

Como todos os personagens criados no começo da Image Comics, o Bandoleiro de Jim Lee (aqui escrito por Nathan Edmondson e desenhado por Cafu. Não, não é aquele) é derivativo ao extremo. Uma mistura de Gambit com Wolverine. Por algum motivo está sendo caçado por uma raça alienígena que só ele consegue ouvir e identificar. Uma bobagem sem tamanho, tremendo desperdício de páginas.

Devo acompanhar? Não.


Legion Lost #1

Não consigo entender qual é a desse reboot. É pra ser tudo novo, mas além de Batman e Lanterna Verde manterem suas cronologias, outros aspectos da velha DC continuam sendo usados nesse reinício, como a ideia da tal Legião Perdida, formada por um pequeno grupo de integrantes da Legião dos Super-Heróis perdido em seu passado, nosso presente, que tem que... ah, quem se importa? Mais uma revista que beira o insuportável.

Devo acompanhar? Só se você for fã da Legião dos Super-Heróis. Não é o meu caso.


Mister Terrific #1 (Senhor Incrível)

Quando um personagem cuja principal característica é ser o terceiro homem mais inteligente do mundo (a saber, os dois primeiros são Lex Luthor e Bruce Wayne) ganha revista própria, é sinal de que há algo muito errado nesse negócio. O Sr. Incrível funcionava muito bem no contexto de grupo da Sociedade da Justiça. Solo, não tem a força necessária para segurar uma revista, tanto que já foi cancelada.

Devo acompanhar? Desnecessário.


Red Lanterns #1 (Lanternas Vermelhos)

Os raivosos Lanternas Vermelhos são bons antagonistas/aliados do Lanterna Verde em suas histórias recentes, mas que eles ganhem título próprio é, no mínimo, estranho. Como no caso do Sr. Incrível, aqui também os personagens não parecem ter força para se sustentarem sozinhos e a história deste primeiro número, para piorar, não disse a que veio. O pior título ligado ao Lanterna Verde.

Devo acompanhar? Só se você faz questão de ler todas as revistas do universo do Lanterna Verde.


Resurrection Man #1

Um antigo personagem com certo apelo cult que toda vez que morre, ressuscita com algum superpoder diferente. Sério, por que a DC continua dando revistas a personagens sem nenhum carisma, com pouca chance de sucesso comercial e com histórias absolutamente genéricas, para não dizer completamente medíocres? Títulos como esse são pura encheção de linguiça.

Devo acompanhar? Não.


Suicide Squad #1 (Esquadrão Suicida)

Já o Esquadrão Suicida sempre teve uma sólida base de fãs. Nessa nova encarnação, nada mais natural que uma nova formação. Assim, personagens tradicionais como o Pistoleiro recebem a companhia de novos membros, como a Arlequina. Até que a história começa bem, com o Esquadrão capturado e sendo torturado, mas não demora muito a cair na mesmice de sempre que está virando a tônica da maioria dos títulos dos Novos 52.

Devo acompanhar? Não.


Superboy #1

A origem do herói é recontada de um modo bastante similar ao que era antes, misturado com o que está sendo feito no desenho Justiça Jovem. Desses títulos de histórias sem qualquer pretensão, este aqui até que diverte, embora quem optar por não acompanhar também não vá perder rigorosamente nada.

Devo acompanhar? Por enquanto sim, vai.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O final de Gosto de Remédio se aproxima


Essa vale o lembrete. Na próxima segunda, 28/05, será publicado no site da Toró Na Cuca o episódio final da temporada de Gosto de Remédio, a Sitcom Literária de Jean Di Barros.

Depois disso a série fará um recesso considerável, então essa é a última oportunidade para ler desventuras inéditas do Vermelhinho, do Rico, e do favorito aqui da casa, o Chelo. Recomendação dada, anota aí na sua agenda, ou no que quer que se use hoje em dia...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Capangas Contratados – Episódio 25

O cerco se fecha na casa do chefe. “Bruce Lee” trava sua última batalha. O novato bota as asinhas de fora. Souza exagera de novo, pra variar. E o Tavares... Bom, o Tavares também está lá. Agora só falta um.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cortar o cabelo de peruca


Eis uma situação digna do mote “mais estranho que a ficção”. Semana passada fui cortar o cabelo, dar o popular “tapa no beloto”. Corto há anos no mesmo lugar, um desses barbeiros de bairro que já está estabelecido na região há décadas. Sua freguesia é composta principalmente pelo pessoal mais velho da vizinhança e prestadores de serviços próximos, como taxistas e por aí vai.

