segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Chacoalhando a árvore errada


As coisas nunca estão no lugar onde a gente procura. Isso é deveras irritante, mas às vezes você passa horas procurando por aquele isqueiro (ou qualquer outra coisa), que você sabe que tem, dentro do armário quando na realidade ele estava todo aquele tempo no fundo de uma gaveta.

E não tem ninguém pra te indicar se está quente ou frio. O máximo que você pode fazer é arrumar suas tranqueiras e torcer para sua memória não voltar a lhe pregar peças.

Eu me considero um cara organizado, quase ao ponto Monica Geller de neurose. Portanto, sei exatamente onde meu isqueiro está. E caso minha memória queira me trair, como vira e mexe acontece, também sei exatamente onde está a caixinha de fósforos que guardo para emergências.

Infelizmente, toda organização do mundo de nada adianta contra a criação de textos. Às vezes você passa semanas, até meses chacoalhando a porra da árvore errada. Mesmo quando tudo que cai são folhas secas e mortas, insiste, pensando que se forçar mais, aquela ideia de ouro vai despencar lá do alto direto no seu colo.

Mesmo assim insiste, teima, chacoalha com toda a força. Cansa os braços (que na verdade é o cérebro, casa não esteja prestando atenção na analogia) e se desgasta todo em vão. Mas onde diabos está o que procuro? Essa é a pergunta frequente. Eu sabia que tinha, mas não sei mais onde devo procurar. Outro pensamento frequente.

Não há mapas do tesouro. O X nem sempre indica o lugar. Por mais que você se organize, crie planos de contingência, criatividade e boas ideias não podem ser compartimentalizadas, não cabem em gavetas. É mais parecido com aquele amigo que todo mundo tinha quando criança, que sempre ia se esconder fora dos limites combinados na hora do Gato Mia. É chato, você fica puto, mas eventualmente acha o desgraçado.

Também não há como prever quando isso irá acontecer. Depende da sua disposição em procurar, da sua teimosia em chacoalhar a mesma árvore. Se você não cansou ainda, passa pra próxima. Às vezes mal encosta nela e cai logo a droga de um coco na sua cabeça!

Esse tipo de coisa nunca deixa de me surpreender. Tendo a racionalizar essa espécie de fenômeno. Quando ele acontece, meio que entro em parafuso, não por confusão, mas por pura surpresa. Do tipo de dar um tapinha na testa e exclamar “mas por que não pensei nisso antes? É tão óbvio!”. Só que até meio segundo atrás não era. Isso é o fascinante no processo criativo. A imprevisibilidade.

Me aconteceu algo do gênero dias atrás. Tentando há meses desenvolver uma ideia. Não achava o ângulo certo, o que ia pro papel ficava ruim. Meu computador se revoltou e apagou o negócio. Perdido eternamente em meio aos bytes deletados. Foi até um favor. Continuei quebrando a cabeça tentando achar A abordagem (assim, em caixa alta mesmo) e nada. Só folhas secas.

Outro dia, nem lembro o que estava fazendo, provavelmente algo tão besta quanto cortar as unhas e pou! Vem o coco bem no meio da testa. Uma outra ideia que eu tinha há tempos para um outro esquema completamente diferente, mas que tinha deixado meio de lado. É óbvio que encaixa no que eu queria como se fosse pensado pra isso. Por que eu não pensei nisso antes?

Está fluindo que é uma beleza. Pra essa ideia, sei onde procurar seus elementos. Já estão todos organizados à melhor maneira Monica Geller de ser (se não é um ângulo reto, é um ângulo torto!). Mais um tantinho de nada e já termino.

Depois vou chacoalhar alguma outra árvore pra ver o que cai.

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