Outro
dia acordou assustado de uma noite agitada, como há muito não acontecia. Sonho inquietante, daqueles que o impediu de
voltar a dormir. O fez se sentir culpado por perder tempo na cama, pois girava
justamente em cima disso. O tempo.
Sonhou
que perdia tempo. Escapava-lhe numa velocidade impressionante. Fugia-lhe
fisicamente, não apenas metaforicamente. Abandonava-o como boas ideias, com
facilidade desconcertante. Num momento era manhã, no seguinte fim de tarde, as
primeiras penumbras da noite já se avizinhando.
Como
isso aconteceu? Sentia ser estranho até para a física torta dos sonhos. Perdeu
muito tempo tentando decifrar o que havia de errado naquele cenário. De novo a
palavra aqui é tempo. Quando finalmente se deu conta, já havia sido engolido
pela madrugada e ficou horrorizado. Aonde aquele dia que mal havia ainda
nascido foi parar? Não podia ter se acabado, vindo e ido embora na velocidade
de um raciocínio. Mas foi o que aconteceu, o que o perturbou.
O
termo “contagem regressiva” veio-lhe imediatamente à mente. A sensação de que
ela chegaria ao fim se não saísse logo dali tomou todo seu corpo. No fim, foi o
que o fez acordar, o corpo dolorido, cheio de espasmos, todo torto na cama, uma
salvaguarda para o subconsciente perdido entre realidade e ficção.
Sentiu-se
gradativamente melhor com o passar dos dias, mas a sensação não chegou a
desaparecer por completo, bate no fundo de sua mente como um pêndulo,
lembrando-o constantemente dos ponteiros a se mexerem em ritmo acelerado. Logo
será noite novamente. Qualquer dia desses se perde de vez em pensamentos.
Qualquer dia desses o tempo lhe escapa.
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