Mas a figura que encontrei já sentado na cadeira naquela manhã nunca havia visto lá antes. Tiozão, entre o final dos 50, começo dos 60, barriga proeminente, cara toda cheia de pintas e o cabelo já formando um mini-mullet. Sabe aqueles sujeitos que você encontra em qualquer lotérica, fazendo sua fezinha com os óculos na ponta do nariz? Pois é.

Só que quando reparei melhor, notei algo peculiar. O sujeito usava uma peruca. E não simplesmente uma peruca qualquer, era a peruca mais fake que eu já vi na face da Terra. As costuras todas aparentes mais ou menos na altura das têmporas, parecia um pequeno gorro feito de cabelo. É o tipo de peruca que não se compra quando se quer esconder a calvície. É o tipo de peruca que se compra por 20 mangos em qualquer loja de fantasias pra tirar uma onda só de farra.

Ele não parecia ser o tipo fanfarrão, embora estivesse no cabeleireiro de peruca. Mas a bem da verdade, é bom dizer que ele não estava lá cortando seus cabelos artificiais, e sim fazendo a barba. Barbeiro de bairro das antigas, lembra? Menos mal. Contudo, eu, sentado diretamente atrás do figura, tentava ler uma tradicional revista do ano passado, em vão. Meu olhar era atraído para aquela costura. Puro magnetismo que só o absurdo consegue causar. Tentava esconder um sorriso involuntário atrás das páginas.

O pior é que ainda tinha mais por vir. O barbeiro puxa papo com ele, o desgraçado responde qualquer bobagem e... ele é totalmente fanho! Tão fanho a ponto de ser incompreensível. Por um segundo cheguei a achar que ele estava falando outro idioma. Era a peruca mais fake da face da Terra. Na cabeça do cara mais fanho do universo conhecido. Havia uma certa harmonia poética nisso.

Não que eu tenha notado na hora. Naquele momento estava ocupado demais escondendo o rosto com a revista e tentando desesperadamente não cair na gargalhada. Parecia um tipo saído da ficção. Tinha cara e jeito de personagem, alívio cômico. Não faria feio, por exemplo, no meio da fauna exótica que habita as páginas virtuais de Capangas Contratados. Mas aí, se eu falasse que baseei numa pessoa real, todo mundo ia achar palha. Escritores são todos mentirosos profissionais, e por aí vai.

Mas esse daí existe. É o tipo de sujeito com o qual você tromba de vez em quando, quando menos se espera. É de carne e osso, mas você só acredita porque está vendo. De outra forma, só aceitaria que existe na imaginação fértil de alguém. Mas esses tipos existem. E vão cortar o cabelo de peruca.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Os Novos 52 – Parte I


Mês que vem o grande reboot da DC chega ao Brasil, via Panini Comics. Toda a cronologia e continuidade que conhecíamos foi apagada (à exceção de Batman e Lanterna Verde, porque em time que está ganhando não se mexe). Tudo recomeçará de novo, do zero, em 52 novos títulos. Origens serão mudadas e modernizadas. Cuecas não serão mais usadas por cima das calças e mulheres não combaterão mais o crime com as pernas de fora. Na nova cronologia, os heróis existem há apenas cinco anos. Nada de grandes sagas ou crossovers nesse primeiro momento.

A ideia de tudo isso é uma só: simplificar e abrir portas para atrair novos leitores. Faz tempo que as HQs de super-heróis sofrem para aumentar seu público devido a cronologias complexas e virtualmente impenetráveis para novatos. Começando tudo de novo, desde o número 1, a aposta no aumento de vendas compensou, visto que até agora a empreitada tem sido um sucesso comercial, ainda que os fãs das antigas tenham se sentido desrespeitados por tudo que eles conheciam não existir mais.

Mas e o que realmente importa? As 52 revistas são boas? Fizeram algo inovador? Repetiram conceitos antigos? Enfim, vale a pena acompanhar essa presepada toda? Li todos os números 1 do projeto e nas próximas semanas analisarei rapidamente cada título individualmente, tentando responder a essa pergunta.

Segui a ordem de publicação dos EUA, onde a cada semana saem 13 títulos. A revista da Liga da Justiça, contudo, foi a primeira a ser lançada lá, como uma espécie de pré-estreia, mas na realidade ela faz parte do pacote de lançamentos da terceira semana, por isso, a análise dela estará na terceira parte desta matéria.

Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.


