Pela
minha experiência, escrever, mais do que prática (parte importante do processo,
é claro), é ritmo. É manter uma boa toada, uma média diária. Isso ajuda a
manter não só a já citada prática, mas a conseguir visualizar rapidamente o
caminho percorrido, e, sobretudo e mais importante, a manter a preguiça longe.
Nada
atrapalha mais este escritor do que aquela vontade súbita que bate de
procrastinar um texto, deixar para depois, a favor de qualquer outra coisa,
geralmente bem imbecil. Seja ver besteira na internet, simplesmente coçar o
saco ou fazer o balanço das contas do mês, qualquer coisa subitamente fica bem mais
atraente que colocar aquelas linhas no papel.
O
texto vira o inimigo, um fardo a ser superado, às vezes difícil demais. Aí
aquela preguiça súbita, a vontade de deixar para depois, se fortalece e ataca.
As desculpas vêm nas mais variadas formas, querendo dar justificativas para
você mesmo, como os diabinhos em cima do ombro dos desenhos animados.
Qualquer
dificuldade vira um entrave e não um desafio a ser superado. Torna-se algo
bastante cansativo. A solução: quebrar a cabeça e tentar arrumar um modo de
seguir em frente? Que nada, o canal é inventar uma desculpa para deixar pra
resolver depois. E aí vai deixando, deixando...
Minha
analogia preferida é a do boxeador que causa o clinch pra dar aquela respirada, recuperar o fôlego e a energia para
voltar pra luta. Mas nessas, fica agarrado ao adversário até o round acabar. Nessa luta não tem juiz
pra separar. E aí, nessa estratégia de ficar clinchando, a luta acaba e você
não marca nenhum ponto.
Tenho
propensão a arroubos de preguiça aguda, devo admitir. Qualquer coisa que me
faça sair da rotina, quebrar meu ritmo, arrisca causar um surto dela e aí fica
difícil de voltar pros trilhos. Aí vira um festival de clinches. Ah, hoje é dia da bandeira, amanhã eu faço isso. Sim, eu
já usei essa.
Até
recuperar o jogo de pernas, vai-se um tempo perdido em absolutamente nada. A
solução mais radical, pra me tirar mais rápido da letargia, é arranjar um Apollo
Doutrinador (porque dublagem boa é aquela que traduz até o nome do sujeito) que
me faça suar no ringue, que dê trabalho, que faça valer o espetáculo.
Antigamente
era mais duro sair do abraço da preguiça, cheguei a varar meses. Mas assim como
escrever, também peguei prática em fugir desse male. Descobri como encontrar mais
fácil os Apollos que vão me desafiar a voltar pro ringue. Claro que às vezes
ainda tenho lá minhas recaídas, mas agora sei como evitar rapidamente esse
anti-jogo e voltar logo para o combate.
Mas
que às vezes é bom ficar sem fazer nada, ah, isso é. O problema é a moderação.
Já escrever, bom, já que comecei a traçar esses paralelos com Rocky: escrever é usar o olho do tigre.
Se não der tudo, o adversário te derruba. E aí a revanche acaba ficando pra
depois. Olho do tigre, Balboa!
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