Que
o brasileiro médio não tem o hábito da leitura, não é nenhuma novidade. Se isso
é sabido, por que fui entrar nessa barca furada? Afinal, não serão os esquimós
a ler os meus escritos. Sinceramente, não sei. Gosto de escrever, simples
assim, que outra coisa estaria fazendo, não fosse isso? E nessas, arco com as
consequências da minha escolha.
Assim
como gosto de escrever, gosto igualmente, senão mais, de ler. Leio muito e um
pouco de tudo. Livros, quadrinhos e até bula de remédio se não tiver outra
opção e mais nada pra fazer. Leio qualquer coisa de qualquer gênero. Claro que
tenho minhas preferências pessoais, mas nunca nego nenhum tipo de material que
caia em minhas mãos. Primeiro eu leio, depois julgo se valeu o tempo investido
ou não.
Começou
com os quadrinhos. Maurício de Souza. Aliás, muita gente que hoje tem da
leitura um hábito, deve muito a esse senhor por incentivar os primeiros passos.
Depois, a evolução natural, as HQs de super-heróis. Daí para os livros foi um
pulo. Se a história é boa, não interessa se tem belas figuras acompanhando ou
não.
Tudo
bem, quadrinhos são um hobbie, e nem
todos têm condições financeiras de estimulá-lo ou mantê-lo. Nem todos têm
acesso ou interesse a essa primeira porta de entrada. É aí que entra a escola.
E é aí que ela faz besteira.
Até
começa bem, com os infanto-juvenis. Os livros do Pedro Bandeira, clima de
aventura, para um moleque de 9, 10 anos, aquilo é o máximo, prende a atenção.
Olha só, livros podem ser tão divertidos quanto uma partida de futebol.
E
aí você entra no ginásio e parecem fazer questão de demonstrar que aquelas
primeiras impressões foram errôneas. É nesse estágio, geralmente, e
principalmente no ensino médio, o curso preparatório para o vestibular, que
entram os grandes clássicos da literatura brasileira.
De
quem foi a brilhante ideia de forçar a leitura de Machado de Assis para um
bando de adolescentes? Claro, vamos empurrar-lhes o Machadão goela abaixo, é
lógico que eles vão gostar da sua narrativa e vão querer acompanhar suas obras
completas. Óbvio que vão se identificar com o enredo, os personagens, as
situações atuais, tão reflexivas de suas próprias vidas. Preferirão gastar seu
tempo nisso e não querendo desesperadamente perder o cabaço.
Não
seria melhor um equivalente adolescente do Pedro Bandeira, para primeiro
chamar atenção, “olha só, isso aqui é legal”, e depois, bem depois, ir
apresentando os medalhões em doses homeopáticas? Criar o gosto para depois
refiná-lo? Sei lá, eu não comecei a ouvir rock por Pink Floyd. Se tivesse, provavelmente não teria continuado.
Nessa
época eu já lia bastante, graças à minha paixão pelos quadrinhos. Se dependesse
das leituras obrigatórias do colégio, teria me transformado em mais um
adolescente cabeça oca que considera a literatura coisa de nerd (com o sentido
pejorativo que eles insistiam em conferir ao termo).
E
nem dá pra contra-argumentar quando te forçam a ler um livro como Macunaíma. Essa porcaria me marcou tanto
negativamente que eu não consigo esquecer essa desgraça, não consigo apagá-la
da cabeça, ela me segue eternamente, ao lado de desgraças e rejeições
marcantes.
Qual
o valor dessa merda? Alguém consegue me explicar? De preferência, sem usar
chavões, porque esses eu já ouvi todos. Isso é o melhor que nossa literatura
tem para oferecer? Acho que não.
Aí
você força um adolescente, na fase rebelde, a ler uma história besta pra
caralho, cada página parece demorar um século para passar. Não é a toa que ele
dificilmente vá pegar num livro por conta própria... E outra: por que quando
Mário de Andrade escreve um texto sem pontuação ele é um gênio e quando o
adolescente fazia isso numa redação ele era uma besta? Novo desserviço, valeu,
grande Mário!
Não
digo que a maioria desses escritores não tenha seus méritos, provavelmente eles
os tenham sim e mereçam toda a fama e reconhecimento adquiridos. Mas eu não sei
quais são esses méritos porque o trauma foi tão grande que nunca mais os li. Se
tivessem pegado leve, aos poucos, na maciota, provavelmente hoje já teria lido
todos os clássicos. Da forma que fizeram, hoje resisto a eles como se fossem
injeções. Preconceito bobo da minha parte? Claro, mas também produto da minha
criação.
Por
isso não sinto vergonha nenhuma em dizer que se hoje leio de tudo e
constantemente, se não sou um brasileiro médio em se tratando de hábitos de
leitura, isso se deve em grande parte ao Cebolinha e ao Batman, não a Machado
de Assis e Mário de Andrade. Engole essa, Machadão.