Action Comics #1

Grant Morrison (com Rags Morales nos desenhos e Rick Bryant na arte-final) conta os primeiros dias de atuação do Superman em Metrópolis, quando ainda usava uma versão caseira de seu uniforme (camiseta com o símbolo do S, calças jeans remendadas nos joelhos, botinas e uma capa ridiculamente curta) e ainda não tinha todos os seus poderes plenamente desenvolvidos. Apresenta um herói mais próximo do que era quando foi criado em 1938, sem capacidade de voo e defensor da classe trabalhadora. Também mostra um Super de personalidade mais marrenta e, a exemplo do que já havia feito na série All-Star Superman, um Lex Luthor muito fodão, que cumpre com a palavra. A roupa do herói pode ser risível, mas todo o resto promete.

Devo acompanhar? Sim. 
   

Animal Man #1 (Homem-Animal)

Buddy Baker é um homem de família, casado e com filhos. Um trabalhador, dublê de cenas perigosas. Um super-herói, o Homem-Animal. Agora também é um astro de cinema, sua identidade é pública e apresenta um sintoma estranho após um salvamento bem-sucedido. O roteirista Jeff Lemire começa bem a edição, abrindo-a com uma entrevista de Buddy para uma revista que já ajuda a situar a dimensão do personagem para o leitor. Também insere elementos de terror na trama e apresenta um mistério que atiça a curiosidade para o próximo número. Só a arte estilo desleixada de Travel Foreman (desenho) e Dan Green (arte-final) não faz minha cabeça.

Devo acompanhar? Sim. 


Batgirl #1

Bárbara Gordon não é mais paraplégica e é novamente a Batgirl, usando uma armadura feia pra diabo, criada por Jim Lee. Descobrimos que os eventos de A Piada Mortal aconteceram apenas três anos atrás, mas ela acabou se recuperando totalmente. O resto da história é uma grande porcaria sem criatividade. Surpreende que Gail Simone, que conhece a personagem tão bem, tenha escrito uma história tão fraca. O primeiro título totalmente dispensável dos Novos 52.

Devo acompanhar? Não.


Batwing #1

Batwing é o herói congolês financiado pela Corporação Batman. E isso é tudo. Mais uma história genérica até a medula, sem qualquer atrativo. Nem mesmo o cliffhanger ao final da edição consegue animar para o próximo número. Definitivamente Judd Winick, um escritor mediano com alguns bons momentos com personagens menores, não consegue acertar com a “batfamília”.

Devo acompanhar? Não.


Detective Comics #1

O mais tradicional título do Homem-Morcego fica nas mãos de Tony S. Daniel (roteiro e desenho), um poço de mediocridade tanto no texto quanto na arte desde que assumiu a arte de Batman, a revista, no já longínquo arco Descanse em Paz. Se como desenhista já não é grande coisa, é de surpreender que os editores ficaram tão satisfeitos com ele que ainda lhe ofereceram o roteiro também. Mas enfim... Aqui ele já começa jogando o Coringa na roda e abusando da violência. Ao menos ele conseguiu fazer um cliffhanger capaz de atiçar o interesse para a próxima edição.

Devo acompanhar? Por enquanto sim.


Green Arrow #1 (Arqueiro Verde)

Esse aqui é fácil fácil um dos piores títulos dos Novos 52, se não o pior. Uma aula de como destruir um dos personagens mais legais e queridos da DC. O Arqueiro Verde antes era um Robin Hood moderno, um herói de esquerda falastrão, mulherengo e com sérios problemas de comprometimento. Agora rejuvenescido, fizeram a inacreditável mistura da versão Smallville do herói com Steve Jobs. No meio disso, ele dispara uma sequência absurda de frases de efeito infames. J.T. Krul simplesmente jogou fora todos os elementos que o tornavam um bom personagem e os substituiu por pura tosqueira. Horrível. E a arte de Dan Jurgens, para completar, está completamente datada.

Devo acompanhar? De jeito nenhum.


Hawk and Dove #1 (Rapina e Columba)

Da série “grandes mistérios do universo”: como Rob Liefeld continua arranjando trabalho nas grandes editoras? A única resposta possível é que ele fez um pacto com o diabo. Sério, não existe outra explicação racional. Ao menos dessa vez houve alguma justiça: para um desenhista de quinta categoria, personagens de quinta categoria. Aliás, chamá-lo de desenhista é uma afronta a qualquer um que já tenha segurado um lápis nessa vida. Mesmo àqueles que só desenham bonequinhos de palito. Rapina e Columba com título próprio? Por quê? Taí uma prova de que o reboot da DC podia ter bem menos títulos, mas como eles adoram o número 52... Passe longe. A boa notícia é que a revista já foi cancelada. A má é que Liefeld já assumiu outros títulos.

