Mês
que vem o grande reboot da DC chega
ao Brasil, via Panini Comics. Toda a cronologia e continuidade que conhecíamos
foi apagada (à exceção de Batman e Lanterna Verde, porque em time que está
ganhando não se mexe). Tudo recomeçará de novo, do zero, em 52 novos títulos.
Origens serão mudadas e modernizadas. Cuecas não serão mais usadas por cima das
calças e mulheres não combaterão mais o crime com as pernas de fora. Na nova
cronologia, os heróis existem há apenas cinco anos. Nada de grandes sagas ou crossovers nesse primeiro momento.
A
ideia de tudo isso é uma só: simplificar e abrir portas para atrair novos
leitores. Faz tempo que as HQs de super-heróis sofrem para aumentar seu público
devido a cronologias complexas e virtualmente impenetráveis para novatos.
Começando tudo de novo, desde o número 1, a aposta no aumento de vendas
compensou, visto que até agora a empreitada tem sido um sucesso comercial, ainda
que os fãs das antigas tenham se sentido desrespeitados por tudo que eles conheciam
não existir mais.
Mas
e o que realmente importa? As 52 revistas são boas? Fizeram algo inovador?
Repetiram conceitos antigos? Enfim, vale a pena acompanhar essa presepada toda?
Li todos os números 1 do projeto e nas próximas semanas analisarei rapidamente
cada título individualmente, tentando responder a essa pergunta.
Segui
a ordem de publicação dos EUA, onde a cada semana saem 13 títulos. A revista da
Liga da Justiça, contudo, foi a primeira a ser lançada lá, como uma espécie de
pré-estreia, mas na realidade ela faz parte do pacote de lançamentos da
terceira semana, por isso, a análise dela estará na terceira parte desta
matéria.
Aviso: O texto abaixo pode conter spoilers. Leia por sua conta e risco.
Action Comics #1
Grant
Morrison (com Rags Morales nos desenhos e Rick Bryant na arte-final) conta os
primeiros dias de atuação do Superman em Metrópolis, quando ainda usava uma
versão caseira de seu uniforme (camiseta com o símbolo do S, calças jeans
remendadas nos joelhos, botinas e uma capa ridiculamente curta) e ainda não
tinha todos os seus poderes plenamente desenvolvidos. Apresenta um herói mais
próximo do que era quando foi criado em 1938, sem capacidade de voo e defensor
da classe trabalhadora. Também mostra um Super de personalidade mais marrenta
e, a exemplo do que já havia feito na série All-Star
Superman, um Lex Luthor muito fodão, que cumpre com a palavra. A roupa do
herói pode ser risível, mas todo o resto promete.
Devo acompanhar? Sim.
Animal Man #1 (Homem-Animal)
Buddy
Baker é um homem de família, casado e com filhos. Um trabalhador, dublê de
cenas perigosas. Um super-herói, o Homem-Animal. Agora também é um astro de
cinema, sua identidade é pública e apresenta um sintoma estranho após um
salvamento bem-sucedido. O roteirista Jeff Lemire começa bem a edição,
abrindo-a com uma entrevista de Buddy para uma revista que já ajuda a situar a
dimensão do personagem para o leitor. Também insere elementos de terror na
trama e apresenta um mistério que atiça a curiosidade para o próximo número. Só
a arte estilo desleixada de Travel Foreman (desenho) e Dan Green (arte-final)
não faz minha cabeça.
Devo acompanhar? Sim.
Batgirl #1
Bárbara
Gordon não é mais paraplégica e é novamente a Batgirl, usando uma armadura feia
pra diabo, criada por Jim Lee. Descobrimos que os eventos de A Piada Mortal aconteceram apenas três
anos atrás, mas ela acabou se recuperando totalmente. O resto da história é uma
grande porcaria sem criatividade. Surpreende que Gail Simone, que conhece a
personagem tão bem, tenha escrito uma história tão fraca. O primeiro título
totalmente dispensável dos Novos 52.
Devo acompanhar? Não.
Batwing #1
Batwing
é o herói congolês financiado pela Corporação Batman. E isso é tudo. Mais uma
história genérica até a medula, sem qualquer atrativo. Nem mesmo o cliffhanger ao final da edição consegue
animar para o próximo número. Definitivamente Judd Winick, um escritor mediano
com alguns bons momentos com personagens menores, não consegue acertar com a
“batfamília”.
Devo acompanhar? Não.
Detective Comics #1
O
mais tradicional título do Homem-Morcego fica nas mãos de Tony S. Daniel
(roteiro e desenho), um poço de mediocridade tanto no texto quanto na arte
desde que assumiu a arte de Batman, a
revista, no já longínquo arco Descanse em
Paz. Se como desenhista já não é grande coisa, é de surpreender que os
editores ficaram tão satisfeitos com ele que ainda lhe ofereceram o roteiro
também. Mas enfim... Aqui ele já começa jogando o Coringa na roda e abusando da
violência. Ao menos ele conseguiu fazer um cliffhanger
capaz de atiçar o interesse para a próxima edição.
