sexta-feira, 18 de maio de 2012

Os Novos 52 – Parte I


Mês que vem o grande reboot da DC chega ao Brasil, via Panini Comics. Toda a cronologia e continuidade que conhecíamos foi apagada (à exceção de Batman e Lanterna Verde, porque em time que está ganhando não se mexe). Tudo recomeçará de novo, do zero, em 52 novos títulos. Origens serão mudadas e modernizadas. Cuecas não serão mais usadas por cima das calças e mulheres não combaterão mais o crime com as pernas de fora. Na nova cronologia, os heróis existem há apenas cinco anos. Nada de grandes sagas ou crossovers nesse primeiro momento.

A ideia de tudo isso é uma só: simplificar e abrir portas para atrair novos leitores. Faz tempo que as HQs de super-heróis sofrem para aumentar seu público devido a cronologias complexas e virtualmente impenetráveis para novatos. Começando tudo de novo, desde o número 1, a aposta no aumento de vendas compensou, visto que até agora a empreitada tem sido um sucesso comercial, ainda que os fãs das antigas tenham se sentido desrespeitados por tudo que eles conheciam não existir mais.

Mas e o que realmente importa? As 52 revistas são boas? Fizeram algo inovador? Repetiram conceitos antigos? Enfim, vale a pena acompanhar essa presepada toda? Li todos os números 1 do projeto e nas próximas semanas analisarei rapidamente cada título individualmente, tentando responder a essa pergunta.

Segui a ordem de publicação dos EUA, onde a cada semana saem 13 títulos. A revista da Liga da Justiça, contudo, foi a primeira a ser lançada lá, como uma espécie de pré-estreia, mas na realidade ela faz parte do pacote de lançamentos da terceira semana, por isso, a análise dela estará na terceira parte desta matéria.

Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.


Action Comics #1

Grant Morrison (com Rags Morales nos desenhos e Rick Bryant na arte-final) conta os primeiros dias de atuação do Superman em Metrópolis, quando ainda usava uma versão caseira de seu uniforme (camiseta com o símbolo do S, calças jeans remendadas nos joelhos, botinas e uma capa ridiculamente curta) e ainda não tinha todos os seus poderes plenamente desenvolvidos. Apresenta um herói mais próximo do que era quando foi criado em 1938, sem capacidade de voo e defensor da classe trabalhadora. Também mostra um Super de personalidade mais marrenta e, a exemplo do que já havia feito na série All-Star Superman, um Lex Luthor muito fodão, que cumpre com a palavra. A roupa do herói pode ser risível, mas todo o resto promete.

Devo acompanhar? Sim. 
   

Animal Man #1 (Homem-Animal)

Buddy Baker é um homem de família, casado e com filhos. Um trabalhador, dublê de cenas perigosas. Um super-herói, o Homem-Animal. Agora também é um astro de cinema, sua identidade é pública e apresenta um sintoma estranho após um salvamento bem-sucedido. O roteirista Jeff Lemire começa bem a edição, abrindo-a com uma entrevista de Buddy para uma revista que já ajuda a situar a dimensão do personagem para o leitor. Também insere elementos de terror na trama e apresenta um mistério que atiça a curiosidade para o próximo número. Só a arte estilo desleixada de Travel Foreman (desenho) e Dan Green (arte-final) não faz minha cabeça.

Devo acompanhar? Sim. 


Batgirl #1

Bárbara Gordon não é mais paraplégica e é novamente a Batgirl, usando uma armadura feia pra diabo, criada por Jim Lee. Descobrimos que os eventos de A Piada Mortal aconteceram apenas três anos atrás, mas ela acabou se recuperando totalmente. O resto da história é uma grande porcaria sem criatividade. Surpreende que Gail Simone, que conhece a personagem tão bem, tenha escrito uma história tão fraca. O primeiro título totalmente dispensável dos Novos 52.

Devo acompanhar? Não.


Batwing #1

Batwing é o herói congolês financiado pela Corporação Batman. E isso é tudo. Mais uma história genérica até a medula, sem qualquer atrativo. Nem mesmo o cliffhanger ao final da edição consegue animar para o próximo número. Definitivamente Judd Winick, um escritor mediano com alguns bons momentos com personagens menores, não consegue acertar com a “batfamília”.

Devo acompanhar? Não.


Detective Comics #1

O mais tradicional título do Homem-Morcego fica nas mãos de Tony S. Daniel (roteiro e desenho), um poço de mediocridade tanto no texto quanto na arte desde que assumiu a arte de Batman, a revista, no já longínquo arco Descanse em Paz. Se como desenhista já não é grande coisa, é de surpreender que os editores ficaram tão satisfeitos com ele que ainda lhe ofereceram o roteiro também. Mas enfim... Aqui ele já começa jogando o Coringa na roda e abusando da violência. Ao menos ele conseguiu fazer um cliffhanger capaz de atiçar o interesse para a próxima edição.