Devo acompanhar? Mas nem fodendo!  


Justice League International #1 (Liga da Justiça Internacional)

A Liga da Justiça Internacional é uma equipe com o aval da ONU formada por super-heróis toscos e chefiada pelo Batman, do jeitinho que era na década de 80 quando era uma espécie de sitcom super-heróica. Só que diferente do que era nos anos 80, Dan Jurgens, aqui como roteirista, ainda não entendeu que esse grupo de personagens só funciona de maneira humorística. Tratados de forma séria, o título é que vira uma piada. Pra completar, os desenhos de Aaron Lopresti, um bom desenhista, parecem bem apressados.

Devo acompanhar? Não.


Men of War #1

Outro título que figura entre os piores dos Novos 52. Ah, os americanos e sua cultura e fascinação bélica. Não dá pra entender porque isso merece uma revista. É uma HQ sobre soldados, estrelada por um descendente do Sargento Rock. Chata pra caralho. Tão insuportável que não tive coragem de encarar a história secundária, estrelada por Seals da Marinha. Talvez se eu não tivesse escapado do serviço militar, ao menos conseguisse entender seu propósito. Como não é o caso... Mais uma que já foi cancelada, mas substituída por outra revista de guerra.

Devo acompanhar? Nem.   


O.M.A.C. #1

Aqui o O.M.A.C. é um humano infectado por nanobôs, como antes do reboot, mas com o visual da versão de Jack Kirby. No meio disso, a turma de Apokolips dá as caras. Mais uma revista que beira o insuportável e que também já foi pro saco. Próxima.

Devo acompanhar? Sem chance.


Static Shock #1 (Super Choque)

O Super Choque é incorporado ao universo DC. E mais uma vez, temos uma edição sem um pingo de imaginação, abusando de clichês. O desenho animado, que ainda reprisa no SBT, é um milhão de vezes mais divertido que esta HQ. Esqueça. Até porque ela também já foi cancelada.

Devo acompanhar? Não.


Stormwatch #1

Um dos poucos títulos do selo Wildstorm, agora incorporado plenamente ao UDC. As primeiras notícias da reformulação davam conta de que este título seria muito importante para o novo universo DC e daria até pistas sobre o reboot. Na real? Não conhecia os personagens (à exceção do Caçador de Marte, que agora faz parte do grupo), não entendi quase nada da história e não me diverti nem um pouquinho. Nesse sentido, a ideia de atrair novos leitores não funcionou neste caso.

Devo acompanhar? Não.


Swamp Thing #1 (Monstro do Pântano)

Alec Holland não é mais o Monstro do Pântano e só quer saber de levar sua nova vida sossegada, mas uma série de fenômenos naturais nem tão naturais assim vão jogá-lo de volta no caminho do Monstro. A exemplo do Homem-Animal, essa revista também usa bons elementos de terror, e começa a construir uma narrativa bem interessante. Ajuda Scott Snyder ser atualmente um dos roteiristas mais criativos da DC e a arte de Yanick Paquette está muito bonita.

Devo acompanhar? Sim.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Capangas Contratados – Episódio 24

Perseguição implacável pelas ruas de São Paulo em mais um episódio de ação desenfreada. Só mesmo na ficção pra alguém conseguir correr nessa cidade... Enfim, está acabando. Agora só faltam dois.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Já que não tem texto...

Essa semana faltou inspiração para criar alguma coisa para o blog. Todo começo de semana eu gosto de publicar ou um conto ou uma crônica sobre qualquer coisa. Dessa vez não consegui pensar em nada. Acontece.

Enquanto isso, já que não tem texto, para não deixar isso aqui parado, aí vão cinco músicas do Afghan Whigs. Just because. Ou “porque sim e pronto” em bom português. Coisas boas não precisam de justificativa.

PS: O grande texto tradicional da sexta-feira, no entanto, está garantido.

Somethin' Hot, do disco 1965 (1998)

Turn on the Water, do disco Congregation (1992)

Gentlemen, do disco de mesmo nome (1993)

Going to Town, do disco Black Love (1996)

Miles Iz Ded, do disco Congregation (1992)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Discografia Radiohead – Parte final


Leia também:

Na última parte da Discografia, os discos pós Kid A/Amnesiac. Para uma banda com mais de 20 anos de estrada, sua discografia é bem sucinta e também fácil de se encontrar, já tendo inclusive ganhado um relançamento recente.


