sexta-feira, 1 de março de 2013

Adeus, videolocadora


Do outro lado da rua aqui de casa tinha uma locadora. Tinha, do verbo “já era”. Há algumas semanas ela fechou as portas em definitivo e atualmente a casa em que ela ficava está sendo demolida. Essa era uma das últimas aqui do bairro a resistir bravamente. Menos uma. Faltam umas três ou quatro.

Pra dizer a verdade, nem me lembro de quando foi a última vez que entrei lá. Certamente alguns bons anos, fácil. Qual o último DVD que aluguei lá, então, não me recordo de jeito nenhum. A pirataria, seja nos DVDs de camelô, seja em casa, com os torrents, matou a cultura da locadora. Assim como o MP3 aniquilou a cultura do álbum e as lojas de discos.

Não há como concorrer, a internet é a maior videolocadora do universo conhecido. Com um acervo beirando o infinito, você fica com o filme pelo tempo que quiser e o precinho é bem camarada: de graça. Quem não se seduziria com isso? Com uma internet de boa velocidade, pode ser até mais rápido baixar o filme do que ir buscá-lo na locadora.

Eu entrei nessa onda de cabeça, não nego, e estou adorando. Tento manter uma singela meta de assistir um filme por dia, seja em casa ou no cinema. E a locadora universal me ajuda a chegar perto dessa média. Tendo tudo à disposição e sem pagar nada, assisti muita coisa que normalmente não me arriscaria. Se eu não gostar, é só apagar e pronto, sem problema.

A locadora deixava a pessoa mais seletiva. Fazia ir só na boa, arriscar menos, afinal, era difícil apostar seu suado dinheirinho numa bomba em potencial. Pra garimpar alguma coisa boa era preciso um pouco mais de atenção, informação, ler a contracapa, conhecer os realizadores. E mesmo assim, às vezes, ainda saía pela culatra...

Quando estudava cinema, próximo à faculdade havia uma locadora que tinha uma ótima promoção: sete filmes (de catálogo) por sete dias a sete reais. Virei sócio na hora, assim como alguns amigos meus. Essa foi outra época que vi filme pra caramba. Íamos em dois ou três, cada um pegava seus sete filmes e depois promovíamos um troca-troca (cinematográfico!).

Vi um monte de coisa boa. Me lembro que ela tinha a melhor seção de terror que já vira numa locadora da cidade. Também tinha uma excelente prateleira de clássicos e uma respeitável de ação. De filmes do Werner Herzog a Fome Animal, vi de tudo. Incluindo muitas porcarias também, mas isso faz parte do jogo.

Depois que me formei, nunca mais voltei lá. Longe demais de casa. Imagino que já deva ter seguido o mesmo destino de outras locadoras da cidade, incluindo a do lado aqui de casa. Se é o caso, presto aqui minhas homenagens a ela. Teve um papel fundamental em minha formação cinéfila.

Por mais que tenha boas memórias dessa época, contudo, não fico particularmente nostálgico quanto a isso. Os tempos mudam. Às vezes, no caso do MP3, para pior. Mas no dos filmes, pra melhor. Minha antiga locadora fechou e está virando uma pilha de entulho. A nova está dentro de casa, à minha disposição 24 horas por dia. O acervo, limitado apenas por minha imaginação. Hora de ver o filme do dia.

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