Devo acompanhar? Por enquanto sim.


Green Arrow #1 (Arqueiro Verde)

Esse aqui é fácil fácil um dos piores títulos dos Novos 52, se não o pior. Uma aula de como destruir um dos personagens mais legais e queridos da DC. O Arqueiro Verde antes era um Robin Hood moderno, um herói de esquerda falastrão, mulherengo e com sérios problemas de comprometimento. Agora rejuvenescido, fizeram a inacreditável mistura da versão Smallville do herói com Steve Jobs. No meio disso, ele dispara uma sequência absurda de frases de efeito infames. J.T. Krul simplesmente jogou fora todos os elementos que o tornavam um bom personagem e os substituiu por pura tosqueira. Horrível. E a arte de Dan Jurgens, para completar, está completamente datada.

Devo acompanhar? De jeito nenhum.


Hawk and Dove #1 (Rapina e Columba)

Da série “grandes mistérios do universo”: como Rob Liefeld continua arranjando trabalho nas grandes editoras? A única resposta possível é que ele fez um pacto com o diabo. Sério, não existe outra explicação racional. Ao menos dessa vez houve alguma justiça: para um desenhista de quinta categoria, personagens de quinta categoria. Aliás, chamá-lo de desenhista é uma afronta a qualquer um que já tenha segurado um lápis nessa vida. Mesmo àqueles que só desenham bonequinhos de palito. Rapina e Columba com título próprio? Por quê? Taí uma prova de que o reboot da DC podia ter bem menos títulos, mas como eles adoram o número 52... Passe longe. A boa notícia é que a revista já foi cancelada. A má é que Liefeld já assumiu outros títulos.

Devo acompanhar? Mas nem fodendo!  


Justice League International #1 (Liga da Justiça Internacional)

A Liga da Justiça Internacional é uma equipe com o aval da ONU formada por super-heróis toscos e chefiada pelo Batman, do jeitinho que era na década de 80 quando era uma espécie de sitcom super-heróica. Só que diferente do que era nos anos 80, Dan Jurgens, aqui como roteirista, ainda não entendeu que esse grupo de personagens só funciona de maneira humorística. Tratados de forma séria, o título é que vira uma piada. Pra completar, os desenhos de Aaron Lopresti, um bom desenhista, parecem bem apressados.

Devo acompanhar? Não.


Men of War #1

Outro título que figura entre os piores dos Novos 52. Ah, os americanos e sua cultura e fascinação bélica. Não dá pra entender porque isso merece uma revista. É uma HQ sobre soldados, estrelada por um descendente do Sargento Rock. Chata pra caralho. Tão insuportável que não tive coragem de encarar a história secundária, estrelada por Seals da Marinha. Talvez se eu não tivesse escapado do serviço militar, ao menos conseguisse entender seu propósito. Como não é o caso... Mais uma que já foi cancelada, mas substituída por outra revista de guerra.

Devo acompanhar? Nem.   


O.M.A.C. #1

Aqui o O.M.A.C. é um humano infectado por nanobôs, como antes do reboot, mas com o visual da versão de Jack Kirby. No meio disso, a turma de Apokolips dá as caras. Mais uma revista que beira o insuportável e que também já foi pro saco. Próxima.

Devo acompanhar? Sem chance.


Static Shock #1 (Super Choque)

O Super Choque é incorporado ao universo DC. E mais uma vez, temos uma edição sem um pingo de imaginação, abusando de clichês. O desenho animado, que ainda reprisa no SBT, é um milhão de vezes mais divertido que esta HQ. Esqueça. Até porque ela também já foi cancelada.

Devo acompanhar? Não.


Stormwatch #1

Um dos poucos títulos do selo Wildstorm, agora incorporado plenamente ao UDC. As primeiras notícias da reformulação davam conta de que este título seria muito importante para o novo universo DC e daria até pistas sobre o reboot. Na real? Não conhecia os personagens (à exceção do Caçador de Marte, que agora faz parte do grupo), não entendi quase nada da história e não me diverti nem um pouquinho. Nesse sentido, a ideia de atrair novos leitores não funcionou neste caso.

Devo acompanhar? Não.


Swamp Thing #1 (Monstro do Pântano)

Alec Holland não é mais o Monstro do Pântano e só quer saber de levar sua nova vida sossegada, mas uma série de fenômenos naturais nem tão naturais assim vão jogá-lo de volta no caminho do Monstro. A exemplo do Homem-Animal, essa revista também usa bons elementos de terror, e começa a construir uma narrativa bem interessante. Ajuda Scott Snyder ser atualmente um dos roteiristas mais criativos da DC e a arte de Yanick Paquette está muito bonita.

Devo acompanhar? Sim.

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