Devo acompanhar? Por enquanto sim.
Green Arrow #1 (Arqueiro
Verde)
Esse
aqui é fácil fácil um dos piores títulos dos Novos 52, se não o pior. Uma aula
de como destruir um dos personagens mais legais e queridos da DC. O Arqueiro
Verde antes era um Robin Hood moderno, um herói de esquerda falastrão,
mulherengo e com sérios problemas de comprometimento. Agora rejuvenescido,
fizeram a inacreditável mistura da versão Smallville
do herói com Steve Jobs. No meio disso, ele dispara uma sequência absurda de
frases de efeito infames. J.T. Krul simplesmente jogou fora todos os elementos
que o tornavam um bom personagem e os substituiu por pura tosqueira. Horrível.
E a arte de Dan Jurgens, para completar, está completamente datada.
Devo acompanhar? De jeito nenhum.
Hawk and Dove #1 (Rapina e Columba)
Da
série “grandes mistérios do universo”: como Rob Liefeld continua arranjando
trabalho nas grandes editoras? A única resposta possível é que ele fez um pacto
com o diabo. Sério, não existe outra explicação racional. Ao menos dessa vez
houve alguma justiça: para um desenhista de quinta categoria, personagens de
quinta categoria. Aliás, chamá-lo de desenhista é uma afronta a qualquer um que
já tenha segurado um lápis nessa vida. Mesmo àqueles que só desenham
bonequinhos de palito. Rapina e Columba com título próprio? Por quê? Taí uma
prova de que o reboot da DC podia ter
bem menos títulos, mas como eles adoram o número 52... Passe longe. A boa notícia
é que a revista já foi cancelada. A má é que Liefeld já assumiu outros títulos.
Devo acompanhar? Mas nem fodendo!
Justice League International #1 (Liga da Justiça Internacional)
A
Liga da Justiça Internacional é uma equipe com o aval da ONU formada por
super-heróis toscos e chefiada pelo Batman, do jeitinho que era na década de 80
quando era uma espécie de sitcom super-heróica. Só que diferente do que era nos
anos 80, Dan Jurgens, aqui como roteirista, ainda não entendeu que esse grupo
de personagens só funciona de maneira humorística. Tratados de forma séria, o
título é que vira uma piada. Pra completar, os desenhos de Aaron Lopresti, um
bom desenhista, parecem bem apressados.
Devo acompanhar? Não.
Men of War #1
Outro
título que figura entre os piores dos Novos 52. Ah, os americanos e sua cultura
e fascinação bélica. Não dá pra entender porque isso merece uma revista. É uma
HQ sobre soldados, estrelada por um descendente do Sargento Rock. Chata pra
caralho. Tão insuportável que não tive coragem de encarar a história
secundária, estrelada por Seals da Marinha. Talvez se eu não tivesse escapado
do serviço militar, ao menos conseguisse entender seu propósito. Como não é o
caso... Mais uma que já foi cancelada, mas substituída por outra revista de guerra.
Devo
acompanhar? Nem.
O.M.A.C. #1
Aqui
o O.M.A.C. é um humano infectado por nanobôs, como antes do reboot, mas com o visual da versão de
Jack Kirby. No meio disso, a turma de Apokolips dá as caras. Mais uma revista
que beira o insuportável e que também já foi pro saco. Próxima.
Devo acompanhar? Sem chance.
Static Shock #1 (Super Choque)
O
Super Choque é incorporado ao universo DC. E mais uma vez, temos uma edição sem
um pingo de imaginação, abusando de clichês. O desenho animado, que ainda reprisa
no SBT, é um milhão de vezes mais divertido que esta HQ. Esqueça. Até porque
ela também já foi cancelada.
Devo acompanhar? Não.
Stormwatch #1
Um
dos poucos títulos do selo Wildstorm, agora incorporado plenamente ao UDC. As
primeiras notícias da reformulação davam conta de que este título seria muito
importante para o novo universo DC e daria até pistas sobre o reboot. Na real? Não conhecia os
personagens (à exceção do Caçador de Marte, que agora faz parte do grupo), não
entendi quase nada da história e não me diverti nem um pouquinho. Nesse
sentido, a ideia de atrair novos leitores não funcionou neste caso.
Devo acompanhar? Não.
Swamp Thing #1 (Monstro do
Pântano)
Alec
Holland não é mais o Monstro do Pântano e só quer saber de levar sua nova vida
sossegada, mas uma série de fenômenos naturais nem tão naturais assim vão
jogá-lo de volta no caminho do Monstro. A exemplo do Homem-Animal, essa revista
também usa bons elementos de terror, e começa a construir uma narrativa bem
interessante. Ajuda Scott Snyder ser atualmente um dos roteiristas mais criativos da DC e a arte de Yanick Paquette está muito bonita.
Devo acompanhar? Sim.
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