I Might Be Wrong: Live Recordings (2001)

Este EP de 8 faixas (que também foi lançado no Brasil, algo raro de acontecer) tinha como único propósito acalmar certa apreensão dos fãs ao mostrar-lhes que as músicas eletrônicas e superproduzidas da dobradinha Kid A/Amnesiac podiam funcionar muito bem ao vivo. Fora isso, vale pela inédita em disco True Love Waits, mas que possui uma versão melhor (com teclado) circulando pela internet.

Nota: 7,5


Hail to the Thief (2003)

A união do melhor de dois mundos. A volta das guitarras, tão pedidas pelos fãs, aliada às esquisitices sonoras dos dois discos anteriores. Não à toa é seu melhor disco desde OK Computer. Desde as distorções de abertura de 2 + 2 = 5, passando pelo single There There, essa fusão de sonoridades funciona que é uma beleza. De fato, só há três músicas descartáveis aqui: as puramente eletrônicas e genéricas Backdrifts e The Gloaming e a horrenda We Suck Young Blood, fácil, fácil a pior coisa que eles já gravaram. As outras onze faixas são de primeira. Se não fosse por essas três canções, poderia ser mais um clássico. Do jeito que está é só um excelente álbum. Leia um pouco mais sobre ele aqui.

Nota: 9,5


In Rainbows (2007)

Após um hiato de quatro anos sem lançar nada (o maior de sua carreira), a banda grava e lança este disco de forma independente com uma forma de comercialização pioneira e ousada (pague quanto quiser). Resultado: ganham muito dinheiro, provam que um disco não precisa ser caro para dar lucro e que não precisam de grandes gravadoras para continuar em evidência no meio. Musicalmente, nova mudança de estilo. In Rainbows é um disco mais orgânico. Os elementos eletrônicos estão em segundo plano e as guitarras, por sua vez, mais calmas. É o tipo de disco que não impressiona na primeira audição, mas que cresce bastante a cada nova escutada. Bodysnatchers, All I Need e Jigsaw Falling Into Place não fazem feio entre as canções mais antigas. Para uma resenha minha mais completa sobre o disco, publicada no Delfos em 2010, é só clicar aqui.

Nota: 9


The Best Of (2008)

Com o fim do contrato com a EMI, a gravadora resolveu ganhar os últimos trocados com o Radiohead lançando esta coletânea contra a vontade do grupo. Compilando faixas de Pablo Honey até Hail to the Thief (In Rainbows já foi lançado de forma independente), foi lançado em duas versões, simples e dupla. A simples, com 17 faixas, é simplesmente insuficiente para apresentar os principais sucessos da banda para um neófito. Já a dupla, com 30 músicas no total, é uma boa porta de entrada. Para quem já tem todos os discos, essa coletânea não possui nenhum atrativo. O lado B Talk Show Host, única faixa mais alternativa, presente na versão dupla, pode ser achada facilmente na internet e em coletâneas pirata de lados B.

Nota: 8 


The King of Limbs (2011)

Depois de mais de 20 anos de carreira, até que demorou para o grupo dar sua primeira escorregada. Como há uma primeira vez para tudo, The King of Limbs foi a pisada na bola inaugural da banda. Lançado no mesmo esquema de In Rainbows (mas com preço fixo), decepciona por ser um passo atrás. Ao invés de seguir pelo muito mais interessante caminho musical de In Rainbows, a banda retoma a exata mesma sonoridade de Kid A e Amnesiac, em canções menos inspiradas que as destes discos. Há bons momentos sim, mas nada muito memorável. É o tipo de álbum que sempre será preterido por algum outro da discografia da banda.

Nota: 6,5

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Capangas Contratados – Episódio 23

Ninjas, um clone do Bruce Lee e muita porrada. Você não encontra ação em doses cavalares assim nem no Domingo Maior! Pra completar, chegamos também à metade do último arco.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Uma ode ao Aquaman


No post de hoje vou falar sobre o Aquaman. E neste momento todo mundo deve estar se perguntando: por quê? Porque eu gosto do personagem, simples assim. Sempre tive uma queda pelo chamado underdog (aquele cara pelo qual ninguém dá nada). E Aquaman talvez seja o maior representante deles.

