segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Casa das mentiras




– Cê chegou tarde.
– Tava trabalhando.
– Sei...
– O que cê quis dizer com isso?
– Nada.
– Senti uma ironia nesse “sei”.
– Cê que tá achando coisa que não existe. Eu só sei falar desse jeito.
– Sei...
– Agora vai querer dar o troco, é?
– Como assim?
– Não se faz de engraçadinho, cê sabe do que eu tô falando.
– Juro que não tive intenção nenhuma.
– Eu acredito.
– De verdade ou tá sendo irônica?
– Qual você acha?
– Vou chutar “de verdade”.
– Então pronto.
– Cê ficou aqui o dia todo?
– E pra onde mais eu iria?
– Ficou aqui sozinha?
– Claro que sim.
– Não chamou nenhuma amiga?
– Cê sabe que eu não tenho nenhuma.
– Por que será?
– Quê?
– Nada.
– Vou fingir que não ouvi.
– Obrigado. E também não veio nenhum amigo?
– Pra quê esse interrogatório agora? Cê sabe que eu não conheço ninguém por aqui.
– Aquela gravata não é minha.
– Que gravata?
– Aquela listrada ali em cima do braço da poltrona.
– Cê deve ter largado ela lá.
– Eu não uso gravata cafona que nem essa. Não vai querer me dizer que é sua.
– ...
– Acabou o estoque de mentiras?
– Eu te odeio!
– Até que enfim alguma verdade nessa casa...

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