Eis
uma situação digna do mote “mais estranho que a ficção”. Semana passada fui
cortar o cabelo, dar o popular “tapa no beloto”. Corto há anos no mesmo lugar,
um desses barbeiros de bairro que já está estabelecido na região há décadas.
Sua freguesia é composta principalmente pelo pessoal mais velho da vizinhança e
prestadores de serviços próximos, como taxistas e por aí vai.
Mas
a figura que encontrei já sentado na cadeira naquela manhã nunca havia visto lá
antes. Tiozão, entre o final dos 50, começo dos 60, barriga proeminente, cara
toda cheia de pintas e o cabelo já formando um mini-mullet. Sabe aqueles sujeitos que você encontra em qualquer
lotérica, fazendo sua fezinha com os óculos na ponta do nariz? Pois é.
Só
que quando reparei melhor, notei algo peculiar. O sujeito usava uma peruca. E não
simplesmente uma peruca qualquer, era a peruca mais fake que eu já vi na face da Terra. As costuras todas aparentes
mais ou menos na altura das têmporas, parecia um pequeno gorro feito de cabelo.
É o tipo de peruca que não se compra quando se quer esconder a calvície. É o
tipo de peruca que se compra por 20 mangos em qualquer loja de fantasias pra
tirar uma onda só de farra.
Ele
não parecia ser o tipo fanfarrão, embora estivesse no cabeleireiro de peruca.
Mas a bem da verdade, é bom dizer que ele não estava lá cortando seus cabelos
artificiais, e sim fazendo a barba. Barbeiro de bairro das antigas, lembra?
Menos mal. Contudo, eu, sentado diretamente atrás do figura, tentava ler uma
tradicional revista do ano passado, em vão. Meu olhar era atraído para aquela
costura. Puro magnetismo que só o absurdo consegue causar. Tentava esconder um
sorriso involuntário atrás das páginas.
O
pior é que ainda tinha mais por vir. O barbeiro puxa papo com ele, o desgraçado
responde qualquer bobagem e... ele é totalmente fanho! Tão fanho a ponto de ser
incompreensível. Por um segundo cheguei a achar que ele estava falando outro
idioma. Era a peruca mais fake da
face da Terra. Na cabeça do cara mais fanho do universo conhecido. Havia uma
certa harmonia poética nisso.
Não
que eu tenha notado na hora. Naquele momento estava ocupado demais escondendo o
rosto com a revista e tentando desesperadamente não cair na gargalhada. Parecia
um tipo saído da ficção. Tinha cara e jeito de personagem, alívio cômico. Não
faria feio, por exemplo, no meio da fauna exótica que habita as páginas
virtuais de Capangas Contratados. Mas
aí, se eu falasse que baseei numa pessoa real, todo mundo ia achar palha.
Escritores são todos mentirosos profissionais, e por aí vai.
Mas esse daí existe. É o tipo de sujeito com o qual você tromba de vez
em quando, quando menos se espera. É de carne e osso, mas você só acredita
porque está vendo. De outra forma, só aceitaria que existe na imaginação fértil
de alguém. Mas esses tipos existem. E vão cortar o cabelo de peruca.
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