quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Os tortuosos caminhos da leitura


Que o brasileiro médio não tem o hábito da leitura, não é nenhuma novidade. Se isso é sabido, por que fui entrar nessa barca furada? Afinal, não serão os esquimós a ler os meus escritos. Sinceramente, não sei. Gosto de escrever, simples assim, que outra coisa estaria fazendo, não fosse isso? E nessas, arco com as consequências da minha escolha.

Assim como gosto de escrever, gosto igualmente, senão mais, de ler. Leio muito e um pouco de tudo. Livros, quadrinhos e até bula de remédio se não tiver outra opção e mais nada pra fazer. Leio qualquer coisa de qualquer gênero. Claro que tenho minhas preferências pessoais, mas nunca nego nenhum tipo de material que caia em minhas mãos. Primeiro eu leio, depois julgo se valeu o tempo investido ou não.

Começou com os quadrinhos. Maurício de Souza. Aliás, muita gente que hoje tem da leitura um hábito, deve muito a esse senhor por incentivar os primeiros passos. Depois, a evolução natural, as HQs de super-heróis. Daí para os livros foi um pulo. Se a história é boa, não interessa se tem belas figuras acompanhando ou não.

Tudo bem, quadrinhos são um hobbie, e nem todos têm condições financeiras de estimulá-lo ou mantê-lo. Nem todos têm acesso ou interesse a essa primeira porta de entrada. É aí que entra a escola. E é aí que ela faz besteira.

Até começa bem, com os infanto-juvenis. Os livros do Pedro Bandeira, clima de aventura, para um moleque de 9, 10 anos, aquilo é o máximo, prende a atenção. Olha só, livros podem ser tão divertidos quanto uma partida de futebol.

E aí você entra no ginásio e parecem fazer questão de demonstrar que aquelas primeiras impressões foram errôneas. É nesse estágio, geralmente, e principalmente no ensino médio, o curso preparatório para o vestibular, que entram os grandes clássicos da literatura brasileira.

De quem foi a brilhante ideia de forçar a leitura de Machado de Assis para um bando de adolescentes? Claro, vamos empurrar-lhes o Machadão goela abaixo, é lógico que eles vão gostar da sua narrativa e vão querer acompanhar suas obras completas. Óbvio que vão se identificar com o enredo, os personagens, as situações atuais, tão reflexivas de suas próprias vidas. Preferirão gastar seu tempo nisso e não querendo desesperadamente perder o cabaço.

Não seria melhor um equivalente adolescente do Pedro Bandeira, para primeiro chamar atenção, “olha só, isso aqui é legal”, e depois, bem depois, ir apresentando os medalhões em doses homeopáticas? Criar o gosto para depois refiná-lo? Sei lá, eu não comecei a ouvir rock por Pink Floyd. Se tivesse, provavelmente não teria continuado.

Nessa época eu já lia bastante, graças à minha paixão pelos quadrinhos. Se dependesse das leituras obrigatórias do colégio, teria me transformado em mais um adolescente cabeça oca que considera a literatura coisa de nerd (com o sentido pejorativo que eles insistiam em conferir ao termo).

E nem dá pra contra-argumentar quando te forçam a ler um livro como Macunaíma. Essa porcaria me marcou tanto negativamente que eu não consigo esquecer essa desgraça, não consigo apagá-la da cabeça, ela me segue eternamente, ao lado de desgraças e rejeições marcantes.

Qual o valor dessa merda? Alguém consegue me explicar? De preferência, sem usar chavões, porque esses eu já ouvi todos. Isso é o melhor que nossa literatura tem para oferecer? Acho que não.

Aí você força um adolescente, na fase rebelde, a ler uma história besta pra caralho, cada página parece demorar um século para passar. Não é a toa que ele dificilmente vá pegar num livro por conta própria... E outra: por que quando Mário de Andrade escreve um texto sem pontuação ele é um gênio e quando o adolescente fazia isso numa redação ele era uma besta? Novo desserviço, valeu, grande Mário!

Não digo que a maioria desses escritores não tenha seus méritos, provavelmente eles os tenham sim e mereçam toda a fama e reconhecimento adquiridos. Mas eu não sei quais são esses méritos porque o trauma foi tão grande que nunca mais os li. Se tivessem pegado leve, aos poucos, na maciota, provavelmente hoje já teria lido todos os clássicos. Da forma que fizeram, hoje resisto a eles como se fossem injeções. Preconceito bobo da minha parte? Claro, mas também produto da minha criação.

Por isso não sinto vergonha nenhuma em dizer que se hoje leio de tudo e constantemente, se não sou um brasileiro médio em se tratando de hábitos de leitura, isso se deve em grande parte ao Cebolinha e ao Batman, não a Machado de Assis e Mário de Andrade. Engole essa, Machadão.

2 comentários:

  1. Carlotas, não seria Pedro Bandeira ao invés de Manuel Bandeira, que é o poeta modernista?

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    1. Grande garoto, tem toda razão. Pra variar, eu sempre me confundo com esses nomes parecidos. Já tá corrigido. Valeu.

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