Ele é um dos sete grandes medalhões da DC Comics, um de seus personagens mais famosos (ao lado de Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e Caçador de Marte) e, no entanto, nunca fez nenhum sucesso comercial ou de popularidade. Pior, sempre foi a piada da editora, muito graças a sua participação no desenho dos Superamigos que posteriormente rendeu uma série de vinhetas hilárias no Cartoon Network, como aquela onde ele tenta se comunicar telepaticamente com uma pilha de atuns enlatados num supermercado.

Suas aventuras na era de ouro eram ridículas, para dizer o mínimo. Sim, ele cavalgava um cavalo-marinho gigante. Mas qualquer HQs de super-herói do período era igualmente imbecil ao ponto do dano cerebral. Graças a Deus eu fui criança na década de 80, com a morte do Robin, o surgimento do Venom e por aí vai. Histórias mais sérias, com mais desenvolvimento. Se fosse criança nas décadas de 40 a 60, provavelmente jamais teria me tornado fã de quadrinhos.

Seu primeiro título próprio durou bastante, mas sofria por ter sido publicado justamente no período mais retardado das histórias de super-heróis. Posteriormente ganhou algumas minisséries e mais uma tentativa de revista mensal que não vingou. Só foi desfrutar de relativo sucesso com um novo título publicado em 1994.

Na época, a indústria estava desesperada com a vertiginosa queda de público. A Marvel quase faliu. A DC resolveu chutar o pau da barraca e promover algumas mudanças radicais com alguns de seus personagens mais famosos e/ou queridos. Foi aí que o Superman morreu. Batman teve sua coluna quebrada. O Lanterna Verde virou um vilão e foi substituído por um novato. O Arqueiro Verde morreu e seu filho assumiu seu manto. Aquaman deixou barba e cabelo crescerem e perdeu a camiseta laranja. Perdeu também uma mão, devorada por piranhas. Substituiu-a por um arpão, adotando um visual mais “radical”. Coisa do período, a Image Comics e heróis malvadões eram a tendência.

Ajudou o fato da revista ser escrita por Peter David, operário-padrão da indústria, sempre muito competente.  Foi o título mais longevo do herói. Ajudou também o fato de, na época, Grant Morrison estar escrevendo a Liga da Justiça e ter resgatado os sete grandes como seus protagonistas.

Mas tanto David quanto Morrison saíram de seus respectivos títulos e ambos foram sofrendo uma queda de qualidade. Mais uma vez, a revista do rei dos mares foi cancelada.

Nos anos seguintes, o personagem tornou a patinar. Tentaram uma abordagem mística. Mas confundiram todo mundo, pois aquele Arthur Curry (seu nome real) não era o verdadeiro Arthur Curry, só tinha o mesmo nome. Mas hein? Depois experimentaram ligá-lo ao folclore do rei Arthur e até uma mão feita de água ele ganhou, para substituir o arpão. Era possível contar nos dedos as boas histórias do personagem (gostei bastante daquela do terremoto que afundou uma parte de San Diego).

Eis que a DC resolve dar um reboot em seu universo. O novo título do Aquaman ficou com ninguém menos que Geoff Johns (o Midas da editora, ou o Brian Michael Bendis da Distinta Concorrência) junto do brasileiro Ivan Reis, sua principal dupla criativa, responsável pelo sucesso recente do Lanterna Verde e pela saga A Noite Mais Densa.

Era tudo que o personagem precisava, os astros do momento tentando concretizar a missão de finalmente levá-lo ao seu lugar de direito. Também seria sua última chance. Se nem eles conseguissem, então estaria eternamente fadado ao fracasso comercial e a ser sempre uma piada interna.

A arte de Ivan Reis (um dos meus desenhistas favoritos atualmente) está competente como sempre, mas o grande responsável por finalmente levar Aquaman a um lugar de destaque (é um dos títulos mais vendidos dos chamados “Novos 52”) é mesmo Johns. Ele fez isso de uma maneira ao mesmo tempo simples e genial: abraçou a piada. Pegou tudo o que os leitores e a cultura pop têm de preconceito com o personagem, e transportou direto para o universo do gibi. O resultado atinge níveis de uma crueldade hilária.

Por um lado você tem uma figura extremamente nobre (em todos os sentidos, o cara faz parte da realeza!), que não pertence totalmente nem ao mundo da superfície, nem ao submarino, mas ajuda ambos sempre que necessário. E que não é compreendido por ninguém.

Um cara que vira um carro-forte como se erguesse uma xícara de café e toma um tiro de metralhadora na cara e a única consequência é um pequeno corte superficial. E com tudo isso, ainda é tratado como a piada dos super-heróis. Policiais se lamentam porque vão ser sacaneados por seus pares na delegacia por terem precisado da ajuda do “meia-boca” Aquaman. Um deles lhe pergunta se ele precisa de um copo d’água. E numa das cenas mais surreais dos últimos tempos, Arthur vai almoçar num restaurante de frutos do mar, deixando os clientes do lugar chocados.

