terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vida e Obra de um Ninguém – Episódio 9


Moro num desses prédios em São Paulo cada vez mais paranóicos com a segurança, daquele famoso tipo que prende o morador dentro de casa, como se ele fosse o criminoso. Juro que, se continuar nessa toda, mês que vem o condomínio instala duas guaritas de sentinela no portão, com guardas armados de fuzis. O primeiro transeunte que ousar tentar se aventurar pela calçada do prédio vai levar um tiro de advertência. Se não atravessar a rua imediatamente, leva chumbo. E não diga que não foi avisado!

Por isso, sempre que ia para o interior, desfrutava dessa sensação maior de liberdade, onde casas são casas e não fortalezas instransponíveis. É bom para colocar as coisas em perspectiva e perceber que ainda existem lugares onde é possível ter uma qualidade de vida próxima do aceitável.

Isso até minha última visita à casa de minha avó, onde, incidentalmente, reside também a fonte de inspiração para o protagonista desta Sitcom. Juro por Deus, não exagerei em nada nessa história, e encontrei a casa exatamente do jeito descrito no capítulo. Se meu pai morasse no meu prédio, provavelmente seria o síndico e, provavelmente, já teríamos as guaritas de sentinela.

“Mas isso é Bauru”, eu disse a ele. É uma cidade pequena (nem tanto assim, vá lá), tranquila. “Mas tá cheia de vagabundo”, ele respondeu. Como argumentar contra uma lógica tão impecável?

Na mesma conversa, minha avó me conta do afilhado deles, que, claro, na vida real tem outro nome. Tinha mais ou menos a minha idade e, quando éramos moleques, de vez em quando fazíamos guerrinhas de elástico com papel dobrado como munição. “Parece que agora se envolveu com drogas, judiação, era um menino tão bom”. Na mesma hora me veio a ideia à cabeça. Com tanta “segurança”, não seria irônico se alguém infiltrado, de confiança, fizesse um serviço interno, afanando os bens do velho?

Alguns anos mais tarde, está aí a ideia concretizada nesse episódio 9. Mas verdade seja dita, não sei se alguém conseguiu expugnar a fortaleza gradeada. E pensar que antigamente, no século passado, sua cerca batia apenas na cintura. O tempo passa e as grades ficam mais altas.

Leia aqui o Episódio 9: Invasão de Domicílio.

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