segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Falsos documentários: Parte final – F for Fake


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(F for Fake, EUA, 1973)
86min
Direção e roteiro: Orson Welles

O último filme dirigido por Orson Welles mostra de maneira lúdica, porém incisiva, uma dupla de falsificadores famosos. Welles investiga o excêntrico falsificador de obras de arte Elmyr de Hory e seu confidente e biógrafo, Clifford Irving, cuja biografia do magnata da mídia Howard Hughes, surgiu como a maior falsificação da década de 70.

Welles utiliza-se da estética documental, narração em over, depoimentos dos envolvidos, para, a todo momento, confundir o espectador. No início do filme, Welles aparece dizendo que o que ele mostrará na próxima hora é a absoluta verdade. Mas, fora o fato do longa ter mais de 60 minutos, Orson nos lembra no início do filme de que ele é um prestidigitador, um mestre na arte da enganação, e, a partir daí, ele passa a brincar com esse conceito do que é verdadeiro e do que é falso a todo o momento.

Nos é apresentada a história de Elmyr, que seria o maior falsificador de arte de todos os tempos. O diretor nos conta detalhes de sua vida e de sua carreira, intercalando depoimentos do próprio Elmyr. A grande questão é: seria Elmyr uma falsificação de Welles? Teria ele realmente existido ou ao menos ele teria sido baseado em alguém? É difícil para quem não pertence ao mundo das artes saber, pois sua história é tão bem fundamentada que é fácil crer em sua existência.

Depois Orson nos apresenta a história do parceiro de Elmyr, seu biógrafo, o escritor Clifford Irving, que teria sido ele próprio também um falsificador, enganando toda a América com uma falsa biografia sobre o magnata da imprensa, o recluso Howard Hughes. Irving nunca teria se encontrado com Hughes, e, portanto, a biografia que ele escreveu é uma fraude. Welles nos mostra várias teorias sobre o golpe de Irving, mas nunca esclarece a verdade.

O próprio diretor se compara a estes dois falsificadores. Em determinado momento, ele “interrompe” o filme para contar sua história, através de fotografias, trechos de filmes e depoimentos de gente que trabalhou com ele, de como começou no meio artístico como pintor, passando pelo teatro, e sua primeira grande falsificação, a transposição da obra A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, para o rádio, onde ele deixou pouco mais de um milhão de ouvintes apavorados achando que o falso noticiário (formato encontrado por ele para transpor a obra) era real.

Após pedir desculpas publicamente, Welles foi convidado para trabalhar em Hollywood, onde realizou Cidadão Kane, seu primeiro filme, considerado por muitos como o melhor longa-metragem de todos os tempos. Ironicamente, a história de Cidadão Kane se baseia na vida de Howard Hughes, ligando o próprio Orson Welles a Clifford Irving, que pode ou não ser criação sua.

No final, ainda há a história de Picasso, contada com maestria pelo próprio Orson, ligando o artista a Elmyr. A história é tão boa que quase nos faz querer acreditar que seja verdade, porém, este caso é contado depois de uma hora de filme.... Assim, Orson Welles deixa como legado uma obra-prima que nos demonstra com audácia a natureza ilusória da autoria e da verdade.

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