Moro
num desses prédios em São Paulo cada vez mais paranóicos com a segurança,
daquele famoso tipo que prende o morador dentro de casa, como se ele fosse o
criminoso. Juro que, se continuar nessa toda, mês que vem o condomínio instala
duas guaritas de sentinela no portão, com guardas armados de fuzis. O primeiro
transeunte que ousar tentar se aventurar pela calçada do prédio vai levar um
tiro de advertência. Se não atravessar a rua imediatamente, leva chumbo. E não
diga que não foi avisado!
Por
isso, sempre que ia para o interior, desfrutava dessa sensação maior de
liberdade, onde casas são casas e não fortalezas instransponíveis. É bom para
colocar as coisas em perspectiva e perceber que ainda existem lugares onde é
possível ter uma qualidade de vida próxima do aceitável.
Isso
até minha última visita à casa de minha avó, onde, incidentalmente, reside também
a fonte de inspiração para o protagonista desta Sitcom. Juro por Deus, não
exagerei em nada nessa história, e encontrei a casa exatamente do jeito
descrito no capítulo. Se meu pai morasse no meu prédio, provavelmente seria o
síndico e, provavelmente, já teríamos as guaritas de sentinela.
“Mas
isso é Bauru”, eu disse a ele. É uma cidade pequena (nem tanto assim, vá lá),
tranquila. “Mas tá cheia de vagabundo”, ele respondeu. Como argumentar contra
uma lógica tão impecável?
Na
mesma conversa, minha avó me conta do afilhado deles, que, claro, na vida real tem
outro nome. Tinha mais ou menos a minha idade e, quando éramos moleques, de vez
em quando fazíamos guerrinhas de elástico com papel dobrado como munição. “Parece
que agora se envolveu com drogas, judiação, era um menino tão bom”. Na mesma
hora me veio a ideia à cabeça. Com tanta “segurança”, não seria irônico se
alguém infiltrado, de confiança, fizesse um serviço interno, afanando os bens
do velho?
Alguns
anos mais tarde, está aí a ideia concretizada nesse episódio 9. Mas verdade
seja dita, não sei se alguém conseguiu expugnar a fortaleza gradeada. E pensar
que antigamente, no século passado, sua cerca batia apenas na cintura. O tempo
passa e as grades ficam mais altas.
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