Ao mesmo tempo em que injeta grandes doses de ação e tenta expandir a mitologia do personagem (parece que finalmente será revelado quem afundou a Atlântida), Geoff incorpora todas as gozações e piadinhas de décadas no universo da história e mostra como essa visão popular é equivocada, mas de um jeito tão divertido e bem humorado que esse é o título mais prazeroso de se ler desde o... Lanterna Verde. Coincidência?

O escritor tem a coragem de dar a cara para bater ao assumir de vez a suposta “tosquice” do personagem ao mostrá-lo, no começo de uma edição, despencando dos céus no meio de um deserto. Claro que a piada do peixe fora d’água é feita, e funciona. Nota-se que a trama está avançando para algum lugar e embora ainda falte ao herói pelo menos um grande vilão (tudo bem, o Arraia Negra matou seu filho, mas ainda assim não é uma figura memorável. Falta um Coringa, um Lex Luthor), algumas possibilidades aventadas demonstram grande potencial para serem desenvolvidas futuramente.

O personagem amargou por mais de 60 anos (descontando-se, conforme já comentado, alguns momentos) no limbo da mediocridade. Agora finalmente está sendo colocado em seu patamar apropriado no panteão da editora de maneira surpreendente. Demorou, mas finalmente encontrou seu lugar.

Não à toa, essa é a única revista que não aguentei esperar a publicação por aqui e estou acompanhando simultaneamente com o lançamento nos EUA. Esse é o título que tornou Aquaman grande, embora ainda seja divertido rir da cara dele.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O pesadelo do tempo


Outro dia acordou assustado de uma noite agitada, como há muito não acontecia.  Sonho inquietante, daqueles que o impediu de voltar a dormir. O fez se sentir culpado por perder tempo na cama, pois girava justamente em cima disso. O tempo.

Sonhou que perdia tempo. Escapava-lhe numa velocidade impressionante. Fugia-lhe fisicamente, não apenas metaforicamente. Abandonava-o como boas ideias, com facilidade desconcertante. Num momento era manhã, no seguinte fim de tarde, as primeiras penumbras da noite já se avizinhando.

Como isso aconteceu? Sentia ser estranho até para a física torta dos sonhos. Perdeu muito tempo tentando decifrar o que havia de errado naquele cenário. De novo a palavra aqui é tempo. Quando finalmente se deu conta, já havia sido engolido pela madrugada e ficou horrorizado. Aonde aquele dia que mal havia ainda nascido foi parar? Não podia ter se acabado, vindo e ido embora na velocidade de um raciocínio. Mas foi o que aconteceu, o que o perturbou.

O termo “contagem regressiva” veio-lhe imediatamente à mente. A sensação de que ela chegaria ao fim se não saísse logo dali tomou todo seu corpo. No fim, foi o que o fez acordar, o corpo dolorido, cheio de espasmos, todo torto na cama, uma salvaguarda para o subconsciente perdido entre realidade e ficção.

Sentiu-se gradativamente melhor com o passar dos dias, mas a sensação não chegou a desaparecer por completo, bate no fundo de sua mente como um pêndulo, lembrando-o constantemente dos ponteiros a se mexerem em ritmo acelerado. Logo será noite novamente. Qualquer dia desses se perde de vez em pensamentos. Qualquer dia desses o tempo lhe escapa.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Discografia Radiohead – Parte I


Em minha missão contínua para apresentar a discografia de minhas bandas preferidas, chegou a vez de falar daquela que ocupa o posto número dois em meu Top 5 de todos os tempos, o Radiohead, aquela que é, sem qualquer sombra de dúvida, a mais influente e importante banda de rock em atividade.

Com uma liberdade criativa e capacidade para experimentar sem precedentes, a banda não se prende a vontades de mercado, e nem mesmo à de seus fãs, e sua sonoridade a cada novo trabalho é tão diferente quanto surpreendente. E mesmo com essa grande esquizofrenia musical, sua base de fãs se mantém firme e forte, sempre ansiosa para saber como o grupo irá soar a seguir.

Formado na região da cidade universitária de Oxford, Inglaterra, em 1985, por Thom Yorke (vocais, guitarra e teclados), Ed O’Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo) e Phil Selway (bateria), posteriormente o grupo ganhou a adição do irmão caçula de Colin, Jonny Greenwood (guitarra, teclados e demais instrumentos esquisitos), que, ao lado de Thom Yorke, é uma das grandes forças criativas da banda.

Tirando seu nome de uma música dos Talking Heads, a banda penou alguns anos no circuito de rock universitário da Inglaterra, deu uma parada para seus integrantes cursarem a faculdade, e retornou com eles já formados (à exceção de Jonny, mais novo que os outros) para que enfim pudessem gravar seu primeiro disco, lançado ainda em meio ao furacão grunge.
  

Pablo Honey (1993)

O disco de estreia do Radiohead fez com que eles fossem chamados por parte da imprensa internacional de “Nirvana britânico”. De fato, a influência do grupo de Seattle se faz notar por todo o disco, assim como ecos de Pixies e Sonic Youth. Muitas influências em primeiro plano num álbum que carece um pouco de identidade própria. Há ótimas músicas, como o sucesso Creep, a irônica Anyone Can Play Guitar e a balada Thinking About You. De fato, a primeira metade do disco é muito boa, com rocks acelerados e baladas levadas pelas guitarras. O problema, além da falta de uma cara própria já citada, é que a segunda metade perde fôlego e as faixas se tornam repetitivas. Mas para uma estreia, está de bom tamanho.

Nota: 7


The Bends (1995)

É aqui que a banda encontra sua própria identidade, cria seu estilo e comete um dos meus discos favoritos de todos os tempos. Sem dúvida, o meu preferido deles, até mais que OK Computer. 12 faixas de uma beleza monumental, impossível pular uma sequer. Tem rock guitarreiro com The Bends, Just e My Iron Lung e baladas depressivas com High and Dry, Fake Plastic Trees e (Nice Dream), só para ficar em alguns exemplos, até culminar na última faixa, a climática Street Spirit (Fade Out). Um dos grandes discos de rock da década de 90 e a primeira obra-prima da banda. Essencial.

Nota: 10


OK Computer (1997)

Este é um daqueles discos que são o retrato perfeito de uma geração (a letra de No Surprises é uma pequena pérola sobre a vida moderna). Até por isso, e sua gigantesca qualidade, claro, é tido como o último grande disco de rock lançado. E já se vão 15 anos! Aqui a banda incorpora elementos do rock progressivo e deixa sua sonoridade mais viajandona e também, se é que isso é possível, mais tristonha. Desde a abertura com Airbag, narrando um acidente de carro, passando pela épica Paranoid Android e sua referência a Douglas Adams, Karma Police, a perfeita Let Down (a minha favorita da banda) até o final, com The Tourist e o narrador pedindo para algum idiota ir mais devagar ao volante, o que denota uma espécie de narrativa cíclica, é mais um trabalho irretocável, que também merece o título de obra-prima. Contudo, diferente de The Bends, não o considero um disco para ser ouvido em todos os momentos. E a vinheta Fitter Happier (narrada pelo programa de voz de um Macintosh) dificilmente merece uma segunda audição. Mas mesmo assim, é um puta disco.

Nota: 10


Kid A (2000)

Após o sucesso estrondoso de OK Computer, veio a dúvida: para onde ir musicalmente a seguir? Fazer mais do mesmo ou tentar algo novo? Esse questionamento quase implode o grupo, até que por fim eles encontram a resposta que pegou todo mundo de surpresa: fazer colagens sonoras eletrônicas, praticamente encostando as guitarras que fizeram sua fama. Parecia suicídio comercial, mas o disco liderou as paradas e provou que integridade artística pode sim ser sinônimo de sucesso. Muitos críticos estadunidenses, por falta de um rótulo melhor, classificaram esse como um trabalho de jazz. Abrindo com as repetições de Everything in Its Right Place, a levada de baixo de The National Anthem, a mais normalzinha Optimistic e a dançante Idioteque, esses são os destaques. Escutado com a mente aberta, é um ótimo disco.

Nota: 8,5


Amnesiac (2001)

Composto por músicas gravadas nas sessões de Kid A e que acabaram ficando de fora daquele álbum, de maneira alguma são “sobras”, pois as canções têm qualidade mais que suficiente para sustentar este disco. Pyramid Song, You and Whose Army?, Knives Out e The Morning Bell/Amnesiac são os pontos altos. O problema é que o choque da surpresa de Kid A aqui já não existia mais e, convenhamos, entre essa fase esquisita/eletrônica e a saudosa fase das guitarras, acho que ninguém prefere esta aqui.

Nota: 7,5